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Mando uma mensagem para Lucas algumas horas depois que Christopher sai, dizendo que eu ficarei fora durante o final de semana, mas que qualquer emergência, me ligue imediatamente. Depois de ter aberto essa caixa, de ter me entregado completamente as lembranças que eu tanto tento esconder, eu preciso ficar sozinha e me escondo em meu próprio apartamento.

Surpreendentemente, Pantera e eu criamos um vínculo durante a tarde. Ele dorme comigo nos dois dias seguintes e faz questão de se aconchegar em mim em todos os momentos. Até quando eu estou tomando banho, ele me segue e deita-se no chão frio me esperando, dizendo silenciosamente que eu não estou sozinha e me sinto grata por isso.

Eu sempre fui contra a ideia de ter um gato em casa. Sempre achei um animal arisco, tinha medo de que ele machucasse Fernando, sem contar o trabalho extra que me dava, já que Paco trabalhava fora o dia inteiro, mas nunca pude negar a conexão que Fernando tinha com Pantera. Os dois raramente se separavam.

Na manhã seguinte a que Fernando morreu, quando voltamos para casa, encontramos Pantera angustiado no quarto do nosso filho, miando alto, como se estivesse chorando tanto quanto nós dois. Como se soubesse desde o momento em que saímos correndo com Fernando que ele jamais tornaria a ver seu amigo. E a situação não mudou tão cedo, ele levou semanas sem sair dali, Paco simplesmente colocou a caixa de areia lá, junto com a comida e água. Enquanto eu mal conseguia chegar na porta, ele não conseguia sair.

Me sinto grata por meu filho ter experimentando o tipo de conexão com um animal que eu nunca tive antes e por Pantera está me permitindo ter a mesma experiência que ele.

Quando minha campainha toca no domingo a noite, abro rapidamente pensando ser a pizza que eu pedi, mas encontro Christopher parado à minha frente, com um brilho diferente nos olhos. Um brilho decidido e, ao mesmo tempo, desesperado.

— Prometeu me ajudar enquanto eu lutasse por eles. Vou precisar de um bom advogado, parece que terei que lutar na justiça contra meu tio.

Eu, literalmente, me jogo em seus braços, colando minha boca na sua e beijando-o desesperadamente. Meu coração acelera, minha pele queima outra vez, a alegria que se esvaiu nos últimos dias, volta com tudo.

Essa é a melhor notícia que eu posso receber, não apenas pelas crianças, mas por saber que eu não me enganei completamente com ele. Christopher não é mais aquele vizinho de antes, meu coração não está batendo mais forte pela pessoa errada e isso me deixa extremamente mais leve.

— Céus, Christopher! Eu estava odiando você — murmuro contra sua boca.

— Eu sei, também estava me odiando.

Christopher me beija outra vez enquanto me empurra para dentro do apartamento e fecha a porta com os pés. Me agarro a seu pescoço retribuindo ao beijo de bom grado. Sinto falta dele, já faz mais de duas semanas que não o beijo.

— Eu quero você — sussurra ofegante quando nos separamos — Mas as crianças estão sozinhas e eu não posso demorar.

— Certo, vamos torcer para dormirem no horário hoje — mordo seu queixo em resposta, fazendo-o rir levemente.

— Vamos lá para cima? — pede, me olhando carinhosamente — Tenho muito o que te contar dos últimos dias.

— Vamos, mas eu pedi pizza e ela já deve estar chegando.

— Eu também — nós rimos e nos beijamos mais uma vez, nos separando apenas quando a campainha toca.

Quando estou prestes a sair com Christopher, vejo Pantera sentado no meio da sala me encarando e sinto um aperto no peito. Ele esteve comigo nos últimos dias e eu vou deixá-lo aqui sozinho?

O vizinho de cimaOnde histórias criam vida. Descubra agora