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Passei a evitar Christopher com todas as minhas forças durante a última semana, o que significa que eu não via Gael desde que ele esteve em minha casa. Estou morrendo de saudades dele, mas não tenho coragem de ir vê-lo e ter que falar com o babaca do seu irmão. Pelo menos as crianças são grandes o suficiente para descerem até meu apartamento todos os dias e eu continuo dando caronas a Lucas, o que nos deixa cada dia mais próximos.

Graças a Deus, eu continuo escrevendo todos os dias. Já virei algumas noites em claro na frente do computador e se continuar nesse ritmo, conseguirei terminar o livro antes do prazo. Isso está deixando Maite bastante empolgada e aliviada. Aliás, toda a minha família está animada por eu estar conseguindo escrever outra vez.

Provavelmente vou virar mais uma noite em frente ao computador. Estou escrevendo um momento bem empolgante entre os protagonistas e...

— Merda! — resmungo quando ouço a campainha soar alto. Odeio ser interrompida nesses momentos. Penso em ignorar até que desistam e... — Merda! — o som irritante começou a soar sem parar, não me deixando outra opção além de atender.

Nem consigo abrir a porta por completo e Christopher invade meu apartamento, batendo a porta com força enquanto me olha furioso. Recuo assustada.

— O que está fazendo aqui? — minha voz sai trêmula.

— Eu devia ter mantido você distante de mim e dos meus irmãos desde o primeiro momento — grita, me fazendo estremecer de medo — Nunca mais quero ver você perto da gente ou eu vou chamar a porra da polícia — o medo se dissipa completamente com a ameaça e a irritação volta ainda mais forte.

— Que merda você está dizendo? O que você pensa que eu fiz agora?

— Não se faça de sonsa! Sabe muito bem o que fez! Acredita que isso é o melhor para eles?

Christopher joga uma folha amassada em minha direção e continua berrado coisas que não fazem o menor sentindo para mim. O ignoro, abro a folha e começo a ler o que tem escrito. Alguém o denunciou ao conselho tutelar por não conseguir cuidar corretamente das crianças e isso fez uma investigação ser aberta.

— Cheguei na porra da minha casa hoje e tinha um assistente social dizendo que eu posso perder a guarda dos meus irmãos, porque você me denunciou! — espera... O quê? Ele realmente está pensando que eu fiz isso?

— Você está louco? — grito, fazendo-o se calar — Nunca faria isso, jamais correria o risco de mandar essas crianças para um abrigo porque você é um babaca.

— Você disse para mim que eu nunca deveria estar tomando conta deles. Disse com todas as letras e então essa denúncia acontece?

— Christopher, eu não fiz isso — falo pausadamente, mantendo meu tom calmo. Sei que ele tem motivos de sobra para acreditar nesse absurdo. Eu não o procurei para pedir desculpas e explicar o que aconteceu, também não foi a primeira vez que eu disse algo parecido — Gosto dos seus irmãos, não arriscaria fazer algo que pudesse prejudicá-los. Sei que você tem motivos para pensar que fui eu, mas não fiz isso. Só disse isso porque estava irritada com a situação, mas desde aquele dia na praia... Vejo você com outros olhos, certo? Você não tem ideia de como cuidar deles, é irresponsável em muitos momentos, mas está tentando.

Christopher parece se acalmar à medida que vou falando. Seus ombros caem e sua expressão suaviza, vejo a fúria dando lugar ao desespero em seus olhos.

— Eu vou perdê-los. Ninguém vai permitir que continuem comigo vendo o caos que sou. Meu apartamento está uma bagunça, as crianças não estão indo bem na escola, Lucas mal fala comigo, eu... Eu não sei o que fazer — vê-lo tão vulnerável me fez sentir um aperto no peito. Me aproximo o suficiente para segurar suas mãos e tentar consolá-lo de alguma forma.

O vizinho de cimaOnde histórias criam vida. Descubra agora