27. Conversas.

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Depois do almoço, sigo para o pátio para apanhar um pouco de vitamina D, todos os dias temos meia hora para fazer isso. Ao olhar para a arquibancada, vejo que Saray está sozinha deitada, resolvo incomoda-la, pois ela está me devendo uma explicação.

M: Cigana! - A chamo entrando em pé na sua frente, tapando o sol do seu rosto.

S: Aff, loira. O que foi agora? - Ela reclama sem precisar abrir os olhos reconhecendo minha voz.

M: O que rolou entre você e o Palacios para tirar a Zulema do meu turno? - Pergunto insatisfeita.

A cigana se levanta para sentar no acento, encosta o corpo no concreto e respira fundo.

S: Cara, você está muito obcecada, isso não é bom. - Ela me alerta.

M: Você não respondeu minha pergunta. - Digo firme.

S: A Zulema é sua crush, mas não esquece que ela é minha melhor amiga, eu tenho prioridades. - Ela se antecipa.

M: Eu não quero roubar seu trono, até porque o que a gente tem é muito mais interessante. - Garanto para ela me gabando.

S: Justo, só não esquece que amizades são para vida inteira, relacionamentos geralmente acabam mal. Deixando uma das partes completamente quebrada. - Ela me assusta.

S: Mas tranquila, loira. Eu só quero aproveitar o momento com minha Zule. Vocês vão ter muito tempo para ficarem sozinhas juntas. - Ela deixa escapar.

M: Como assim? - Pergunto confusa.

Saray percebe que, involuntariamente, deixou algo que não deveria escapar. Eu permaneço sem entender, enquanto a cigana se esquiva.

S: Quer dizer, vocês estão saindo, não estão? É natural que fiquem mais tempo juntas. Enfim, tenho que voltar pro meu turno, loira. Se cuida. - Ela sai apressada, e eu permaneço sem entender seu comportamento.

...

Antes de iniciar meu turno na lavandeira, procuro pela minha pequena nos corredores, para dar-te um beijinho e renovar minhas energia. É involuntário minha consciência nela. É quase automático. Penso nela em todos os momentos do meu dia, desde o primeiro pensamento quando acordo, até o ultimo na hora de dormir, e muitas vezes ela está até nos meus sonhos.

Subo as escadas dos fundos, para procura-la no seu refugio: a biblioteca. Não falho em minha intuição. Ouço sua voz atrás da estante, que para minha surpresa, está conversando com mais alguém, em um tom baixo, quase incompreensível.

I: Foda-se, Zulema, se você tivesse dito antes eu tentaria encaixa-la, mas já não da mais tempo, eu não vou me arriscar. - A informante de Zulema diz nervosa, abrindo os braços, parecendo bastante preocupada.

Zulema torce os lábios tensa, percebo no seu olhar, que é o mesmo que ela carregava mais cedo comigo no elevador, só que agora aparentam mais intensos.

I: Você não pode contar para ela, senão vai tudo por água a baixo. Você tem que entender que tem coisas mais importantes que outras. Vai dar certo, confia em mim. - A detenta diz pegando em sua mão, a mesma mão que eu sou doente, que me deixa deslumbrada.

Meu coração congela, minha garganta seca.

Z: Mas e quanto a Kabila, o que eu faço? Aquela garota está sempre me vigiando ultimamente, parece uma fiscal. - Zulema diz ainda tensa, eu começo a me preocupar.

I: Essa dai pode deixar que eu dou um jeito. Não vou com a cara dela já faz tempo. - A detenta diz maldosa.

Eu franzo a testa e dou um paço a frente, criei teorias horríveis na minha cabeça que preciso esclarece-las.

M: Do que vocês estão falando? O que vocês estão organizando? Você quer machucar a Rizos, Zulema? - Eu pergunto instintivamente.

Assim que eu apareço, as duas meninas me olham atentas. A informante encara Zulema, assustada, a mesma me retribui o olhar seco, sem deixar transparecer nem uma sombra de pensamentos.

