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Uma das minhas épocas favoritas do ano é o carnaval. Amo ver as pessoas sentindo-se segura para saírem nas ruas vestindo o que querem, sem medo de julgamento, sendo quem quiserem ser, sem se preocuparem com a sociedade, apesar de acreditar que isso deveria acontecer todos os dias. Carnaval é o período em que os tabus perdem as forças.

Quando criança, amava sair correndo pelas ruas usando minhas fantasias coloridas, jogando serpentina e confetes para cima. Quando adolescente, amava ir para os camarotes com minhas amigas, às vezes, passava tanta purpurina em meu corpo que eu reluzia por dias. Quando me tornei adulta, passei a conhecer a magia de estar de pipoca, correndo atrás de qualquer trio que passasse, comprando cerveja barata e xingando todos os políticos quando a vontade de ir ao banheiro batia e não achávamos um limpo.

Para minha felicidade ficar completa, Paco gosta tanto quanto eu e já viajamos para conhecer os carnavais mais famosos do mundo. Quando Fernando chegou, transmitimos esse amor para ele. Em seu primeiro carnaval, ainda não tinha completado quatro meses, mas o levamos no bloquinho infantil que passou pelo nosso condomínio. E todos os anos fazíamos questão de levá-lo para bloquinhos, deixá-lo se fantasiar do que quisesse e até saímos algumas vezes com fantasias de família. Depois que ele morreu, essa festa tão colorida se tornou preta e branca para mim, mas esse ano eu pretendia que as coisas fossem diferentes. Christopher e eu levaríamos as crianças nos bloquinhos infantis e pretendíamos sair com nossos amigos nos outros dias. Isso foi antes dele perder a guarda deles e terminar comigo. Não tenho nenhum animo para enfrentar essa festa, mas Anahí não parecia pensar desse jeito.

— Vocês duas vão sim! Já chega dessa fossa, não é? Vocês passaram os últimos finais de semana enfiadas nesse apartamento, comendo porcaria e vendo romance barato.

Maite está me acompanhando fielmente em meu momento pós término, principalmente porque ela e Christian também terminaram. A briga deles começou quando ela soube que ele sabia exatamente o que o amigo pretendia fazer naquela sala de reunião e o estava protegendo, e terminou quando ele descobriu que ela andava trocando mensagens constantes com o Will. Então terminaram civilizadamente... Quer dizer, Christian disse que ela era idiota por continuar caindo no papo do ex-namorado – e não posso discordar dele –, Maite jogou um copo de água em sua cara e gritou para o restaurante inteiro ouvir que eu quase levei um chifre com a ajuda dele – e sei que ela gritou meu nome bem alto, porque um conhecido meu estava no lugar e me mandou uma mensagem solidária.

— Não quero ir — rolo os olhos.

— Nem eu!

— Vocês vão! — Maite e eu nos olhamos por um tempo.

— Não vamos não — dizemos juntas.

— Vão sim! Sabe porquê? Você — aponta para mim — Não vou deixar você ficar em casa porque Christopher foi um verdadeiro babaca, antes você tinha um bom argumento para eu não te arrastar pelos cabelos, agora não tem mais. E você — aponta para Maite — Estava conversando com o Will, Mai? Pensei que se deu conta que esse cara é cilada.

— Nisso eu tenho que concordar — Maite me fuzila com o olhar — Estou falando a verdade. Se eu estivesse no lugar do Christian, também ficaria puta.

— Será que ninguém vai acreditar que eu não pretendia voltar com ele? — Anahí e eu nos olhamos e depois negamos. Maite suspira — Tudo bem, eu pensei nisso, mas... Eu gosto do Chris.

— O Will terminou com você, viajou para a Europa e não lembrou de você por meses... Agora que voltou e te procura, você simplesmente cede? — Anahí diz.

— É difícil — suspira e deita a cabeça em meu ombro — Tínhamos tantos planos juntos...

— Você também tinha muitos planos com o Christian e estava radiante, Mai. Tinha anos que eu não te via assim.

O vizinho de cimaOnde histórias criam vida. Descubra agora