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Ainda de madrugada, mandei uma mensagem para Lucas dizendo que eu não poderia dar carona hoje. Inventei que tinha um compromisso mais tarde e passaria o dia inteiro fora de casa, queria que essa informação chegasse a seus irmãos, porque não tenho condição nenhuma de vê-los hoje.

Eu simplesmente não preguei os olhos a noite inteira. Precisei tomar alguns comprimidos para minha ansiedade, tentando controlar a vontade de tomar todas as cartelas que eu tenho e dar um basta nessa dor horrível que eu sinto em meu coração.

— Que saco! — resmungo ao ver meu celular tocar mais uma vez.

Paco e minha mãe estão me ligando a manhã inteira. Sei que eu preciso atender antes que eles apareçam em minha porta, mas estou me esforçando bastante para não começar a chorar e tenho medo de desabar assim que falar com eles. Minha vontade mesmo é desligar o celular e continuar o resto do dia aqui no escuro, apenas rezando para que tudo acabe logo.

Hoje é dia três de maio. O dia que meu filho faria sete anos e, coincidentemente, o aniversário de dezesseis anos da morte do meu pai. O mais engraçado, se você tem um humor mórbido, é que só superei essa data quando meu filho nasceu e recebeu o mesmo nome que meu pai, como homenagem. Fernando... Os dois homens que mais amei em minha vida e que já não estão mais aqui. Tenho um motivo dobrado para estar deprimida hoje.

— Eu estou bem, Paco — respondo, secamente — Só quero ficar sozinha.

— Então você não vem? — a decepção é nítida em sua voz e trago a saliva.

Ano passado minha mãe inventou de realizar um tributo no cemitério, onde os dois estão enterrados lado a lado e eu tive uma justificativa muito boa para não aparecer, mas esse ano, por eu já estar um pouco recuperada, ela realmente pensou que eu fosse. Quase não consegui ir ao enterro deles, quem dirá a um tributo daquele tipo.

— Não, Paco! Nunca disse que iria — ele suspira pesadamente na linha e preciso morder o lábio com força para me distrair um pouco e não chorar — Não consigo. . .

— Tudo bem. Vou dizer a sua mãe. Se precisar de algo, me liga?

— Não vou precisar de nada. Eu estou bem, acredite — não espero ele responder antes de desligar.

Sei que eu estou agindo de modo egoísta com Paco. Ele amava o nosso filho tanto quanto eu, mas eu simplesmente não consigo falar sobre Fernando, às vezes nem conseguia pensar nele. Estou decepcionando Paco e minha mãe e nem quero pensar que daqui a alguns dias vai ser o dia das mães e vou ter que lidar com essa dor outra vez.

Sem suportar mais a pressão que eu sinto em meu peito, tomo mais alguns comprimidos do calmante que minha psiquiatra receitou para noites de profundas insônias, porque sei que eu só vou acordar no dia seguinte.

XXX

Quero fingir que o dia anterior nunca existiu e por isso eu ignoro as chamadas perdidas da minha mãe, levanto cedo e sigo a minha rotina normalmente. Justamente por isso estou sentada encarando a tela em branco do computador, completamente frustrada por não conseguir escrever merda nenhuma. Quando ouço a campainha tocar, levanto aliviada por ter uma desculpa para não encarar o fracasso que minha carreira está se tornando.

— O que aconteceu? — pergunto assustada ao ver os três Uckermann's mais novos em minha porta. Luna e Alexandre estão com as expressões assustadas e olhos vermelhos. 

Tiro Gael dos braços da menina que o carregava sem jeito, com medo de que ele caia a qualquer momento e deixo que eles entrem.

— Podemos ficar aqui um pouco? — Luna pergunta fungando

O vizinho de cimaOnde histórias criam vida. Descubra agora