— Começar o que exatamente? — Perguntei receoso.
— Para que você realmente decida que quer seguir conosco nessa outra vida. Digo, com seus pais e comigo, primeiro você tem que ter a certeza de que quer deixar toda a sua vida para trás. — Disse Tae, que me olhava de maneira tão profunda que parecia enxergar tudo o que eu sentia.
— Taetae, eu não tenho dúvidas do que estou fazendo e tenho completa convicção de que não há nada que eu mais queira do que estar com vocês para sempre.
— Kookie, eu quero que você entenda que estará deixando pessoas que se importam com você para trás se decidir morrer. Você, ao contrário de muitos, terá o poder da escolha, então terá que escolher sabiamente, e eu espero que eu possa lhe ajudar a escolher a coisa certa.
— Que pessoas ao meu redor? A Ajumma? Tia Jung? Hoseok?... Eles têm as suas vidas, e por mais que seja um pouco doloroso, logo eles aceitarão a perda. E eu estou escolhendo a coisa certa, ficar com as pessoas que amo e finalmente parar de ter tanto sofrimento.
— Deixe-me contar o que devo lhe contar, e então decidirá o que quiser, e ninguém irá impedir.
— Tudo bem, sou todo ouvidos.
— Kookie, quando eu morri, eu vim parar nesse lugar e passei pelo mesmo que você. Acordei naquele lindo campo, sentindo o aroma das belas flores, sentindo a brisa em meu rosto... Eu sabia que essa seria a minha casa a partir de agora, e eu estava feliz por isso, mas tinha algo que eu não queria deixar para trás, ou melhor, alguém.
Nesse momento, ele entrelaçou seus dedos nos meus, e me mostrou o seu lindo sorriso, que eu já quase esquecera. Aquilo me deixava ainda mais convencido a ficar.
— Foi aí que meus avós, sentados em um banco branco de madeira, enquanto jogavam pedrinhas no lago de águas cristalinas me viram e me chamaram para sentar-me com eles. Nós rimos, brincamos, conversamos e nos divertimos muito. Mas meu avô percebeu que algo me preocupava, e quando ela perguntou, eu disse que havia uma pessoa que eu tinha deixado para trás, uma pessoa que eu amava e que eu precisava voltar. Mas, meu avô me disse que isso não era possível. Só que quando eu insisti mais, minha avó percebeu que era algo que eu queria muito, então ela me disse que ultrapassando as montanhas, eu encontraria um lindo templo. E nele, mestres do passado estariam e eu deveria tirar todas as minhas dúvidas com eles. E assim eu fiz.
Ele olhou para cima por alguns minutos, depois limpou a garganta e continuou sua história.
— Quando cheguei no templo, me deparei com três anciões, duas mulheres e um homem. Eu lhes contei tudo que eu sentia e o que eu mais queria, então uma das anciãs me guiou até uma sala, e ao entrar me deparei com uma grande fonte de água negra. Ela me explicou que se o amor que eu sentisse pela pessoa que citei fosse realmente grande, quando eu entrasse na fonte, sua água se tornaria branca e nela eu afundaria, voltando para a terra em espírito, eu poderia cuidar de você, mas você não poderia me ver. Entretanto, se acaso meu amor não fosse tão forte, a água me puxaria para o submundo, e eu jamais poderia voltar. Eu não hesitei, entrei na água e poucos segundos depois, eu estava defronte à sua casa.
— Você se arriscou por mim? — Meus olhos já marejavam e eu não conseguia mais conter as lágrimas, que começaram a rolar em meu rosto.
— Depois desse dia, eu voltei para a terra como espírito e então passei a te seguir. Mas, percebi que uma explicação não me foi dada corretamente. Eu era um espírito, então eu não poderia interferir nas suas escolhas ou em qualquer coisa, eu era apenas um telespectador, assistindo a sua dor sem poder fazer nada a respeito. E aquilo me machucou profundamente. Quando sua mãe morreu, eu não pude me sentir mais inútil, então eu me afastei de você. E como não tinha como voltar para este mundo, me tornei uma alma andante na terra.
