06

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Estou terrivelmente atrasada para encontrar Maite, com toda certeza, ouviria um sermão daqueles. Sempre me disseram que quando estamos atrasadas as coisas tendem a piorar e isso se prova ser verdade quando abro a porta e Pantera dispara para fora.

— Pantera! — grito.

O pânico me paralisa por alguns segundos, mas só de pensar na possibilidade de nunca mais vê-lo, saio disparada pelo corredor. Fernando e Paco nunca me perdoariam se algo acontecer ao gato.

— Pantera, volte aqui — peço, procurando-o pelo corredor do prédio.

Já estou prestes a correr escada abaixo quando vejo Christopher subindo com o gato preto aninhado em seu peito.

— Acho que alguém estava tentando fugir — brinca e respiro aliviada.

— Céus, pensei que nunca mais veria esse gato — confesso, tragando a saliva.

— O peguei a tempo. Tome — Christopher estende o gato em minha direção e recuo um passo. Nunca o carreguei e tenho bastante receio de fazê-lo.

— Seria pedir muito que você o soltasse dentro do meu apartamento? — pergunto, timidamente.

Christopher me encara por um tempo com um brilho divertido em seus olhos. Penso que ele vai fazer alguma piada, jogar o gato em minha direção e se mandar.

— Não me diga que você tem medo de gatos? — dou de ombros — Então por que você o tem?

— Não é meu, estou cuidando dele para uma pessoa — e em teoria, eu não estou mentindo, certo?

Christopher volta a subir as escadas e me acompanha até o apartamento, para minha surpresa e gratidão. O observo soltar o gato cuidadosamente em cima do sofá enquanto analisa minha sala com um olhar curioso.

— O que é isso? — aponta para a confusão de prateleiras, pontes e nichos na minha parede e suspiro.

— Teoricamente, era para ele poder se exercitar e brincar, mas ele é preguiçoso demais para isso.

— Para quem não gosta de gato, seu apartamento parece bem equipado para um — é verdade, além do playground em minha parede, tem uma torre em um canto da sala, brinquedos e arranhadores espalhados no ambiente.

— Um amigo me ajuda a cuidar dele... Digamos que ele gosta de gatos, então sempre traz essas coisas para cá — coço a nuca. Outra vez, eu não estou mentindo, certo?

— Não seria mais fácil ele ficar com o gato? — o deboche se faz presente e, ao contrário de todas as outras vezes que Christopher usou esse tom comigo, eu rio.

— Talvez, mas ele trabalha o dia inteiro fora de casa e eu sempre estou em casa, então...

— Você foi a sorteada para cuidar dele — completa, sorrindo — Bem, acho melhor eu subir e trocar de roupa.

Só então percebo que a camisa branca, amassada e com a cara do Darth Vader estampada está cheia de pelos de Pantera. Um problema que eu conheço bem, já que é algo que sempre me irrita profundamente. Nunca tenham um sofá branco e um gato preto. Nunca!

— Por uma roupa passada, talvez? — debocho fazendo-o dar os ombros.

— Não sei passar roupas. Preciso ir ou vou me atrasar para reunião.

Certo. Com toda certeza vou me arrepender disso.

— Tira a camisa, Christopher.

Ele arregala os olhos, consulta o relógio no pulso e sorri debochadamente.

O vizinho de cimaOnde histórias criam vida. Descubra agora