14. Fragilidade.

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Como uma pessoa consegue ser tão cruel? Não é possível que eu esteja carregando todo esse sentimento sozinha. Eu vi no seu olhar, na sua voz, e até mesmo em sua calcinha, que ela me queria, quase tanto quanto eu quero ela. Então por que agir assim? Pra que me magoar tanto com as palavras?

Eu tenho vontade de chorar. E por um minuto lembro o porquê eu odeio ela. Zulema Zahir está sempre a me tirar as coisas. Ela já me tirou minha família, minha liberdade, e agora quer tirar minha paz.

Passamos o resto do dia nos evitando, nas refeições, nós turnos, no banheiro, no intervalo no pátio. Eu estou magoada com ela. Dessa vez ela pegou pesado. Confesso que nem quando ela tentou me matar tinha doído tanto.

Quando marchamos para cama percebo que enquanto as meninas ainda estão conversando e se acomodando para dormir, Zulema já está deitada encolhida virada pra parede, como se não quisesse interagir com ninguém. Ela nunca quer, é uma das pessoas mais antisociais que eu conheço. Mas acho estranho pois esse horário, supostamente, ela deveria estar lendo.

G: Amanhã na partida de queimada vamos estourar a cara daquelas filhas da puta, agora com a Zule no meu time não vai sobrar pra ninguém, não é Zule? Nós vamos detonar. - Goya diz super animada com o pedaço de plástico branco na boca, que ela não larga por nada.

S: Deixa ela em paz. Cala a boca e vamos dormir. - Sem resposta da árabe, Saray responde pela amiga

Preocupada, a cigana apaga a luz da cela.

Aconteceu alguma coisa.
Será que ela está triste por causa do que houve entre a gente? Eu tenho vontade de perguntar pra ela. Eu só queria participar.

As meninas vão dormir, mas antes Saray dá um beijinho na cabeça da árabe, e diz alguma coisa em seu ouvido que eu não consegui escutar.

M: Está tudo bem? - Não me aguento e pergunto, aflita.

S: Tá. Vai dormir, loira. - Saray me despreza.

Deito minha cabeça de volta ao travesseiro do lado que eu possa ter a visão dela. Luto pra ficar acordada, temo que ela esteja adoecendo novamente e precise de mim, mas devido o cansaço e o silêncio no ambiente, minhas pálpebras caem em um sono profundo.

Sonho com meus pais, já aconteceu muitas vezes desde que eles morreram, mas dessa vez não foi um sonho muito legal.

Incomodada, me viro na cama, procurando um lado mais confortável, estou prestes a dormir novamente até meu sono ser interrompido por alguns ruídos.

Ao meu lado Zulema está se revirando na cama emitindo ruídos de dor. Eu olho em volta e minhas companheiras não notaram nada, estão todas dormindo em paz.

A morena continua reclamando, tanto que eu começo a me preocupar. Sento-me na cama e chamo por ela, embora ela pareça não me ouvir. Quando de repente ela acorda, levanta o dorso em três quartos, apoia os cotovelos na cama, no meio de um ataque de pânico.

M: Zulema, era só um sonho. - Digo tentando acalma-la.

Seu olhar está fixo no vazio e seu peito está subindo e descendo rápido pela respiração difícil.

M: Zulema? - Chamo de novo, muito preocupada. Nunca a tinha visto assim.

A morena começa a chorar levantando completamente pra sentar na cama. Ela põe as mão no rosto e aproxima os joelhos. Diante daquela cena, sem pensar duas vezes, pulo da minha cama e caminho até a dela. Tentando não acordar Saray que está dormindo embaixo.

M: Zulema... - Eu olho pra ela triste, enquanto ela está com os joelhos pressionados sobre o peito e o rosto escondido entre as pernas, coberto com seu cabelo liso.

Lentamente coloco as mãos em suas costas, hesitante, por medo dela me expulsar. Mas a morena, me pega totalmente desprevenida, vira-se e me abraça forte, acobertando o rosto no meu pescoço. Nesse momento eu esqueço todas as palavras que foram ditas de manhã. Eu só quero permanecer grudada com ela para sempre.

Com minhas mãos em suas costas, começo a acaricia-la, subo até seus cabelos preto, alguns eu coloco gentilmente atrás da sua orelha, outros totalmente pra trás, para que minha pequena possa respirar. Eu estou começando a ficar desesperada.

M: O que está acontecendo? - Pergunto melancólica, depois que vejo que sua respiração está normalizado, sem esperar que ela me responda, mas ela quer.

Z: F-Fatima. - Ela responde com uma voz baixa que quase não é sua, embriagada entre as lágrimas.

Fecho meus olhos. Eu posso sentir sua dor.
Me sinto tão impotente, gostaria de poder fazer mais por ela. Gostaria de absorver em parte, pelo menos em parte, um pouco de toda aquela dor que ela carrega dentro de si, que cada dia desgasta sua alma.

Ao ouvir sua voz falha identifico que ela precisa de um pouco de água doce, me movo para descer da beliche para apanhar um copo, porém assim que me afasto dela, sinto que ela aperta meu braço com arrogância.

Z: Maca... - Eu olho pra ela pasma, com um salto no coração.

Z: Fique comigo?

Me apaixonei pela minha inimiga - ZURENA.Onde histórias criam vida. Descubra agora