30. Fúria.

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Alguns guardas correm em direção ao portão de entrada. As meninas param a partida. Em seguida, vejo o ônibus amarelo da prisão entrar pelas grades da cadeia. Os guardas se alinham em torno do veiculo, carregados com armas.

Meu coração começa disparar, sinto falta de ar. Ela voltou.

D: Quem é vivo sempre aparece. - Bufa uma detenta idosa ao meu lado, balançando a cabeça e levantando da escada. 

M: Meu Deus... - Sussurro confusa, enquanto não consigo despregar meus olhos daquele maldito veículo a espera de quem desceria. 

As presas ao meu redor parecem estar igualmente interessadas, todas nesse momento prestam atenção como se fosse um ultimo lance da copa do mundo, ou como se fosse uma super celebridade que vai descer do autocarro. 

S: ZULEMA, FILHA DA PUTA! - A cigana grita eufórica ao supor que sua melhor está de volta. 

Ouvir seu nome em voz alta faz o meu coração pular do peito. Eu encaro aquele ônibus amarelo com impaciência, angustiada. 

Os guardas estão lá esperando há vários minutos,  armados da cabeça aos pés, até que eu vejo Castilho descer primeiro. 

C: Saiam todas daqui, voltem para suas actividades. - Ele grita espantando as meninas que se amontoaram em volta da grade para observar. 

Algumas presidiárias seguem atentas, mas a maioria voltam sua atenção para o futebol, inclusive Rizos, que felizmente está muito empolgada com a competição, e nem percebe meu estado.

Meu maldito coração galopeia dentro do meu peito, alguns instantes depois vejo uma figura esguia sair algemada entre dois policiais. 

Eu corro meus olhos naquele corpo de baixo para cima, minhas mãos começam a suar e minha garganta parece ter ficado seca.

Suas pernas magras estão envoltas de um par de jeans preto colado, levemente rasgados, dando para ver partes relevantes de sua pele branca. Ela usa botas pretas de combate estilo dr martens, que a deixa com ar de gótica das trevas. Por baixo da jaqueta de couro que ela veste, consigo ver um cropped de renda decotado, que conforme os movimentos dos guardas puxando seu braço, tenho visão a sua barriga chapada e se seus redondos e firmes seios. Seu cabelo liso parece ter ficado mais longo, agora cai sobre seus ombros. Devido o sol, seus olhos estão completamente verdes, realçados em um delineado preto. Ela está tão linda que eu sinto falta de ar. 

S: ZULEMA!! - Saray grita novamente, dessa vez conseguindo a atenção da amiga.

Imediatamente vejo que seus olhos cruzaram com os da cigana, ela lança um maldito sorriso que me faz vacilar, mas em questão de segundos, os guardas a arrasta para dentro da prisão, fazendo-nos perde-la de vista. 

Fico imóvel com meu coração querendo explodir no meu peito. Percebo meus olhos brilhantes e nem sei por quê, será que eu senti tanta falta dela? É possível que, não importa o quão chateada eu esteja com ela, assim que a vejo, a única coisa que eu quero é correr para seus braços e beija-la?

R: Amor, o horário do intervalo acabou, eu vou tomar banho e te encontro no quarto, ok? - Rizos me desperta do meu estado de transe. Aceno com a cabeça confusa, já não há mais detentas no pátio. Quanto tempo eu fiquei aqui?

...

Três dias se passaram e ainda não vi a árabe, além dos malditos cinco meses em que ela ficou foragida. Certamente a colocaram em confinamento solitário, eu sigo tentando pensar que ela não está aqui. Agora que eu estou bem, praticamente desintoxicada, graças a Rizos, não quero me sabotar novamente. 

Me apaixonei pela minha inimiga - ZURENA.Onde histórias criam vida. Descubra agora