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Christopher e eu estamos nos falando todos os dias, e eu estou me sentindo uma adolescente que não aguenta ouvir a notificação do celular que já começa a sorrir. Não contei a ele que li todos os seus textos na primeira noite de viagem, são tão pessoais e íntimos, que me fazem querer conversar sobre isso pessoalmente. Então basicamente estamos em um flerte diário e infinito, nunca deixamos a conversa ficar quente demais e sei que quando nos encontrarmos pessoalmente, não vamos conseguir nos controlar muito, e a ansiedade para esse momento deixa tudo ainda mais gostoso.

Nossa conversa é basicamente uma troca de fotos, ele envia fotos de Pantera, de quando está cozinhando, quando sai com os amigos e, a minha tortura diária, quando termina de malhar, todo lindo e suado. Eu fico quente só de me lembrar daquele corpo no meu. Eu envio fotos dos lugares que estou conhecendo, de quando vejo coisas que me lembram a ele, das filas enormes que meus leitores formam nas sessões de autógrafos e, uma vingança pessoal, muitas fotos de biquínis nas piscinas dos hotéis e nas praias que conheço. Poses sensuais que tiro exclusivamente para deixá-lo maluco.

Apesar da saudade, estou me divertindo bastante com Maite. Saímos explorando as cidades, indo a pontos turísticos e festas locais. Nós até flertamos um pouco com outros homens, mas nunca passamos disso. Já aceitei que meu coração pertence a Christopher, ainda que não estejamos em um relacionamento de fato, e justamente por isso venho recusando todas as investidas de Marcos. Como trabalha na editora e precisa organizar os eventos, ele sempre viaja até nós nos finais de semana e costumamos sair todos juntos depois das sessões de autografo, mas me mantenho distante, nem me atrevo a flertar com ele para não dar esperanças de algo que nunca mais vai voltar a acontecer.

Wish You Were Here do Pink Floyd começa a tocar e suspiro. Cada vez que escuto a playlist que ele criou para mim, me apaixono ainda mais por esse homem. Como é possível amar tanto alguém assim? Não quero ser o tipo de mulher que compara, mas sempre pensei que Paco fosse o amor da minha e meus sentimentos por ele nem se comparam ao que sinto hoje por Christopher. Deixo a melodia da música me envolver enquanto olho umas fotos nossas na galeria do meu celular e sorrio amplamente ao ver seu sorriso. Estou tão concentrada nas imagens que me assusto quando uma mão aparece em frente ao meu rosto, tiro os fones rapidamente e ergo a cabeça.

— Oi?

— Desculpa, tem tempo que te chamo — Marcos sorri envergonhado.

— Sem problemas, eu estava com o fone. Já está na hora?

— Não, não. A livraria está organizando a fila, ainda temos meia hora — ele senta ao meu lado e coço a garganta, olhando-o um pouco sem graça — Escuta, descobri um lugar aqui em Salvador que tem vários covers de bandas de rock. Parece ser um evento bem legal, quer ir lá depois do evento?

— Claro — ele sorri amplamente — Mai adora rock, vai ser divertido.

— A Mai?

— Sim. Vamos todos juntos, não é? Como costumamos fazer? — seu sorriso some por alguns segundos, então aparece um forçado em seguida. Eu sinto uma pontada de pena, mas não tem nada que eu possa fazer.

— Isso, claro. Quando acabarmos aqui, vamos direto.

— Certo — ficamos em silêncio até que Gabriela, outra funcionária da editora, aparece para nos chamar.

A livraria tem uma espécie de teatro no subsolo e ele está lotado. Antes de começar a autografar os livros, eu consigo interagir um pouco com meus leitores, conversando sobre algumas histórias, respondendo perguntas. Fico um pouco surpresa quando me perguntam sobre Christopher, a maioria deles riem e dizem notar nossa interação nas redes sociais, mas eu acabo me esquivando das perguntas por estar na hora de começar os autógrafos.

O vizinho de cimaOnde histórias criam vida. Descubra agora