9. Resgate.

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Meu olhos estão inundados em lágrimas. Minha garganta agora tem um nó. Sinto muita tensão nas costas. Levanto no meio daquela multidão agitada e corro pelos corredores, sou advertida por alguns guardas, mas não dou a mínima, sigo correndo. Me custa respirar.

Minha cabeça está girando, como seu eu tivesse em um pesadelo terrível no qual eu não consigo acordar, tudo ao meu redor parece vacilar. Apresento-me sem fôlego na sala de Palacios, fazendo o mesmo assustar.

M: Palacios, pelo amor Deus, aconteceu um equivoco. -Digo aos prantos, com meu coração na boca.

P: Mas o que está acontecendo. Como assim você estava correndo e ninguém te impediu? Cadê os guardas dessa prisão? - Ele pergunta revoltado.

M: Zulema...- Minhas mãos estão tremendo e eu estou suando frio.

P: O que tem Zulema? -Ele pergunta intrigado.

M: Levaram ela para o isolamento... - Respiro pesadamente, tentando recuperar o fôlego para conseguir explicar.

P: Disso sei eu, ela desconfigurou o rosto de uma detenta. Essa mulher está fora de si. Eu estou pensando seriamente em manda-la de volta para Cruz del Sur, porque não preciso de mais um problema aqui dentro.

M: Não, Palacios, por favor, não faz isso, pelo amor de Deus. -Digo histérica com essa possibilidade.

M: Ela bateu naquela presa para me defender. Hoje de manhã, enquanto eu tomava banho, aquela mulher tentou me estuprar. A minha sorte foi que Zulema chegou a tempo do pior acontecer e me salvou. - Respondo desesperada aos prantos.

P: Isso eu não sabia. Mas independente, violência não resolve com violência. Ela vai ficar no isolamento por um tempo.

M: Ah, então diz isso para os desgraçados dos novos guardas que você arrumou para essa caverna. Aqueles miseráveis espancaram a Zulema para levar ela pro isolamento. A Saray tentou defende-la e agora está lá embaixo toda machucada. Você precisa tirar ela de lá para ver se ela está bem, ela pode está morrendo nesse momento. - Choro quando a última frase sai da minha boca. Estou surtando.

P: Macarena, calma! Onde estão os guardas? - Ele tenta me tranquilizar.

M: Estão intervindo um protesto das detentas na cantina. - Respondo baixo com meu peito subindo para cima e para baixo por insuficiência cardíaca.

P: Puta que pariu. - Ele murmura e sai andando rápido em direcção a porta.

M: ESPERA, E ZULEMA? - Grito. Mas não tenho resposta.

...

Detentas: QUEREMOS JUSTIÇA! QUEREMOS JUSTIÇA!...

P: HEY, TRANQUILAS. TODAS PARA O CHÃO. O QUE ESTÁ ACONTECENDO?

S: Aí, meninas, o convidado ilustre do circo chegou. Pois ele deve achar que aqui embaixo tem um bando de palhaças! - Saray toma voz.

S: Você inicia o seu cargo dizendo que essa porra vai passar por mudanças, que vamos viver em um ambiente melhor, mas segue tratando a gente igual bicho. Como se fossemos um bando de selvagens. - A cigana se revolta enquanto alguns guardas estão segurando as presas mais agitadas e outros defendendo os portões.

Inicia-se um longo procedimento de acordo entre eles. Acordos que nós já estávamos fartas. Eles sempre falavam em mudança, mas nunca mudavam nada.

...

Quando Palacios saiu e me deixou sozinha em sua sala. Eu abusei da confiança que ele tinha em mim e comecei a revirar suas gavetas a procura das chaves das solitárias.

Perder o respeito de Palacios aqui dentro poderia ser muito prejudicial, mas eu não consigo pensar em nada naquele momento. Sempre fui impulsiva, e quando se trata da minha árabe eu sou brutal.

Encontro as chaves na última gaveta, dentro de uma caixa. Eu sei bem que é aquela porque eu já estive muito tempo olhando para fechadura.

Sigo a caminho do isolamento desconfiada e com medo de ser pega por algum guarda, mas para minha sorte estão todos ocupados no alvoroço e ninguém deu minha falta.

No meio do meu ataque de pânico em perder Zulema penso em todo o nosso "ódio". De todas as tentativas mal sucedidas de nós matar. Que da minha parte nunca foi concebida porque eu simplesmente sou incapaz. Mata-la um dia seria um ato de puro masoquismo, pois sem ela me sinto afundando, e toda a consequência me destruiria.

Lembro-me em como eu senti uma adrenalina entrando na minhas veias quando escutei seu nome pela primeira vez após o coma. Em como meu coração ressuscitou quando soube que ela me tirou daquela máquina de lavar. Em quando ficamos tão perto com nossas risadas sincronizadas na estufa e me arrependo de não te-la beijado e rolado nossos corpos na terra. Me condeno por não ter feito ela minha hoje de manhã, e suplico aos deuses por só mais uma oportunidade.

Chego ao local e desesperada grito seu nome no corredor da morte. Aquele lugar cheira mal, é húmido, tem mosquitos por toda parte. Somente duas celas estão ocupadas. Vou na sorte na primeira, e sem querer acabo liberando uma presidiária barra pesada que me agradece, mas eu não me importo. Meu escorpião está no cómodo ao lado.

Em frente a porta eu estou tão aflita que deixo a chave cair das minhas mãos varias vezes antes de conseguir abrir-la. Quando finalmente consigo, vejo a minha pequena encolhida em posição fetal no canto da cama.

M: Zulema! -Sussurro desesperada enquanto avanço meu corpo apressada ao seu lado.

Ela não me responde. Seguro seu rosto, com toda delicadeza do mundo, e a viro de frente para mim. Percebo que ele está toda ferida, tem hematomas por todo o corpo, mas está respirando. Graças a Deus está respirando.

As lágrimas correm no meu rosto sem parar. Meu coração está despedaçado. Puxo a sua franjinha pro lado e vejo que ela tem um hematoma muito profundo na testa que sujou todo seu rosto e travesseiro de sangue. Acaricio suas bochechas com meus polegares e continuo a chorar enquanto olho para ela.

M: Mas o que fizeram com você... - Eu reflito indignada em meio ás lágrimas.

Ela tenta se mover, resmungando de dor. Move o braço lentamente e agarra minha mão, fazendo meu coração pular.

Z: Maca? - Sussurra.

Me apaixonei pela minha inimiga - ZURENA.Onde histórias criam vida. Descubra agora