O vizinho de cima

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— Você foi ao cemitério? — Liana pergunta surpresa e concordo — E como foi?

— Ah! Não foi como eu esperava, não senti nada... Não fez sentindo nenhum estar lá, não para mim, mas Christopher tinha razão, sabe? Eu precisava sentir aquela dor. Foi terrível, mas... Acordei mais leve no dia seguinte.

— E como o namoro está? — dou de ombros.

— Não sei... Quando saímos do cemitério, ele me levou para a praia e passamos algumas horas ali em completo silêncio, depois jantamos e dormimos juntos em seu apartamento. No dia seguinte voltamos ao que estávamos antes, mas sem conversar sobre o que eu disse.

— Não falaram nada a respeito? — nego.

— Ele parece estar fingindo que nada aconteceu e eu estou indo da onda dele.

— Não tem vontade de conversar sobre isso?

— Claro que tenho, mas também não quero estragar tudo. Estar com Christopher me faz bem, sei que ela gosta de mim, talvez não sinta o mesmo e não queria estragar as coisas. Estou tentando seguir o conselho da Annie, tive meu tempo para assimilar meus sentimentos, vou dar o tempo dele.

— Dulce, quando é sua próxima consulta com o psiquiatra? — arqueio a sobrancelha confusa com a pergunta.

— Hã... Peguei a última receita no mês passado, então acredito que final do mês...

— Eu quero que você remarque para o quanto antes, certo?

— Algum problema, Liana?

— Não. Só penso que está na hora de começar o desmame da medicação. Você está evoluindo muito bem.

— E todas as coisas que pensei antes do Christopher chegar?

— Você mesma disse que não ia fazer aquilo e acredito em você. O desmame não significa que você vá parar com as medicações de vez, a dose vai ser reduzida, então vamos monitorar sua estabilidade emocional. Talvez seja necessário retomar os medicamentos, não crie muitas expectativas, certo?

— Tudo bem — concordo, mas a verdade é que eu já criei muitas.

XXX

O mês de novembro se passa tão rápido que sou pega de surpresa quando Anahí me liga, insistindo para que eu aceite fazer um churrasco em sua casa no meu aniversário. Eu não me sinto muito em clima para comemorar, porque Christopher está com os nervos à flor-da-pele desde a última audiência de guarda das crianças há duas semanas, já que com a ajuda de Natália, Manuel conseguiu o laudo do dia em que Gael se engasgou, além de ter sido péssimo para ele, Paco está um pouco irritado com o juiz que está julgando o processo, o que me deixa preocupada com toda a situação.

Conseguimos disfarçar a situação com as crianças, mas Lucas é esperto demais e prometemos não esconder nada dele. O menino está tão tenso com toda a história que nem quis comemorar seu aniversário direito. Sem querer deixar passar em branco, comprei ingressos para ele ir em um show de uma banda que gostava com a namorada e, ainda assim, foi necessário insistir muito para que fosse.

Por mim, eu poderia passar meu aniversário em casa com Christopher e as crianças, mas eu não comemoro há dois anos e sei que meus amigos também sentem falta de passar esse dia comigo. Faço Anahí prometer que só convidaria os mais próximos e concordo.

— Duds? — Gael chama quando eu estou colocando-o no berço e suspiro impaciente.

Christopher está concentrado no artigo que precisa entregar essa semana, então eu coloquei as crianças na cama sozinha, mas já estou com os braços doendo e caindo de sono. É a quarta vez que eu tento colocá-lo no berço, estou ninando-o há mais de duas horas e nada dele dormir.