Observo Christopher enrolado no lençol por um momento, então respiro fundo e abro completamente a cortina do quarto. As coisas não podem continuar desse jeito, eu não aguento mais ver o homem que amo se esvaindo assim. Sei que ele está sofrendo e sou uma das pessoas que mais pode compreendê-lo, mas ele precisa se reerguer e lutar. Ainda não terminou.
Christopher resmunga na cama, se vira e enfia o rosto no travesseiro. Desligo o ar-condicionado, abro a janela e puxo o lençol. Ele vai acordar querendo ou não.
— Levanta, Christopher! — exijo puxando o travesseiro — Você precisa reagir.
— Dulce, por favor, só me deixa quietinho aqui — suplica sem me olhar.
— Não vou deixar você quietinho aí! Você vai se levantar agora. Vá tomar um banho, porque nós dois vamos ao mercado, estou precisando reabastecer os armários e você vai me ajudar.
Ele me olha incrédulo, mas permanece deitado na cama. Coloco minhas mãos na cintura, impaciente com essa situação. Agora consigo compreender como Paco se sentiu ao perder Fernando e além de ter que lidar com sua dor, teve que me ver praticamente definhar na cama. A diferença é que as crianças não morreram e ainda não é o fim.
— Christopher Uckermann, levanta já dessa cama! — peço irritada — Eu não aguento mais, tá legal? Não aguento mais te ver assim! Deixei que você chorasse e sofresse no seu tempo, mas não aguento mais te ver destruído desse jeito. Chega! Está na hora de você se levantar e se reerguer para a próxima batalha — explodo.
— Que batalha, Dulce? Eu perdi a guarda, perdi as crianças — murmura enquanto esfrega o rosto e se recosta na cabeceira da cama.
Meu coração aperta ao vê-lo tão destruído. Não tem forças nem para brigar comigo, mas eu não desistirei dele. Prometi as crianças que não o deixarei desistir, prometi a ele que estarei ao seu lado durante essa batalha e farei minha parte.
— Paco já entrou com um recurso e está tentando uma liminar para que você possa visitá-los nesse período, Chris. Mas você precisa sair dessa cama, precisa voltar a viver — suplico, sentando-me na beirada da cama.
Ele me encara e trago a saliva. Seus olhos estão fundos, sem brilho algum e só consigo enxergar a tristeza e dor neles. Isso me destrói ainda mais. Vê-lo desse jeito me machuca, também estou sofrendo pelas crianças, mas estou sofrendo ainda mais por vê-lo tão derrotado.
— Não consigo — murmura — Você deveria me entender, perdeu o Fernando e eu perdi os quatro, Dulce.
Em um pulo, monto em seu colo e seguro seu rosto com força, obrigando-o a me olhar nos olhos.
— Nunca mais repita isso, Christopher! — digo séria — Perdi meu filho sem poder lutar por ele e nunca mais vou tê-lo de volta, por mais que deseje isso com todas as minhas forças, não posso mais lutar porque ele está morto, Christopher! As crianças estão vivas e estão esperando que você reaja e lute por ela. Essa batalha ainda não terminou, vamos lutar por eles até o último recurso e vamos trazê-los de volta, mas você precisa sair dessa cama e lutar — ele me encara com os olhos úmidos e meu coração se aperta. Suavizo o aperto de minhas mãos e o acaricio com meus polegares — Você precisa se reerguer para continuarmos lutando, meu amor. Quer que a assistente social coloque no relatório que você está prestes a perder seus empregos e não tem capacidade física, emocional e financeira para cuidar deles?
Roço nossos narizes quando as primeiras lágrimas começam a deslizar por seu rosto e o beijo suavemente nos lábios. Estou com tanta saudade do seu toque e carinho, mas entendo o que ele está sentindo, por isso dei todo o espaço que podia dar. Volto a encará-lo nos olhos.
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O vizinho de cima
Fanfiction+18| FINALIZADA | REVISADA Ainda se recuperando de uma profunda depressão causada pela morte prematura de seu filho e um tendo que lidar com um bloqueio criativo que a impede de cumprir seus prazos, Dulce Maria resolve mudar de vida e cidade em busc...