Era impossível descrever o que Jungkook sentira naquele momento. Claramente tudo estava confuso, ele não sabia o que pensar. Tudo o que ele pensou saber não passava de achismo e invenções. Ele não tinha nada. Sua mente estava branca.
— Eu não consigo entender... — Falou o mesmo ainda absorvendo toda a informação que fora jogado nele minutos atrás.
— Querido Jungkook, aquela mulher maltratou o Jimin por anos, sexualmente falando. Quando ele não aguentou mais teve que arrumar uma maneira de fugir. E felizmente ele conseguiu. — Disse a ajumma.
— Mas, por que ele não me contou tudo?
— Feridas como essas são difíceis de ser compartilhadas. — Concluiu ajumma, sentando novamente em sua cadeira.
Aquela larga sala de luz branca passou a tornar-se menor e mais escura. Quando tudo se tornou breu, Jungkook se viu sozinho mais uma vez em um grande corredor. De longe, uma brisa fraca vinha e balançava gentilmente seus cabelos. O garoto foi a passos lentos e delicados até o fim do corredor, agora, sozinho.
Jungkook voltara para o mesmo jardim que acordou horas atrás. Quer dizer, seriam mesmo apenas horas? Quanto tempo havia passado nesse mundo paralelo?
O garoto de cabelos negros se aproximou da ajumma e do seu melhor amigo Taehyung, que admiravam juntos as águas cristalinas e os peixes dourados que passeavam pela mesma. Jungkook sentou-se ao lado deles, quieto e reflexivo.
— Como vocês vieram parar aqui tão rápido? — Interrogou Jungkook, quebrando o silencio.
— O espaço aqui é totalmente relativo. Podemos estar em todos os lugares e em nenhum ao mesmo tempo, se quisermos. — Explicou Taehyung.
— A cada minuto que passo nesse lugar, menos eu o entendo. — Resmungou Jungkook, passando a mão em seus cabelos úmidos.
Eles passaram alguns minutos inertes e calados. Observando a correnteza do rio, ouvindo as árvores, que pareciam falar quando o vento transpassava suas folhas. Jungkook ainda tinha muitos questionamentos, mas ele sentia que nada do que pudesse perguntar, e nada do que eles pudessem responder tornaria tudo mais fácil de entender.
Subitamente, uma forte luz brilhou o céu daquele local e dela surgiram dois anciões, um casal de idosos, sendo mais especifico. Ambos de aparência celestial e roupas da mais pura e alva ceda. Não demorou muito para que as duas aparições pousassem no chão.
— Jeon Jungkook. — Falou a idosa, sorrindo para o garoto peculiar.
— Sim? — Respondeu ele, levemente acanhado.
— Espero que Kim Taehyung e Seo Kang Ah tenham deixado as coisas mais claras para você. — Continuou a mulher.
— Seo Kang Ah, então esse é o seu nome ajumma? — Perguntou Jungkook sorridente para a ajumma. Que apenas assentiu e sorriu de volta.
— Posso assegurar que sua vida com os vivos não foi algo fácil, principalmente para um garoto da sua idade. Mas, quero deixar claro que ela não mudará se decidir voltar. — Falou o ancião de barbas longas e grisalhas.
— Eu continuarei tendo uma vida difícil... — Suspirou Jungkook, desanimado.
— Jungkook, uma vida fácil, por mais que contraditório, é muito difícil de ser vivida. Uma vida dura é repleta de tropeços, fracassos, dores, perdas e desilusões. Contudo, a perseverança lhe trará esperança, vitórias, curas, ganhos e paixões. Nada disso voce poderia conseguir vivendo uma vida fácil. — Falou a anciã.
— Eu sinto que minha cabeça vai explodir com suas charadas. — Reclamou o garoto peculiar.
— Jeon Jungkook. Apenas decida o que quer. Você pode ajuntar-se a nós e deixar tudo para trás, ou voltar. — Exclamou o ancião, encarando o jovem confuso.
