6. Advertência.

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Que ódio. Não acredito que eu acabei de sair 3 meses dentro daquele maldito isolamento e já tenho que voltar de novo.

Caminhamos arrastadas pelo guarda até a sala do Palácios, que parece não acreditar na cena que está vendo quando observa nossas roupas completamente sujas.

P: Deixem elas comigo, obrigado. -Ele avisa o guarda jogando suas chaves do carro na mesa, pois acabava de chegar no trabalho.

G: Mas senhor, essas mulheres estavam fazendo o maior furdunço na estufa ao invés de cumprirem suas tarefas. Eu devo levá-las para o isolamento imediatamente. - O funcionário retruca.

P: Você deve se calar e acatar minhas ordens imediatamente, isso sim. Deixa elas comigo que eu vou resolver a situação. Ou agora eu não sou mais o diretor dessa prisão e não estou sabendo? - Zulema ri com a resposta firme de Palácios.

Eu bato levemente em seu braço e faço uma careta mandando ela ficar quieta para não sobrar para ela. O guarda olha friamente a Palácios antes de ir embora.

P: Mas que porra está acontecendo com vocês? -Agora ele se altera. Tendo me explicar mas sou interrompida.

P: O primeiro dia do programa de reeducação e vocês já estão tentando se matar novamente? Quando que essa vingança de vocês vai acabar? Só quando alguma finalmente morrer?

Z: hmm, talvez...

M: Cala boca! - respondo ela.

M: Palácios, eu estou extremamente envergonhada. A gente não estava tentando se matar. Eu sei que pelo nosso histórico é um pouco difícil de acreditar, mas a verdade é que estávamos carregando um saco muito pesado, ele rompeu e nos sujou. O que o guarda viu foi a gente tentando voltar a terra para dentro do saco. Mas claro que você não vai acreditar. É a palavra de um superior contra a nossa, meras presidiárias. - Minto fazendo cara de coitada e incrivelmente Palácios parece acreditar. Ele respira fundo e senta na cadeira.

P: Olha Macarena, estar diante dessa mesa agora é uma carga muito maior do que eu imaginava. Eu estou cheio de problemas para resolver. Eu estou tentando tornar isso aqui um lugar melhor mas sem a colaboração de vocês será impossível. Eu não tenho tempo a perder com essas besteiras que acontecem diariamente entre vocês. Então por favor, parem de se meter em encrenca, senão eu vou ter que pedir para os guardas começarem a interferir e deixá-los fazerem o que bem entenderem. E acredito que essa alternativa será pior para todos. - Eu e Zulema escutamos o discurso caladas.

P: Vocês vão levar uma advertência, se cometerem mais uma inflação, vão passar 3 dias no isolamento. - Ele finaliza sério.
...

Saímos de sua sala em direcção ao banheiro para nós limpar.

Z: Advertência, hahah, isso agora é o que? Primário? - Ela me pergunta irônica.

M: Você deveria agradecer pela minha actuação, e pela inocência de Palácios. - Respondo séria. Será que essa mulher não consegue ser grata por nada?

Z: Não se glorifique, loirinha. Até a Tere consegue enganar Palácios. - Ela ri debochando.
...

Mais tarde, na hora do almoço, sigo para cantina. Rizos está atrás de mim na fila para apanhar comida. Nos cumprimentamos e ela resolve sentar comigo na mesa. Não tenho dificuldade de encontrar minha rainha árabe de preto no meio daquele multidão amarela. Enquanto Rizos puxa assunto comigo, eu só consigo olhar um pouco mais a frente Zulema cortando sua maçã. Ela está sentada com Saray, e parece se divertir com a história que a amiga está contando. Ela é como uma barra de ferro luminosa e eu sou um pobre pedaço de imã, que não consegue desviar do seu magnésio. Coro veementemente quando vejo que ela olhou de volta pra mim por um instante. Me viro para Rizos e sorrio como se estivesse interessada no que ela está falando.

R: Porra, Maca, seu sorriso é muito lindo, eu sinto muita falta dele. - Sinto verdade em suas palavras.

M: Rizos... - Somos interrompidas por uma detenta esquisita. Ela tem várias tatuagens, cabelo curtinho, e um corpo musculoso.

D: Hey, loira. Você quer me fazer companhia? - Ela me pergunta.

M: Desculpa? - Finjo que não entendi o que ela perguntou, incrédula com a audácia.

D: Eu perguntei se você quer me fazer companhia na minha mesa, gostosa. - Ela fala com um tom um pouco mais alto, e abaixa a cabeça na direcção do meu rosto.

Rizos intervém, dá um empurrão na moça e ameaça.

R: Não encosta na minha namorada! - Percebo que essa movimentação toda chamou atenção de algumas presas, inclusive Zulema.

M: Rizos, não sou sua namorada. E você, quem quer que seja, some da minha mesa e me deixa almoçar em paz, antes que eu fique irritada. - Tento manter a postura, afinal, sou uma das detentas mais respeitadas da cadeia.

A detenta esquisita olha para Rizos com raiva. Mas antes de ir, vira-se para mim, lambe os lábios inferior e diz.

D: Nos vemos por aí, loirinha.

Rizos ameaça ir para cima dela novamente, mas eu a seguro.

M: Hey, para! Eu não preciso que você me defenda. E para de sair por aí dizendo que estamos juntas. A gente terminou. - Bufo, irritada.

Até quando as pessoas iam me enxergar como uma criança indefesa? A única pessoa nessa vida que me tratou sem pena foi Zulema. Ela me tornou confiante e segura. Com ela eu sinto que eu sou capaz de dominar o mundo. Ela me incentiva a querer ser melhor.

R: Desculpa, Maca. Eu só queria te defender. Eu sei que não estamos mais juntas, mas se você precisar mentir para que nenhuma sapatão tarada dê encima de você, pode contar comigo. Não vou deixar ninguém te machucar. - Ela responde melancólica.

...

A noite quando volto para cela, vejo que Zulema está concentrada na sua cama lendo um livro. Eu só consigo pensar que ela é linda. Tão maldita e linda. Quando sente minha presença no ambiente ela olha para mim brevemente, e depois me ignora voltando para sua leitura. Eu deito na cama virada pro seu lado. Eu poderia me acostumar facilmente com essa imagem todos os dias antes de dormir. Com ela aqui na mesma cela que eu sei que posso dormir tranquila, pois me sinto totalmente protegida.

Me apaixonei pela minha inimiga - ZURENA.Onde histórias criam vida. Descubra agora