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Era a porra de uma maldita crise de ansiedade!

Onde eu estava com a cabeça quando decidi me mudar para esse condomínio pequeno, que nem tinha elevador nos prédios? Como posso ser tão idiota a porto de decidir algo tão importante sobre a minha vida baseada em um maldito pressentimento?

Estou morando aqui há dois meses e nada diferente aconteceu. Continuo fazendo minha terapia, indo para o ioga todas as manhãs e passando as minhas tardes inteiras sentada em frente ao computador sem conseguir escrever nenhuma linha nova. Minha vida simplesmente continua estagnada como antes e eu cheguei a pensar que tudo voltaria a se encaixar quando pedisse o divórcio e me mudasse.

— Merda! — grito assustada quando Pantera entra no corredor disparado, passando entre minhas pernas. Fecho os olhos com força ao ouvir o estrondo pela segunda vez — Um pressentimento de que as coisas iriam mudar... — resmungo irritada.

Com certeza aquele frio na barriga que senti quando entrei no apartamento, era um alerta desconhecido me mandando correr para o mais longe possível dali. Aquele maldito corretor não me informou que o motivo do apartamento estar tão barato era a merda do vizinho de cima. Como alguém consegue fazer tanto barulho?

Desde a hora que eu voltava do Ioga, podia ouvir estrondos. É criança correndo, gritando, objetos sendo jogados no chão, móveis arrastando. Parece que tem uma festa acontecendo todo santo dia! Talvez fosse esse o motivo por eu não conseguir escrever mais, afinal, não tenho um minuto de silêncio nesse lugar.

Outro estrondo absurdamente alto me fez encolher os ombros. Posso ouvir o rosnado alto do Pantera, que deve estar escondido em algum lugar e suspiro frustrada. Se esse gato já me odiava antes, agora então...

— Chega, não aguento mais isso! — estou decidida a pôr um fim nisso, não sei como os outros vizinhos não reclamaram ainda, mas eu não aguento mais.

Marcho decidida até o andar de cima e toco a campainha do 34C. Tento respirar fundo, porque tenho de que está saindo fumaça das minhas orelhas. Meu objetivo é conversar calmamente com o vizinho, pedir, implorar se fosse necessário, um pouco de...

Puta que pariu!

Trago a saliva observando atentamente o homem praticamente nu em minha frente, salvo apenas pela pequena toalha vermelha enrolada precariamente em seu quadril. Gotas de água escorrem por todo seu tronco. Acompanho o trajeto de uma gota que vai dos ombros largos até a barra da toalha. Minha boca seca, meu coração para de bater, minha pele inteira formiga. Ele foi esculpido por acaso?

— Posso ajudá-la?

Com muito esforço, consigo desviar o olhar para o rosto do homem. Preciso fechar minha mão com força quando a sinto formigar com vontade de tirar uma mecha de cabelo molhada de cima de sua testa. O que está acontecendo comigo? Eu vim aqui com um objetivo.

— Na verdade, sim — graças a Deus, consigo soar firme e não como uma adolescente virgem que molhou a calcinha com a visão dele — Sou sua vizinha de baixo.

— Ah, a nova moradora! Está precisando de alguma ajuda? — ele precisa mesmo cruzar os braços desse jeito? Os bíceps tencionaram, deixando as veias evidentes e sinto minhas pernas bambearem.

— An, bem... Estou precisando de um pouco de silêncio.

— Hum! Peço desculpas, mas são as crianças. Não existe nada que eu possa fazer quanto a isso — responde grosseiramente.

"Você deveria educá-las, para começo de conversa", preciso morder a língua para evitar dizer isso.

— Sei que crianças são complicadas, mas a situação está saindo do controle e ficando insuportável. Eu não consigo trabalhar... Céus, eu não consigo nem mesmo ouvir meus pensamentos.

O vizinho de cimaOnde histórias criam vida. Descubra agora