16. Trato.

2.6K 280 351
                                    

Depois de tomar banho vou para cantina na companhia de Rizos, que me cruzou no banheiro. Enquanto esperamos com nossos tabuleiros, ela me enche de tagarelice.

Rizos tem tentado se aproximar de mim, mas depois da madrugada de hoje e do que aconteceu com meu escorpião no isolamento eu não consigo... Não consigo tira-la da minha cabeça. Tenho saudades dela o tempo todo. Do seu corpo, do seu cheiro, da sua alma negra, como o ar que eu respiro.

Sentamos a mesa com as outras meninas e noto que Zulema e Saray estão desaparecidas. Eu olho ao redor tentando não ser notada, e as vejo do outro lado do refeitório, em uma mesa isolada.

As colegas em minha volta, naturalmente começam a conversar, mas minha cabeça está completamente em outro lugar, ainda perdida nos momentos dessa noite. Rizos percebe que estou longe e me puxa pra realidade.

R: Maca, o que que você tanto olha? - Pergunta desconfiada.

M: N-nada, eu só estava pensando em uma coisa. - Digo constrangida

Elas seguem falando de algo que eu não estou nem um pouco interessada. Então, em um ato de impulso e puro masoquismo, me levanto da mesa e apanho meu tabuleiro.

M: Eu vou comer com as meninas, preciso falar uma coisa importante com elas. - Digo as outras que olham confusa com meu movimento brusco.

Rizos me encara de cara fechada, porém sigo andando confiante até a mesa de Saray e Zulema.

Saray, ao me ver se aproximar, faz uma cara preocupada e um gesto de não com a cabeça.
Não por quê? Quem Saray pensa que é pra se envolver no nosso "relacionamento". Ela não sabe as coisas que a gente faz em momentos que são só nossos.

Sento ao lado da minha Zule, que estava de costas, a mesma se assusta com minha presença. Dou um leve e rápido beijo em sua bochecha.

M: acordou melhor? -Sorrio gentilmente pra ela.

Z: Macarena agora não. Eu quero ficar sozinha, mais tarde conversamos. - Respira fundo.

M: Tudo bem, eu fico quietinha aqui, vocês não vão nem notar minha presença. -Brinco. Saray olha tensa, prevendo o que aconteceria.

Z: Você pode respeitar meu espaço? Que inferno! Não se tem privacidade nessa merda. - Ela bufa muito brava e sai da mesa. Jogando brutalmente o tabuleiro contra a lata de lixo.

Tento me levantar para segui-la, mas sou impedida.

S: Não, não, não, pelo amor de Deus! Não vai atrás dela. É suicídio. - Saray me segura pelo braço.

M: Mas eu não fiz nada, cara! Porra... - Bato as mãos na mesa com raiva, enxendo meus olhos de lágrimas.

S: Maca, não conta pra ela que eu te contei, por favor, mas ela está assim porque hoje era pra ser o aniversário da Fátima. Zulema não sabe administrar seus sentimentos, e acaba sendo rude com todo mundo. Mas ela tá sofrendo. Dá espaço pra ela. Ela não faz isso porque te odeia. Ela só não sabe se expressar. - Saray tenta me acalmar.

M: Mas eu quero ajudar, Saray. Eu não quero que ela carregue esse peso nas costas sozinha. Ela não precisa fazer isso. - Respondo revoltada.

S: Você está apaixonada por ela, não é? - Ri, maliciosa.

M: Ah, cala boca! - Ameaço me levantar.

S: Não, loira. Espera. Eu quero te ajudar. - Ela me puxa pelo braço novamente.

S: Primero eu quero dizer que você vai ter uma longa caminhada pela frente. Durante todos esses anos aqui eu já vi várias minas gamar na Zulema, mas nenhuma teve sucesso. Ela não dá mole pra ninguém, mas se você está mesmo disposta a se arriscar, boa sorte, e não vá dizer que eu não avisei. - Sinto uma pontada de ciúmes e medo.

S: Segundo, que eu saiba ela é hetero, todos os relacionamentos que ela teve foi com homens. E é aquele ditado: o principal erro da sapatão é se apaixonar por uma hetero. E isso é verdade, acredite em mim!

M: Saray... - Balanço a cabeça e cruzo os braços me encostando na cadeira. Vai ser mais difícil do que eu imaginava.

S: Mas assim, loirinha, se você quiser eu te ajudo. Eu só vou querer algo em troca. - Ela tenta negociar, e eu me envergonho por estar seriamente cogitando a possibilidade de ouvir.

M: Eu sabia! - Sorrio irônica, mas permito que ela faça a proposta.

S: Eu quero que você se afaste de Rizos. -Diz olhando nos meus olhos.

M: Meu Deus, você é louca. Da licença. - Me revolto, pois achei a proposta muito abusiva. Levanto-me da cadeira e sigo em direção a saída.

S: Não é só por mim. É pela Rizos também. E PELA ZULE. Ela morre de ciúmes dela. - Saray expõe a amiga antes que eu possa ir embora, me fazendo petrificar.

M: Do que você está falando? - Pergunto incrédula depois que Saray se põe em minha frente.

S: Meu Deus, eu sou muito lerda. Como que eu não percebi a tensão sexual em vocês antes? Você toda agoniada me perguntando dela o dia inteiro quando ela ficou internada. Ela toda enciumada reclamando de tudo no dia do cinema. Vocês dormindo de conchinha hoje... - Ela ri indignada.

S: Vocês se amam!

Por um segundo fico imóvel e pálida ao ouvir em voz alta a verdade tão descarada na minha cara. Me sinto exposta e culpada ao mesmo tempo. O que as pessoas devem pensar de mim que me apaixonei pelo minha maior inimiga? Por quem só me fez mal. Por quem só me trata mal...

S: Hey, tranquila! A gente não escolhe por quem a gente se apaixona. Eu não quero te julgar. Eu só quero fazer um acordo. - Ela tenta me tranquilizar depois de perceber minha cara de espanto.

M: Mas Saray, a sua proposta é indecente, você não tem o direito de descidir com quem a Rizos tem contato, por causa dessa sua paixão doentia. - Retruco.

S: Maca, eu só quero que você pare de dar esperanças pra Rizos. Até porque eu não quero que ela se machuque. E nem a Zule. Se você está gostando da Zulema, tem que batalhar e ir atrás, e não ficar usando a Rizos de válvula de escape. - Joga na minha cara.

M: Eu não estou usando ninguém de válvula de escape! - Aumento o tom da voz, brava.

S: Você acha que eu não sei que vocês treparam no banheiro?

M: Quê? C-como? - Pergunto indignada.

S: Aqui todo mundo sabe de tudo, você tem que ficar mais ligada nas coisas, loirinha, acorda! Até parece que é seu primeiro ano na cadeia. Está todo mundo aí falando que vocês estão juntas de novo. - Ela me alerta.

M: A Zulema sabe? - Meu coração dispara diante de tanta informação.

S: Claro! Todo mundo...

Sinto um pouco de tontura. Eu não queria que ela descobrisse, não daquele jeito. Eu sei que eu não devo satisfações a ela, mas eu gostaria que ela soubesse que eu só transei com a Rizos pelo estado que ela me deixou, por pura carência, por estar necessitando dela e não dá Rizos.

S: Temos um trato? - Saray pergunta curiosa.

Respiro fundo.

M: Eu vou conversar com a Rizos. - Respondo cabisbaixa.

S: Essa é minha garota! - Levanta a mão em high five a minha espera, mas eu saio deixando-a totalmente no vácuo.

Me apaixonei pela minha inimiga - ZURENA.Onde histórias criam vida. Descubra agora