P: Aí está ela: Macarena. Sente-se, por favor. - Eu faço o que ele manda e o mesmo me acompanha, posicionando-se a minha frente.
M: Aconteceu alguma coisa? - Pergunto curiosa pelo seu entusiasmo.
Ele balança a cabeça, ainda revelando um sorriso cheio de dentes.
P: Tenho uma ótima noticia: revisaram o seu caso, e confirmaram sua liberdade. Você será solta em uma semana, Macarena. Que alegria.
Eu permaneço imóvel, com meu coração na minha garganta e minhas mãos tremendo involuntariamente enquanto descansam nas alças da cadeira.
M: O quê? - Eu pergunto confusa, com um sussurro fraco que sai da minha boca.
P: Isso mesmo que você ouviu! Já estamos organizando tudo para sua saída. Depois de tantos anos você merece. - Ele diz contente.
M: Mas e a Zulema? - Pergunto automaticamente.
P: Hã? O que tem ela? - Ele questiona confuso, antes de recordar do nosso relacionamento.
P: Ah... Vocês tem um caso, né?! Sempre esqueço... - Ele diz levantando do seu acento.
P: Na verdade, até hoje eu não entendo como isso foi acontecer. - O mesmo ri divertido enquanto procura pelo protocolo da árabe na gaveta.
P: Olha, Ferreiro. Eu não quero te desanimar, mas a situação da sua amada é bem mais complicada que a sua. Ela foi condenada por roubo, quadrilha, fuga, assassinato...
M: Quanto tempo ela ainda tem para cumprir? - Interrogo agoniada.
P: 18 anos. - Ele responde sério, em seguida eu sinto o chão desmoronar.
Quando saio do escritório de Palacios, desabo contra a parede. Coloco a mão no coração que galopa agitado dentro do meu peito. Tudo ao meu redor parece fora de foco. Meu pés, de repente, parecem não tocar a superfície.
Eu realmente estava saindo da prisão? Depois de todos esses anos? Depois de todos esses anos sonhando com a liberdade?
Ainda lembro do primeiro dia que eu entrei aqui, ou melhor, em Cruz del Sur. Eu era uma menina tão insegura, tão indefesa, no auge dos meus vinte e poucos anos. Sete anos se passaram, agora eu sou uma mulher.
Uma mulher que já viveu experiências que jamais imaginaria viver. Que já perdeu muita coisa na vida, mas também ganhou e aprendeu muito.
O que eu vou fazer lá fora? Eu não tenho mais meus pais, tão pouco converso com meu irmão. Tudo que eu tenho de mais precioso no mundo está aqui, em forma de uma deusa árabe.
Corro para cela, meu corpo é invadido pela adrenalina. Essa notícia ainda soa tão surreal na minha cabeça e eu não faço ideia de como contar a novidade para a minha pequena.
Quando entro no quarto, a encontro enrolada em uma manta, no canto da cama, exactamente do mesmo jeito que eu a deixei minutos atrás, antes de sair. Paro repentinamente olhando para ela, meu corpo começa a tremer. Há anos eu sonho com a minha liberdade, desde o primeiro dia em que eu entrei aqui, mas agora parece o maior castigo que eles poderiam me infligir.
Ás lágrimas começam a escorrer dos meus olhos, enquanto eu a observo. Ela é tão delicada quando dorme, parece um anjo. Fica quietinha, encurvada na mesma posição, apenas respirando. Eu não quero deixa-la sozinha aqui. Eu sentiria muita a sua falta, do seu corpo, do seu jeito... Eu... eu não posso!
Como eu vou ficar sem o perfume dela? Sem seus cabelos lisos nas minhas mãos? Sem sua voz profunda soando no meu ouvido? Sem seu olhar magnético que me motiva todos os dias? Sem seu hálito fresco nos meus lábios?
Como eu posso desistir de algo que se tornou indispensável para mim?
