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A campainha soa alta e observo Pantera correr até a porta. Já sei de quem se tratava, então grito informando que a porta está aberta. Luna entra com um sorriso tímido e carrega o gato, esmagando-o em seus braços.

— Não me abrace segurando-o, por favor! — peço ao vê-la se aproximar de mim.

— Não acredito que você tem medo dele — rola os olhos e sorri de um jeito debochado demais para sua idade.

— Você não deveria estar se arrumando para a escola?

Luna dá de ombros soltando Pantera no chão, antes de sentar-se na ponta do sofá e dar um beijo rápido em minha bochecha. A forma que ela se acomoda ao meu lado e olha fixamente para televisão, me fez perceber que ela quer me dizer algo e está envergonhada, o que não faz muito seu estilo.

— Hoje é meu aniversário — murmura timidamente e arregalo os olhos.

— Luna, por que não me disse antes? — ela dá de ombros, puxa as pernas para cima e as abraça — Ei, por que você está assim?

— Meus pais não vão estar aqui comigo esse ano — sussurra apoiando o queixo nos joelhos. Meu coração se aperta ao vê-la desse jeito, conheço muito bem esse sentimento.

As datas não esperam nossa dor passar para chegarem. Eu ainda estava sofrendo desesperadamente quando o natal chegou, o ano virou, logo veio a páscoa, aniversário, feriados que costumávamos esperar ansiosos para passar mais tempo em família. Eu, que sou uma mulher de trinta anos, quase não consegui suportar a dor... Não é justo uma menina de nove anos estar lidando com essa mesma dor.

— Vem aqui, gatinha — a puxo pelos ombros em minha direção e a abraço.

Luna se agarra a mim com força, sentando-se de lado em meu colo. Eu posso sentir sua respiração trêmula quando deita a cabeça em meu ombro, mas não chora. Ela tinha uma necessidade absurda de demonstrar uma força que nem eu tenho e me sinto ainda pior por isso.

— Tenho certeza de que eles estão olhando por você, Luna! Eles devem estar fazendo uma grande festa lá em cima hoje, comemorando o dia que você chegou.

— Você acha mesmo?

— Claro que sim! O dia que você nasceu deve ter sido um dos mais felizes de suas vidas e jamais iriam te querer triste hoje. É dia de comemoração. Só se faz dez anos uma única vez.

— Só se faz qualquer idade uma vez — resmunga e rio baixinho, percebendo que ela já está um pouco melhor.

— Por isso sempre temos que comemorar!

— Esse ano não vou ter festinha e nem vou ver meus amigos antigos. Christopher disse que não tem dinheiro e nem espaço, mas vai pedir pizza hoje à noite. Não vai ser bem uma comemoração porque sempre jantamos isso e não vai ter bolo, mas... Você pode subir para comer com a gente?

Quero muito negar, não me imagino estando no mesmo ambiente que o irmão dela sem tentar matá-lo, mas quando ela se afasta do abraço e me olha ansiosa, com os lábios repuxados em um bico apreensivo, concordo. Mesmo ciente de que irei me arrepender, não posso negar algo assim sabendo que é um momento difícil para ela.

— Seu irmão sabe que está me convidando?

— Sim, é o meu presente de aniversário! — admite timidamente, o que fez meu coração se aquecer um pouco. Céus, eu estou me apegando demais a essas crianças e isso não pode ser algo bom.

XXX

Quando dá o horário combinado, subo as escadas com calma e toco a campainha com o cotovelo. Christopher abre a porta com um semblante indiferente, mas arregala os olhos ao ver o que eu trago em minhas mãos.

O vizinho de cimaOnde histórias criam vida. Descubra agora