O vizinho de cima

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— Será que você pode se acalmar, por favor? — olho atentamente para Paco, que respira fundo — Estou ficando irritado com esse estalar de dedos.

— Só você.

— Na verdade, eu também estou — Christopher diz ao meu lado e o olho surpresa. Paco ri, me olhando vitorioso e reviro os olhos.

— Era só o que me faltava — murmuro, cruzando os braços.

Passamos o último mês inteiro nos preparando para esse momento e eu estou ansiosa. Trouxe um comprimido na bolsa, caso a situação fique fora de controle. Hoje é o dia da primeira – e se Deus quiser, última – audiência do processo de guarda das crianças.

Paco convenceu Christopher que a melhor opção de acordo seria oferecer a Victor visitas constantes as crianças. Finais de semanas e feriados alternados, e divisão das férias. Foram necessárias algumas reuniões para que Christopher cedesse, estava tão irritado com o tio por causa de tudo, que não queria ele se aproximasse dos irmãos. Eu consigo entendê-lo, mas sei que Paco está certo.

As crianças não sabem o que está acontecendo, fizemos o possível para manter a rotina deles normal. A única coisa que mudou é Lucas sendo babá dos irmãos todas as quartas-feiras. Meus jantares com Paco se tornaram reuniões com Christopher em meu apartamento. Eu estou me esforçando para entender toda a parte burocrática da situação enquanto ajudo Christopher a fazer a lista de possíveis testemunhas – incluindo Muriel que se prontificou rapidamente em ajudá-lo.

Meus pensamentos são deixados de lado quando vejo Victor entrar no local em que estamos, acompanhado da esposa e de Manuel Velasco, seu advogado. Rolo os olhos, eu nunca gostei desse cara. Eles não fazem questão de se aproximar e agradeço, porque sinto os corpos de Christopher e Paco tencionarem.

— Não sabia que Manuel é o advogado dele — murmuro para Paco.

— Também não — responde irritado.

— Quem é esse cara? — Christopher nos olha confuso.

— Um imbecil. Não deveria ser advogado nem do diabo — Paco responde cerrando os punhos.

— Ele foi colega de Paco e Alfonso na faculdade — respondo olhando para Christopher — Namorou a Anahí e não aceitou muito bem quando ela apareceu grávida de Alfonso.

— Não aceitou muito bem? — Paco me olha ironicamente, depois olha para Christopher — Esse babaca apareceu no apartamento das duas quando soube e fez um barraco, tentou bater nela e Dulce se meteu.

— Ele bateu em você? — Christopher me olha furioso e nego, entrelaçando minha mão a sua.

— Me empurrou, Paco e Poncho chegaram nessa hora — bufo irritada ao me lembrar dessa situação — Annie quase perdeu o bebê de tão nervosa que ficou.

— Depois da surra que levou, nunca mais se aproximou delas. Ainda assim, não gosto e não confio nele.

— Eu também não — suspiro deitando minha cabeça no ombro de Christopher que permanece tenso — Mas vamos nos acalmar, certo? Vamos focar na audiência e esquecer esse desgraçado.

— Me sentiria mais tranquilo se você pudesse entrar comigo — Christopher diz e beijo seu pescoço delicadamente.

— Eu também, meu bem. Mas vou ficar aqui fora mandando energias positivas, eu prometo.

Os nomes de Victor, a esposa e Christopher, soam no alto-falante, pedindo que se dirijam a sala onde ocorrerá a audiência. Me levanto com eles e me despeço de Christopher com um abraço demorado, depois fico observando-os entrar. Eu não posso acompanhá-los, porque meu nome não está nos processos e, diferente dos filmes, o tribunal não passa de uma sala com uma mesa grande onde o Juiz senta-se na ponta e cada parte de um lado. Não faz sentindo nenhum eu estar lá dentro.