Eu respiro fundo e limpo minhas bochechas manchadas. Subo em sua cama e a envolvo por trás, colocando meu nariz entre seus cabelos pretos, contornando meus braços em sua cintura.
Z: O que aconteceu, amor? - Ela resmunga baixinho. Provavelmente estava dormindo, eu sinto muito por tê-la acordado.
M: Nada. Eu só quero ficar com você. - Digo a ela enquanto minhas mãos tremem, e meus olhos lacrimejam naturalmente.
Uma semana. Uma maldita semana e todos esses momentos seriam suprimidos, e ficariam apenas como uma boa lembrança na minha mente. Em 18 anos ela gradualmente se desenvencilharia da minha memória, e deixaria um vazio no meu coração que ninguém jamais poderá preencher.
Z: Loira? Eu te conheço. Fala...
Eu a abraço com força, sentindo o calor do seu corpo, que inevitavelmente me levam a chorar desesperada.
M: Zulema, eu vou ter minha liberdade em uma semana. - Digo com a voz cortando minha garganta.
A árabe permanece imóvel, em silêncio, mas eu a sinto enrijecer sob meu toque.
Subitamente ela desce da beliche, enche um copo com água, dá uma golada para limpar a garganta, e apanha um maço de cigarro na gaveta. Fazia tempo que ela não fumava, estava tentando parar. Ela coloca o tabaco na boca ainda apagado.
Z: Nós sabíamos que isso iria acontecer mais cedo ou mais tarde, Maca. - Ela diz impaciente, procurando por um isqueiro em qualquer lugar da bancada. Tentando parecer que a notícia não a atingiu.
Mas eu sei que ela está sofrendo tanto quanto eu, ou até mais, pois graças ao seu maldito orgulho, ela não se permite demonstrar, e acumula todas as emoções dentro dela. Ou talvez ela apenas não quer que eu sofra mais do que eu já estava.
Eu desço da cama e sigo em sua direção, tiro o cigarro da sua boca e jogo no chão. Puxo ela de volta para o meu corpo, inalando o cheiro do seu pescoço.
M: Eu vou esperar por você, eu vou contar cada minuto, eu... - Tento falar, mas a morena me impede, me fazendo calar.
Z: Você não vai esperar por ninguém. Agora me escute. - Ela comunica olhando nos meus olhos.
Z: Você é jovem, é linda, inteligente... Você encontrará um bom marido e terá dois filhos e um cachorro com ele. Como manda o figurino. E vai ser muito feliz na sua linda casa de campo. - Eu cerro meus punhos de raiva, empurrando-a levemente para trás.
M: COMO VOCÊ PODE DIZER ISSO? EU QUERO A PORRA DA CASA DE CAMPO COM VOCÊ! EU NÃO QUERO NENHUM FILHO NEM A PORRA DE UM CACHORRO SEM VOCÊ, ZULEMA! - Grito angustiada, e a silenciosa Zahir imediatamente me abraça, me acolhendo em seus braços com força, de forma protetora.
Ela deixa um beijo na minha testa, em seguida envolve seus braços em meu pescoço novamente.
Z: Algumas coisas a gente não consegue controlar, loira. Nós duas, por exemplo, nós... não podemos nem dar um nome ao que aconteceu.
M: Podemos sim, Zulema! O nome disso é amor! Aceita esse sentimento, pois eu sinto faltar o ar sem você. Então não venha com o discurso de que cometemos um erro, ou algo do gênero, porque eu juro que dessa vez eu te mato. - Digo com meu rosto coberto de lágrimas, enquanto ela acaricia minhas bochechas com os polegares, fixando seus olhos felinos em mim, atentamente.
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Me apaixonei pela minha inimiga - ZURENA.
RomanceDepois de passar oito meses em coma, Macarena desperta com a informação que sua maior inimiga que salvou sua vida. Após saber da novidade, milhões de pensamentos conflitantes mexem com a sua cabeça. Fazendo ela abrir mão da sua liberdade, e reconhec...