Por um momento ela tenta manter-se indiferente a minha presença, mas não aguenta por muito tempo, então ela se aproxima de mim e agarra meu punho.

Z: Desde quando você fica espiando minhas conversas, hein, loira? - Sua expressão está firme, e seu olhar inspiram medo.

Porém, Zulema não me assusta mais, não como antes, não depois que eu beijei todas as suas fragilidades e as tornei minhas.

Tento me libertar da sua agressão com um gesto irritado, mas ela é mais forte, e eu falho miseravelmente.

M: O que você está me escondendo? Pensei que nós éramos... - Começo a falar, mas ela me interrompe.

Z: Nós somos apenas duas inimigas que passaram a foder com a outra. Não te devo explicação de nada. - Ela cospe as palavras com uma frieza, que me deixa petrificada.

Permaneço imóvel no local, enquanto dentro de mim uma tempestade de dor, raiva, decepção, mas acima de tudo, ilusão, parece estar desencadeando no meu corpo. A informante cala-se diante da situação, constatando em seu olhar que Zulema pegou pesado.

Como é possível que ela me diga isso depois de tudo o que vivemos agarradas uma na outra? Eu a vi abaixo de mim de modo que ninguém mais a viu. Vi como ela se deixou ir, como ela confiou nos meus toques, como ela me encarou com aqueles olhos esverdeados, que só por aqueles minutos pareciam não ter barreiras. Eu me entreguei para ela como nunca me entreguei para ninguém antes. Mergulhei de cabeça naquilo que eu acreditava que, finalmente, era a coisa mais certa que eu estava fazendo em toda minha vida.

I: É... Zulema... - A detenta intervém com a voz baixa, mas a árabe ignora.

Permaneço queimando sob seu olhar, ardo enquanto aquelas palavras ecoam na minha cabeça, fazendo tudo ao meu redor vacilar. Como se eu tivesse vivido até agora em uma bolha de vidro e de repente ela estourou, revelando a verdade.

Eu cerro meus punhos, as lágrimas ameaçam sair.

M: É apenas sexo para você? - Eu pergunto isso com uma voz quebrada, me recusando a chorar em sua frente.

Zulema não me responde, ela me olha imóvel com seus grandes olhos fixos em mim. Eles me examinam com atenção, como se me estudassem de dentro para fora.

Limpo uma lágrima que começou a fluir fora de controle na minha bochecha. Eu tento suprir meu coração que grita para que eu corra em seus braços para sentir seu cheiro.

Como eu sou idiota.

M: Você não vai machucar a Rizos, eu não vou deixar. Vou ficar ao lado dela a noite toda para garantir que nada aconteça com ela. - Ameaço, com meus olhos brilhantes, e com a voz que está morrendo na minha garganta.

Z: Essa noite eu pretendia passar contigo. - Depois de muito tempo ela, enfim, se pronuncia.

Ela diz com uma voz calma, perdendo toda aquela dureza de antes, como se tivesse percebido o impacto das suas palavras em mim.

Eu cerro meus punhos com raiva e magoada. Eu a amo com todo meu coração e sou apenas sexo para ela.

M: Você nunca mais vai passar a noite comigo. - Eu jogo em sua cara, me arrependendo logo em seguida.

Zulema fecha os olhos e respira fundo, como se tivesse digerindo muitas emoções conflitantes em seu corpo. Apesar de tudo, me atormenta a possibilidade de magoa-la. Meu estômago inflama em uma dor que é difícil de ignorar.

Eu começo a sair do cômodo, mas ela tenta agarrar meu punho novamente, me fazendo estremecer com o contacto de seus dedos finos na minha pele.

Z: Maca...

No entanto, eu não escuto seu discurso, me libero dela, que me olha em silencio, enquanto saio com pressa de seus arredores, me desabando em lágrimas a caminho do banheiro na intenção de tentar ficar um pouco sozinha.

Me apaixonei pela minha inimiga - ZURENA.Onde histórias criam vida. Descubra agora