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Acordar nos braços de Paco depois de tanto tempo é uma sensação estranha e reconfortante. Sei que ele está acordado porque está acariciando meu cabelo lentamente e suspiro. Apesar de estarmos bêbados, eu não me arrependo em nada do que fiz.

— Bom dia — murmura roucamente.

— Bom dia — sussurro — Que horas são?

— Seis horas — bocejo — Muito cedo, mas eu ainda tenho que trabalhar.

— Tenho ioga, posso te levar até o bar para pegar seu carro — ele concorda e beija meu ombro. Me aconchego mais em seus braços — Ontem foi bom...

— Isso significa que vai voltar para casa?

Meu corpo tenciona com a pergunta e trago a saliva, então sinto seu corpo balança e sua risada ecoa pelo quarto.

— Muito engraçado — resmungo, virando-me de frente para ele, que tem um olhar divertido.

— Pensou que eu estava planejando o casamento outra vez?

— Comeu palhaço por acaso? — aperto seu queixo com a mão.

— Comi você, serve? — arqueia a sobrancelha e bato em seu ombro — Estou brincando, calma — diz rindo — Não se preocupe, não estou pensando que isso vai mudar alguma coisa.

— Não me arrependo do que fizemos, mas não quero te magoar — sussurro.

— Não magoou, vamos dizer que isso foi uma despedida, certo? — sorri — Uma despedida bonita, divertida e sem promessas sobre o futuro.

— Obrigado, por isso — sorrio.

— Preciso tomar um banho, me acompanha? — arqueio minha sobrancelha, olhando-o divertida.

— Pensei que a despedida já tivesse acontecido.

— Ainda não fui embora — pisca — Mas não sinta-se obrigada a nada.

— Então vamos repetir as coisas aqui primeiro — o puxo pela nunca até que sua boca paira sobre a minha — Depois tomamos um banho — mordo seu lábio inferior.

— Você manda — concorda antes de me beijar.

XXX

— Não acho em lugar nenhum — Paco suspira — Merda, já estou atrasado.

— Dá próxima vez não torture uma mulher por tanto tempo com um vibrador que não vai se atrasar para audiência — digo antes de beber meu suco. Ele está abaixado em frente ao meu sofá, procurando a abotoadura que arranquei ontem e me olha, sorrindo maliciosamente em seguida.

— Valeu a pena — rolo os olhos, mas também estou sorrindo.

Vou até meu escritório e pego um grampo prendedor em minha gaveta, então retorno e me sento na banqueta da cozinha.

— Vem aqui que dou um jeito em sua blusa, depois procuro isso.

Paco para em minha frente e estende o braço. Eu prendo o grampo no pulso de sua camisa de um jeito que não fique tão aparente e não fique estranho. Então deslizo minhas mãos para a gola e dou o nó em sua gravata, ajeitando-a para que fique perfeita. Eu passei sua roupa para que não chegasse todo amassado na audiência, prolongamos demais nossa despedida e ele acabou cancelado todos os compromissos da manhã, mas não tinha como escapar daquele.

— Prontinho! — sorrio olhando-o — Tem certeza que não quer que eu te leve?

— Vou de Uber direto para o tribunal, ainda tenho uma hora para chegar lá e você vai acabar se atrasando para sua reunião se for me levar — segura meu rosto — Obrigado pela despedida e pelo almoço.

— Eu quem agradeço — sorrio maliciosa — Espero que isso não estrague as coisas entre nós.

— Não vai, eu prometo. Não estou com esperanças ou magoado, sei que seu coração pertence a outra pessoa, mas estou feliz que tivemos esse momento com você presente... — sei que está se referindo a época em que eu fingia o tempo todo e assinto, puxando-o levemente pela gravata e selando seus lábios carinhosamente.

— Você foi o melhor marido que alguém poderia ter e tenho certeza de que vai encontrar alguém que te ame e te faça incrivelmente feliz.

— Você também foi a melhor esposa que alguém poderia ter e tenho certeza de que vai acabar voltando com Christopher e ele vai te fazer incrivelmente feliz ou vou dar uma surra nele.

Gargalho, empurrando pelos ombros. Paco sorri, inclina-se em minha direção e beija minha testa suavemente antes de se afastar e ir embora. Sentindo-me completamente leve, vou me arrumar para a reunião.

Depois de uma longa conversa com a editora, concordamos em fazer daquele o meu retorno oficial. Dois livros meus serão lançados juntos e faremos uma turnê enorme e eu estou bastante animada com tudo o que estamos programando. Eu sou uma autora bem conhecida e depois que meu filho morreu, acabei desativando minhas redes sociais e praticamente perdendo o contato com meus leitores e eles sempre perguntam de mim em posts da editora, quando pensei em reativar meus perfis a editora pediu que segurasse mais um pouco para uma boa estratégia de marketing que colocaremos em ação ainda essa semana.

Estou animada não apenas para me reconectar com meus fãs, também porque vou passar algumas semanas viajando e sei que isso vai ser bom para mim. Eu estou precisando de novas experiências e aventuras.

XXX

Estou quase chegando à sala de reunião quando ouço meu celular tocar e vejo o número de Lucas solicitando uma chamada de vídeo. Combinamos que eu nunca ligaria ou mandaria mensagem por iniciativa própria, ele me ligava sempre que podia falar comigo. Acenei para Maite dentro da sala e procurei um lugar com menos barulho para atender.

Dul! — Luna e Alexandre gritam e sorrio amplamente ao vê-los.

— Meu Deus! Estou morrendo de saudades de vocês, meus pequenos!

Lu disse podíamos falar com você um pouquinho hoje.

Estamos sozinhos com a babá e ela está pondo Gael para dormir — Alexandre explica — Sabia que eles desistiram de colocar uma babá para mim?

Expulsamos a última quando colocamos uma barata em seu pé — Luna diz naturalmente e rio. Sei que a pobre coitada da babá não tinha culpa de nada, mas saber que eles estão deixando os tios de cabelo branco me deixa feliz.

— Se fizerem algo assim quando voltarem para casa, vão ficar sem como chocolate até os dezoito anos!

Você mesmo disse que ninguém fica de castigo por tanto tempo assim — Alexandre diz.

— Experimente me testar, mocinho — ele faz careta e rio — Como vocês estão?

Com saudades — Luna repuxa os lábios em um bico e suspiro — Falamos agorinha com o Chris, por que ele não está com você? — Lucas me olha através da tela e nega. Que ótimo, Christopher não teve coragem nem de contar para eles que não estamos mais juntos.

— Não estamos mais namorando, gatinha. Agora somos só amigos — Luna e Alexandre me encaram fixamente. O menino baixa o rosto e ela desvia o olhar — Isso não significa que vou me afastar ou que não vou estar presente na vida de vocês. Podem ter certeza de que os amo demais e que ainda vou colocá-los de castigo se aprontarem alguma coisa comigo, ouviram?

Pensei que quando voltássemos, íamos morar juntos de vez — ela diz — Sem você precisar ficar descendo para buscar roupa.

E que seriamos uma família para sempre — Alexandre complementa.

— Não vamos deixar de ser uma família porque não estou namorando seu irmão. Eu amo vocês, não vou me afastar nunca. Prometo que assim que estiverem com seu irmão outra vez, vamos nos ver, está bem?

Acho que minha tia chegou, melhor vocês dois irem para seus quartos e não falem sobre isso, ouviram? — Lucas diz aos os irmãos e os se despedem de mim rapidamente antes de saírem — Assim que der, ligo de novo, Dul.

— Está bem! Amo vocês.

Também te amamos.

O vizinho de cimaOnde histórias criam vida. Descubra agora