ela e os quatro meses.

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Quatro meses. Quatro longos e dolorosos meses em que Momo está naquela cama de hospital. As flores no vaso perto da janela eram substituídas a cada semana, pois murchavam e ninguém tinha ânimo nenhum para rega-lás.

Eu estava sentada ao lado de Momo, raramente optava por vir aqui e ficar ao seu lado, escutando o bip do aparelho e o som do ar-condicionado.

Era setembro e o outono deixava tudo mais morto, as árvores que podiam ser vistas pela janela do quarto do hospital me deixavam triste. Porque o mundo de Momo estava tão sem cor como as coisas lá fora.

Os médicos deixaram uma ponta de esperança soar em nossos corações desde que a japonesa chegou aqui. Ela estava frágil, sem nenhum tipo de vitamina e estava machucada demais. O tiro não havia acertado nenhum órgão e o médico disse que logo ela se recuperaria.

- Você quer comer alguma coisa? - Ouvi a voz da taiwanesa no quarto silêncioso.

- Jantei antes de vim para cá. Como você está? - Perguntei. A mulher caminhou até mim e se sentou na poltrona ao meu lado, nós duas estávamos com os olhos em Momo.

- Bom, depois de visitar meus pais fiquei melhor e então eu voltei, Momo levou um tiro, nada de notícias de Sana, vocês se meteram com capangas do Akira... bem agitado né. - Disse rindo fraco, balancei a cabeça em concordância.

- Bem agitado mesmo.

- Porque vem aqui? - Perguntou depois de um tempo, virou o rosto em minha direção. - Digo... você e Momo se odiavam, certo? - Pude ver sua leve maquiagem, seus olhos sem brilho algum. A mulher usava uma roupa elegante e como sempre estava linda.

- Sinceramente eu não sei... mas sinto que deveria estar aqui. - Disse baixinho, Tzuyu colocou a mão direita em meu ombro fazendo eu olhar para sua mão.

- Me conte a sua versão.

- Ela estava deitada no chão, tinha tanto sangue Tzu, muito sangue mesmo... - Fechei os olhos imaginando a cena que vinha me aterrorizando até hoje. - E ela disse pra mim que não queria morrer e me encarou, eu pude ver o medo em seus olhos, pude sentir sua tensão, eu senti que ela estava se desculpando por tudo o que fez comigo.

- Eu sinto muito, isso é doloroso pra você né? - Perguntou acariciando meu ombro. Uma lágrima solitária desceu pelo meu rosto e eu logo tratei de secar.

- Eu sinto tanto por Momo, queria ter sido uma pessoa melhor com ela mesmo depois de tudo. - Tzuyu me abraçou e me deixou chorar em seus braços.

Eu odiava o sentimento de peso sobre mim, eu só queria que as coisas voltassem ao normal. Ver Momo na casa de Dahyun me chamando para assistir um filme ou me dizendo que sobrou pizza no microondas.

Me dói mais ainda saber que não dei nenhuma chance para ela, não dei chance a nossa amizade.

Me sentia desgastada de pensar que se caso ela não acordasse nunca mais, eu nunca poderia me desculpar por ser infantil e nunca me acertar com ela.

- Chaeyoungie, Momo amaria saber que você se sente assim, aposto que vocês seriam grandes amigas. - Disse Tzuyu com uma voz compreensível. Saí de seu abraço e me recompus.

- Obrigada Tzu. - Sorri e ela retribuiu. Encarei meu relógio vendo que já se passavam das onze da noite.

- Acho que você tem que ir agora.

- É eu tenho. - Encarei a japonesa na cama mais uma vez e me despedi silênciosamente, peguei minha bolsa e caminhei até a porta parando na mesma.

- Até mais Son. - Acenou para mim com um sorriso meio triste. A encarei uma última vez antes de deixar o quarto branco.

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