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— Estou me apaixonando por ele — admito a Liana depois de relatar minha última semana — Não tem outra explicação para o que estou sentindo.

— Fico feliz que tenha admitido isso, Dulce...

— É tão complicado, Liana — suspiro, enterrando o rosto entre as mãos — Não consigo entender meus sentimentos em relação a ele, é tudo tão diferente do Paco.

— São homens diferentes, Dulce. Obviamente os sentimentos não vão ser os mesmos, porque você tem tanto medo?

— E se eu não estiver realmente apaixonada e for apenas uma atração que vai passar em algum momento? Porque eu me lembro exatamente do que senti quando me apaixonei por Paco e as coisas nunca foram dessa forma — suspiro profundamente encarando-a — Liana, você me conhece desde nova, quando eu cheguei em uma consulta dizendo estar com ciúmes do Paco? Passei um terço da minha vida ao lado dele e nunca senti isso e com Christopher... Era a mulher quem o olhava e eu já me sentia incomodada.

— Certo, vou repetir. São homens diferentes e sentimentos diferentes, Dulce — diz usando o mesmo tom que eu usava com Fernando quando repetia uma explicação.

— Então acha que não estou apaixonada por ele?

— Não disse isso, Dulce.

— Mas disse que são sentimentos diferentes... E paixão não é o primeiro passo para o amor? — ela concorda — Eu amava o Paco, tenho certeza dos meus sentimentos por ele...

— Dulce — me interrompe calmamente — Não disse nesse sentido. O fato de você ter amado um, não significa que não pode amar o outro. Essa história de que amor verdadeiro só acontece uma vez em nossas vidas, não é a realidade de todos... Olha o poliamor aí quebrando esse tabu.

— Então está me dizendo que amo os dois de forma diferente?

— De certa forma sim, apesar dos seus sentimentos por Paco ter mudado nos últimos anos, não é?

— Sim, não o amo como antes. Não me vejo mais sendo mulher dele, mas ainda tenho sentimentos e um carinho enorme... Como se o amor tivesse mudado, de homem para amigo... Entende?

— Claro que sim! Isso é muito comum, acredite — sorri compreensivamente — O que estou querendo dizer é que você não pode medir seus sentimentos por Christopher baseada nos sentimentos que tinha por Paco. Você se apaixonou por Paco aos dezenove anos, estava deixando a adolescência e entrando na fase adulta, se descobrindo como mulher, quem queria se tornar, moldando seu futuro e enraizando ainda mais sua personalidade.

— Eu sou uma pessoa muito diferente de quem eu era há dez anos atrás.

— Exatamente. Mesmo apaixonada por Paco, você levou um ano para estar com ele e só cederam ao que sentiam quando seus amigos precisaram de vocês. Paco sempre foi um homem muito certinho, correto, responsável, carinhoso... Não é e nunca foi um homem impulsivo. Você era jovem e se moldou a esse relacionamento, se acostumou com essa personalidade porque, de certa forma, você também era assim. Correta, responsável, madura demais para sua idade, o que é compreensível depois do que aconteceu com seu pai.

— Nós sempre nos encaixamos muito bem, sempre acreditei que seria para sempre — murmuro, sentindo as lágrimas se acostumarem em meus olhos.

— É verdade. Sempre combinaram como casal... E o fato de ser tão madura, a fez querer uma família tão cedo. Tinha apenas vinte e dois anos quando engravidou, Dulce... Algo planejado, mal tinha se formado na faculdade, já estava casada e com um filho a caminho. Você tinha ânsia em formar sua própria família, viu em Paco um reflexo de seu pai.

O vizinho de cimaOnde histórias criam vida. Descubra agora