28. Amar.

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Estar apaixonada é ótimo, é renovador para qualquer um. Dar oportunidade para alguém novo é um ato de coragem, nos dá novas esperanças e nos faz acreditar que nem tudo está perdido. Toda vez que meus olhos fixam sobre ela, eu observo cada detalhe, e muitas vezes me pergunto, será que eu teria chance?

Esse sentimento que dá um charme para vida, deixa as cores mais vivas, o coração mais ligeiro, o estômago confuso e faz as músicas criarem sentido, não pode ser um problema. Esse calor que eu sinto quando ela mergulha o rosto a sorrir no meu peito enquanto a faço cafuné em seus cabelos tão lisos e pretos como a noite, não pode ser ruim.

Trancada nesse banheiro, aos prantos, eu reflito, como algo tão bom, como amar, pode doer tanto?. 

Quando nos apaixonamos, imediatamente o relógio gira para trás e voltamos no tempo sem precisar de uma máquina apropriada. Apaixonar-se sempre envolve intensidade, ferocidade e um pouco de loucura. Junto com a paixão vem o desejo, vem o ciúme, vem a urgência de estar perto. Todos sentimentos jovens, próprio de quem tem pressa. E é exactamente isso que ela me remete, a minha juventude, a graciosidade da adolescência, de ser valente, de achar que eu posso dominar o mundo, que eu sou indestrutível. Ela faz-me sentir livre, mesmo estando trancada, e com a mesma intensidade, ela consegue tirar. 

Nem sempre existe reciprocidade, nem sempre nos apaixonamos pela pessoa certa, nem sempre a pessoa pela qual a semente da paixão brotou nos merece.

Mas olhando nos olhos de Zulema, e conhecendo todo seu histórico de vida, é impossível não ver que ela está dominada pelo medo, ela tenta de todas as formas esconder seus sentimentos, omitindo cada vez mais aquilo que tem dentro do peito e com isso se permitindo menos.

Quanto mais eu demonstro meu interesse por ela, vejo que seu primeiro impulso, como medrosa que é, é sair correndo. Porque com isso evita diversos outros fatores, como de fato ter que desenvolver uma responsabilidade emocional, fornecer atenção frequente, se deixar envolver e correr, é claro, o risco de se machucar gravemente, coisa que eu jamais deixaria acontecer, mas ela faz comigo sem dó. 

Busco me recompor, para não chegar atrasada no meu turno. Por algum motivo muito anormal, o barulho da maquina de lavar me acalma, como se eu estivesse de volta a bolsa amniótica da minha mãe. Toda vez que eu fecho meus olhos, e entro no auge do meu relaxamento, vejo o seu rosto, lembro do seu cheiro, e do seu toque. Como se ela quem tivesse realizado o parto que me colocou no mundo e fosse a primeira imagem que eu tive em vida. 

...

À noite passo meu tempo com a Rizos, é claro que ela está um pouco receosa com minha presença, mas não diz nenhuma palavra. 

Estamos no pátio interno da prisão à mesa com as outras meninas jogando cartas. Estou devastada, mas naquele momento procuro não pensar em Zulema e no jeito que ela me tratou, como se eu fosse apenas um passatempo para ela. 

Eu balanço minha cabeça e tento fingir que estou bem, quando Antonia lança uma carta que coloca meu time em apuros. Tenho que fingir que não estou totalmente destruída e que não tenho medo que meu relacionamento com a Zulema tenha acabado. Tento fingir que não estou mal pelas palavras que foram ditas por mim, entrando no jogo dela de suprimir nossos desejos.

Atenta, eu só preciso ficar aqui com a Rizos mais alguns instantes e me certificar que nada aconteça com ela. Depois do que eu ouvi a informante falando na biblioteca, e depois de tudo que a árabe me falou no elevador, com certeza elas estavam planejando alguma vingança contra morena, e a Rizos, por mais que seja impulsiva e faça coisas sem pensar, não merece isso, não vou deixar que elas a machuquem. 

...

O guardas anunciam que o horário de lazer acabou. Acompanho Rizos com olhar alerta até seu quarto. Quando ela entra, espero alguns minutos no corredor para garantir que ninguém vai tira-la de lá, até que sou advertida por um policial. 

G: Vamos, Ferreiro, o intervalo acabou. - Ele diz, gentilmente, pegando no meu braço, me guiando para minha cela. 

Quando entro no cómodo vejo que está faltando Zulema e Saray, não me preocupo muito com isso, pois sei que Saray jamais faria ou deixaria alguém fazer mal a Rizos. O que me atormenta é o que acontece a seguir. 

G: Atenção, tranquem as celas, uma fuga está em andamento. Repito. Uma fuga está em andamento. - Ouço o carcereiro dizer enquanto fala no rádio, correndo em direção aos portões electrónicos. 

Meu coração se paralisa com a informação, mas de repente me ponho totalmente confusa quando vejo um guarda arrastando a cigana para dentro da cela e logo em seguida trancando a grade de segurança. A mesma me olha completamente assustada.

S: Que porra você está fazendo aqui? - Ela diz arregalando os olhos. 

M: Onde está a Zulema? - Pergunto desesperada. 

S: A essas horas bem longe... Eu não acredito que você não foi com ela. Eu estava esse tempo todo distraindo os vigilantes, para que você pudesse ir. Se eu soubesse que você não iria, teria ido em seu lugar. - Ela enuncia fazendo minha respiração parar e minhas pernas amolecerem. 

Meu coração salta no peito. Lembro do seu rosto, do seu corpo, do cheiro, do seu toque, do seu gosto...

M: Zul-lema... - Eu sussurro antes de apagar caindo lentamente no chão. 

Percebo a agitação das minhas colegas, mas não consigo reagir. Saray me segura, Goya me abana com algum objecto e Luna tenta me dar água. Mas na minha mente eu só consigo ver seu semblante na minha frente. 
















----------Autora----------

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Me apaixonei pela minha inimiga - ZURENA.Onde histórias criam vida. Descubra agora