Park Jimin
— Algum problema Song-na? — Falei me sentando ao seu lado.
— Você que devia me dizer. — Ela me entrega uma pasta e ao abrir, paraliso por completo e meus olhos começam a marejar. — Então, algum problema Jimin?
Tentei levantar, mas fui impedido pela mão de Song-na, que agarrou o meu pulso e se levantou, me encarando.
— EU NÃO VOU VOLTAR PARA AQUELE INFERNO. — Gritei, puxando o meu braço de maneira que ela me soltasse, tentei abrir a porta, mas a mesma estava trancada. Quando me virei, Song-na estava ajoelhada, o que me chocou.
— Jimin, por favor. Eu nunca faria algo para lhe machucar, eu nunca lhe mandaria de volta para aquele lugar, nunca. Mas, eu preciso de uma explicação. Por favor Jimin, me conte a verdade.
Cai sobre meus joelhos e apoiei minhas mãos no chão, tentando apagar da minha mente todas as imagens do passado que estavam brotando naquele momento. Após me recuperar, levantei e me sentei na poltrona.
— Song-na, por favor.... Acredite em mim.
Para resumir, eu posso ver e ouvir espíritos. Isso me assombra desde os meus três anos. Começou na minha festa de aniversário, quando durante o parabéns e enquanto traziam meu bolo, eu avistei uma criatura de pele podre que olhava para mim e gritava por ajuda. Chorei desesperadamente, e minha festa foi arruinada. As pessoas saíram dizendo que eu era uma criança birrenta e mimada.
Os anos se passaram e as visões foram piorando, até que quando eu completei 8 anos, meus pais resolveram que eu era louco e me internaram naquele inferno.
— Jimin, prestei serviço no mesmo hospital em que você ficou internado. O diretor de lá me contou que você tentou estuprar uma das médicas, e como não conseguiu estupra-la, você a empurrou contra a quina de um dos objetos do quarto e fugiu em seguida. A enfermeira teve um corte em sua cabeça que teve que levar pontos e foi distanciada de seu trabalho por segurança. Isso é verdade Jimin?
— Não. Aquela médica era um monstro, ela abusava de mim toda a noite. Meu quarto era o último do corredor do quarto andar, ninguém me visitava além dela. E como as paredes eram a prova de som, não importaria o quanto eu gritasse, ninguém poderia me ouvir. Depois de algumas semanas, ela passou a me drogar para que eu não tivesse forças para reagir. Eu tive que aguentar isso durante 6 anos, todos os dias.
— E como foi a sua fuga?
— Depois de anos tentando, eu comecei a ter controle sobre minhas veias, então nada passava sem que eu permitisse. Na última noite em que ela me abusou, quando estava pegando suas roupas no chão, eu a empurrei contra o móvel para que ela desmaiasse com a batida, eu nunca quis machucá-la. Quando ela caiu desacordada, vesti seu jaleco e cobri meu rosto com uma máscara. Do outro lado do meu corredor, havia uma janela, e foi por ela que eu escapei. Mas por ser alto, eu me desequilibrei e cai, machucando minha perna e meu olho.
— Foi então que você fugiu e veio para Seul?
— Sim.
Meu rosto estava inchado depois de chorar tanto. Song-na, que estava nas minhas costas, onde eu não podia vê-la, não falou mais nada.
— Song-na, me perdoe por não ter lhe contado tudo antes. Eu queria, mas tive medo do que pensaria de mim, ou de que não acreditasse em mim e me mandasse de volta para Busan. — Foi quando ela virou a cadeira rapidamente.
— Eu acredito em você Jimin, claro que eu acredito em você. — Ela me acolheu em seus braços e minhas lágrimas molharam sua blusa. — Tome um banho e tente dormir, não vou mais lhe perturbar hoje. Tenho certeza de que não foi nada fácil para você confessar isso tudo.
— Obrigado por acreditar em mim.
Me levantei e enxuguei minhas lágrimas, indo até o meu quarto e pegando roupas e minha toalha. Tomei um longo banho, parecia que o peso em meus ombros escorria com a agua quente do chuveiro, e descia pelo ralo. Eu me sentia mais leve por ter compartilhado aquilo com alguém. Song-na era a mãe que eu nunca tive. Após voltar para o quarto, adormeci, e pela primeira vez em muito tempo, não tive pesadelos.
...
Acordei assustado com o trovão forte e os relâmpagos que iluminavam o breu de meu quarto. Busquei pelo meu celular e vi que era madrugada. Estava suado e com a garganta seca, não é nada fácil ter pavor de algo.
Levantei-me para tomar um copo com agua e estranhei ao ver a luz acesa e Song-na sentada na mesa da cozinha, falando ao telefone. Então me atentei a sua conversa.
— Sim, eu estou com o fugitivo do seu hospital Diretor Lee. Eu o abriguei em minha casa quando o vi, tive pena dele e quis ajuda-lo. Ele está morando comigo a um mês e duas semanas. Estranhei o fato dele nunca ter me contado sobre o seu passado. E hoje, quando o contestei, ele mentiu descaradamente, o que prova que não está arrependido. Ele está dormindo agora, já preparei o seu sedativo, vou droga-lo com algo forte para que ele não acorde até a chegada da ambulância, e que o levem de volta para Busan.
Meus olhos escureceram e eu não consegui mais ver nada. Lembro que gritei algo e em seguida senti os pingos grossos da chuva caírem sobre mim. Os trovoes me atordoavam e os flashs de luz trazidos pelos relâmpagos me deixavam apavorado, mas eu não podia parar de correr. Lembro-me de gritar o nome de alguém, antes de cair inconsciente.
Em quem mais eu poderia confiar agora?
Jeon Jungkook
Estava deitado em minha cama e os trovoes e relâmpagos daquela madrugada de domingo e fizeram lembrar da noite passada com Jimin, bom, do sonho que tive com ele. Me sentia triste por saber que aquilo foi apenas minha imaginação, mas a lembrança me trouxe um sorriso no rosto. No meio daquela orquestra "tempestástica", eis que me assustei.
O clarão de um relâmpago veio acompanhado com o estrondo do trovão, e no meio deles, pude ouvir claramente uma voz familiar que gritou:
Jungkook-ah!
Jimin precisava de mim.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Peculiares | JiKook
FanfictionComo um livro escondido e empoeirado na última prateleira de uma estante, assim é a história aqui contada. Uma lenda, que a séculos esquecida retorna, dessa vez, trazendo consigo, dois protagonistas. Jeon Jungkook, um garoto tímido e de poucos amigo...