— Taetae, me desculpe por ter feito você sofrer tanto.
— Mas, por mais que eu me distanciasse de você, você ainda era a razão por eu ter ido para a terra, então eu estava conectado a você, de alguma forma. Foi assim que soube que você se mudaria para Seul, então eu te acompanhei. Contudo, você continuava triste, e aquilo só me fazia lembrar o quão impotente eu era em relação a você. E que por mais que eu tentasse de tudo, eu não poderia fazer com que você se sentisse melhor. Até que uma madrugada, eu andava sozinho pelas ruas quando avistei uma pessoa, um rapaz. Para mim, ele seria como qualquer outro, um humano cujo qual passaria por mim e seguiria em frente, mas me assustei quando percebi que o rapaz me encarou nos olhos e gritou dolorosamente, se jogando no chão e fechando os seus olhos, ele implorava que eu fosse embora e que não o pedisse nada ou o atormentasse. Eu não entendi o porquê daquele garoto me ver, mas eu entenderia logo em seguida.
— Como era esse garoto?
— Você vai saber, espere um pouco mais.
— Tudo bem.
Me acomodei na cadeira e voltei minha atenção para ele, que olhou para o teto novamente e limpou a garganta pela segunda vez antes de continuar.
— Uma semana depois, era noite e eu estava sentado ao seu lado, em sua cama, enquanto olhava você chorar e chorava também, por saber que eu não podia fazer nada. Foi aí que uma voz ecoou em minha cabeça então tudo ficou escuro. Eu olhei para os lados me perguntando onde eu poderia estar e então uma voz começou a falar comigo. Não sabia quem era, mas ela pode responder as perguntas que eu tinha e me explicou que se eu continuasse a andar naquele breu, encontraria alguém que me ajudaria. Eu passei a andar pelo escuro, sem rumo, sem nem saber se eu veria algo além de escuridão novamente. Para minha surpresa, uma luz foi tomando conta da minha visão, e agora eu estava em uma sala branca, poucos metros a minha frente eu podia ver uma mulher de cabelos grisalhos sentada em sua cadeira de balanço, enquanto tricotava algo. Me aproximei dela e me sentei na cadeira que surgira em minha frente.
Entre as pausas de Tae para descansar sua voz, eu sentia minha garganta trancar e meu coração acelerar ainda mais. Eu não tinha certeza de onde toda essa história me levaria e de que isso poderia de alguma forma mudar a minha opinião.
— Está senhora me contou uma lenda.
— Lenda? — Perguntei curioso.
— A lenda falava sobre uma mulher que nascera com habilidades especiais, mas, sua habilidade era uma maldição, pois todo homem que se deitava com ela, morria. Não entendi o que ela queria me dizer com essa história, mas então ela me esclareceu. Desde essa mulher, espíritos maus amaldiçoam crianças ainda no ventre de suas mães, lhe dando poderes cujos quais os mesmos não poderiam ter controle, e isso os faria com que eles vivessem amedrontados durante toda a vida. Entretanto, algumas vezes, anciões decidem unir seus poderes e abençoar pessoas com dons, poderem benignos e que só podem ser usados para ajudar o próximo. Essa senhora me explicou que ela foi abençoada pelos anciões, e que seu poder, chamado de peculiaridade era ajudar espíritos perdidos.
— Como você?
— Sim, como eu.
Ele respirou fundo antes de continuar, pressentia que sua história logo chegaria ao fim.
— Eu contei para ela qual era o meu problema, e ela me disse que o que eu precisava fazer era...
— Era? — Perguntei curioso.
— Fazer com que você se apaixonasse por outra pessoa.
— Oh Deus...
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Peculiares | JiKook
FanfictionComo um livro escondido e empoeirado na última prateleira de uma estante, assim é a história aqui contada. Uma lenda, que a séculos esquecida retorna, dessa vez, trazendo consigo, dois protagonistas. Jeon Jungkook, um garoto tímido e de poucos amigo...