Jungkook passou alguns minutos em silencio. Aquela era a escolha mais difícil da sua vida, ou melhor, da sua morte, ou melhor, para ambos.
Após alguns minutos pensando e vasculhando todas as memórias em sua mente. Jungkook ergueu sua cabeça e deixou uma única lágrima escorrer de seu olho esquerdo.
— Eu tenho que voltar.
A correnteza do rio parou instantaneamente, as águas do mesmo se tornaram mais escuras e por fim, totalmente pretas.
— Jeon Jungkook, o rio se tornou sua passagem para o mundo dos vivos. Nade até sua parte mais funda e mergulhe. Dentro dele você verá uma luz branca, nade para ela e voltará para o seu corpo.
— Obrigado, senhores. — Jungkook curvou-se para os anciões, que sorriram gratos.
Em seguida, virou-se para Taehyung, que tentava conter as lágrimas.
— Sabe por que você precisa voltar, Jeon Jungkook? — Falou o garoto Tae.
— Por que? — Interrogou Jungkook, que chorava.
— Porque você tem que descobrir a peculiaridade do seu amor.
Os dois se abraçaram fortemente. Um abraço verdadeiro. Um abraço de amizade verdadeira. Algo que nem o paralelo pode quebrar. Após isso, Jungkook abraçou a Sra. Seo, ou melhor, ajumma.
— Lhe vejo no mundo dos vivos, Sra. Seo?
— Se não me chamar de ajumma lá eu nem volto. — Disse ela sorridente.
Jungkook entrou no rio e foi até sua parte mais funda, mergulhando e desaparecendo. A correnteza do rio voltou e a sua água cristalina tornou-se.
— Fico feliz que ele tenha feito a escolha certa. Podemos voltar ao nosso descanso agora. — Disse a anciã, sorrindo para o marido.
— Senhores, algo para mim não está claro. — Falou Taehyung, chamando a atenção dos velhos senhores.
— O que seria, jovem Taehyung? — Perguntou o ancião, confuso.
— Jungkook e Jimin são peculiares, mas Jungkook não consegue mais usar seus poderes há anos e Jimin não tem mais visões. Por que isso ocorre?
— Jovem Taehyung. Existem duas extremidades em relação aos peculiares. Alguns nascem com dons, enquanto outros com maldições. Isso é sabido por todos, mas houve algo oculto nessa história durante todos os séculos que até mesmo nós, os anciões, descobrimos a pouco.
— O que seria? — Falou a ajumma, curiosa sobre o assunto desconhecido.
— O amor entre as duas extremidades. Quando um peculiar abençoado se apaixona por um peculiar amaldiçoado. — Falou a anciã.
— O peculiar amaldiçoado, quando ama um abençoado e é reciproco, seu poder se torna neutro. Como se o mesmo adormecesse. Contudo, a neutralização de sua maldição só dura enquanto as duas extremidades estão unidas e partilhando esse mesmo sentimento. — Continuou o ancião.
— Park Jimin só está livre de sua maldição enquanto está ao lado de Jeon Jungkook, seu verdadeiro amor. Jeon Jungkook no entanto, perdeu o controle de seus poderes devido a sua desilusão, então não sabemos como ele pode voltar a ter o controle do mesmo. — Encerrou a anciã.
— Espere... — Disse a ajumma. — Se o corpo de Jungkook estava vazio e sua alma estava conosco, durante esse meio tempo a maldição de Jimin tornou-se acesa novamente?
— Infelizmente sim... — Suspirou a anciã.
— Mas ele passou um dia conosco nesse mundo, que são 24 horas. Com a quebra de tempo entre os mundos paralelos, quanto tempo se passou no mundo dos vivos? — Falou Taehyung.
— Três meses. — Concluiu a ajumma, caindo de joelhos no chão.
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Peculiares | JiKook
FanfictionComo um livro escondido e empoeirado na última prateleira de uma estante, assim é a história aqui contada. Uma lenda, que a séculos esquecida retorna, dessa vez, trazendo consigo, dois protagonistas. Jeon Jungkook, um garoto tímido e de poucos amigo...