Fragmentos Do Passado

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POV Adrien

Meus passos estavam lentos e a chuva começou a molhar minhas roupas, meus olhos encaram a porta por longos minutos pensando se eu deveria entrar ou não. Faziam anos que eu não visitava aquela casa que pra mim havia se tornado a propria casa do horror, a unica coisa que me fazia querer vir aqui algumas vezes tinha olhos verdes e fios tão dourados quanto os meus. Mas eu nunca cheguei a bater realmente. 

Eu apenas fitava a porta deixando lembranças ruins me alertarem o porque de ter fugido dali. Jurei nunca mais voltar por ela... e aqui estou eu, quebrando minha promessa. 

Remexi em meus fios sentindo a água gelada deslizando deles, mas não me incomodava, nem mesmo a possibilidade de pegar uma pneumonia pelo tempo gelado me importava.

Bufei frustrado me amaldiçoando por ter vindo ate aqui. Volto por onde eu vim em passos mais rápidos sentindo a intensidade da chuva aumentar. 

Meus olhos param em duas figuras familiares, pisco tentando de alguma forma desmaterializar a imagem a minha frente. Mas ela persiste, esmagadora como a realidade e cruel como os anos vividos naquela mansão. 

Meu pai e Josh conversam animadamente na sala de vidro que tem nos fundos. Eu tinha algumas lembranças boas daquele local algumas que consistiam em duas loiras rindo animadas, uma de olhos esmeraldas e outra com olhos tão azuis quanto o ceu. Que agora se encontra acinzentado como o olhar dela naquela noite.

"Não foi sua culpa" ela me disse a exatamente 2 anos atrás antes de ter sido mandada para o colégio interno. Se não foi minha culpa porque ela me consumia todos os dias?

Eu devia ter impedido eles de a tratarem como uma louca, ela se sentia uma louca e Gabriel apenas a deixou ainda pior. Como Marinette disse ela foi a vítima ali e ninguém levou a sério seus relatos porque ele era um homem serio. Como alguém desconfiaria daquele filho da puta que carrega um sorriso doce. 

Até eu a tratei como uma louca quando me contou, era difícil acreditar que alguém que eu confiei destruiria a vida dela daquela maneira. Eu acreditei nele, confiei como nunca confiei em ninguém 

E ver minha irmã em lagrimas relatando um ato nojento, enquanto tentava desesperadamente se lavar foi um baque muito forte, foi como se tudo tivesse desmoronado em segundos.
 
E eu preferi não acreditar. Tentei de todas as maneiras desacreditar de suas palavras mesmo que no fundo eu soubesse que era verdade, mesmo eu sabendo que Josh havia subido para o quarto naquela noite. 

Quando a ficha finalmente caiu e eu corri pra apoiar minha irmã todos estavam na sala, até mesmo o maldito.

Gabriel tinha uma expressão vazia enquanto minha mãe chorava culposamente em seus braços, olhei para os homens de terno que seguravam minha irmã que chorava desesperadamente. Tentei compreender a situação mas nada fazia sentido em minha cabeça. 

- O que...? - murmurei olhando para aquela cena em minha frente.

- Ela vai embora - Gabriel havia dito e a lembrança ainda estava fresca em minha mente. Fecho meus olhos tentando ignorar os sentimentos que tentam se apossar de mim. Eu controlo minhas emoções. Não me permito chorar apenas me permito ter raiva e é sempre nisso que todas as minhas emoções se converter na mais doentia raiva. 

A água gelada que cai sobre mim é a única sensação que resta quando abro meus olhos, minha vontade era de entrar naquela casa e destruir todo o castelo perfeito que a familia Agreste criou. Queria acabar com a ilusão que Gabriel passa a todos de familia perfeita.

Eu e minha irmã fomos renegados por ele apenas por não concordarmos com ele. Lembro que quando ela lhe contou o que ocorreu ele quis mascarar não queria um escândalo e tanto eu Quando ela não concordamos. E naquela noite fomos separados.

Ela está em outro pais enquanto a culpa consume cada celula do meu ser todos os dias. E no fundo sei que fui o culpado, eu tinha que te-la defendido.

Ela era minha irmã e eu falhei com ela.
Falhei como falho com todas as pequenas coisas que me importo. Ela me mantia em pé sempre que Gabriel nos levava para baixo. Sempre que nossos pais gritavam nós nos escondiamos, cantavamos e tocávamos esquecendo o clima ruim ao redor. 

Eramos um bom time. E os dois homens que vejo através do vidro cristalino, eram os culpados por nós destruírem. Tanto eu quanto ela não somos mais os dois jovens que éramos. 

Estamos destruidos pela mesma história, e com toda certeza ela deve estar como eu. Destruindo tudo ao seu redor apenas para não se sentir machucada sozinha. Eu sou egoista e sei disso, não ligo pras pessoas do mesmo jeito que ninguém ligou pra nos quando podiam nos salvar. 

- Adrien? - uma mulher palida aparece no vidro da cozinha. Tento fugir  institivamente mas ela corre que nem uma louca para fora da casa, ignorando o tempo chuvoso. 

Seus braços me envolvem enquanto ela chora me apertando cada vez mais contra ela. Não tenho nenhuma reação, acho que já é automático. Ela parece perceber e me fita com os olhos esverdeados  marejados enquanto analisa meu rosto com suas mãos tremulas.

Ela estava tão palida quanto um fantasma, sua camisola branca se encontrava encharcada e com algumas marcas de lama do jardim. Seus fios estam cacheados denunciando que ela nem mesmo os escovou. 

- Oi - murmuro sem demonstrar nenhuma reação. Seu abraço foi tão familiar e nostálgico mas... eu não senti nada é como se eu fosse um maldito robô. 

- O que faz aqui, Querido? - pergunta preocupada começando a tremer pelo frio. 

- Eu só estava andando e... acabei chegando aqui - explico. É verdade depois da aula eu só quis andar um pouco e de alguma maneira meus pés me trouxeram para essa casa.

- Sobrinho! - minha pulsação acelera no segundo que ouço sua voz irritante, deboche era o mais notavel em seu tom, o sotaque americano era irritante.

Me virei dando de cara com os dois homens que eu mais repudiava na vida. Ser detestável com toda certeza estava no sangue Agreste.

- Oi titio - debocho vendo o mesmo fazer uma expressão de desgosto. Gabriel me fita como se esperasse por algo - Não lhe chamarei de pai nem mesmo pra debochar da sua maldita cara! 

Sua expressões se tornaram firmes, conseguia sentir a tensão que se formava entre nós. E de repente ninguém mais se importou com a chuva que caia de forma abundante.

Tinhamos problemas demais para nos importarmos com algo tão futil como a água que encharcava nossas roupas.

Someone You Love | Adrienette Onde histórias criam vida. Descubra agora