Tears In Heaven

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Capítulo Trinta e Um: Tears In Heaven

"Será que você saberia o meu nome
Se eu te visse no Paraíso?
Será que as coisas seriam iguais
Se eu te visse no Paraíso?
Eu preciso ser forte
E seguir em frente
Porque eu sei que não pertenço
Ao Paraíso

Será que você seguraria na minha mão
Se eu te visse no Paraíso?
Será que você me ajudaria a levantar
Se eu te visse no Paraíso?
Eu encontrarei o meu caminho
Pela noite e pelo dia
Porque eu sei que não posso ficar
Aqui no Paraíso

O tempo pode te deixar deprimido
O tempo pode fazê-lo curvar-se
O tempo pode despedaçar o seu coração
Fazê-lo implorar por favor
Implorar por favor".

- Tears In Heaven, Eric Clapton

Damon Salvatore POV
NYC, New York – EUA

Me escondo na cozinha por alguns minutos.

Elena tocou num assunto delicado, e pela primeira vez em seis meses a ouço falar sobre o nosso bebê. O que me mostra que sua terapia realmente havia a provocado. Desde aquele fatídico dia, em que soube o que ela havia feito, não há um só momento em que eu não lamente a minha atitude. Desde então, Elena se fechou numa casca; quebrou as pontes, ergueu os muros e não permitiu a minha entrada.

Pego um copo d'água e volto para o quarto, mas o que surpreende é que Elena já está dormindo um sono profundo. Seu semblante é leve, e imagino que ela esteja aliviada agora. Deixo o copo na mesa de cabeceira e me deito com cuidado para não a acordar. Mas, não consigo interromper a vontade que sinto de admira-la dormir.

O lençol tampando apenas seu bumbum, deixando sua pele macia, nua e exposta para que eu como seu espectador pudesse ver. Seu cabelo agora em um cumprimento menor jogado para o lado, o lábio inchado e vermelho e o semblante de alguém que fora bem comida. Ficar estes quase dois meses longe de Elena fora o máximo, que consegui suportar – e aposto que um fator determinante fora, que ela também estava empenhada em se afastar. Por mágoa e esperança de que pudéssemos nos consertar.

Eu havia a perdoado por sua atitude imprudente, mas não deixava de me culpar. Tomei este arrependimento como um fardo pesado e difícil, quando descobri mal conseguir acreditar que era a realidade e não tive coragem de contar para ninguém. Mal era capaz de conversar com Elena a respeito disso. Em partes é por vergonha de mim mesmo, da maneira em que agi – não como um homem de verdade, que aprendi ser, apenas como um garoto medroso que acha ser possível fugir da própria pele. Contudo, há um pequenino e traiçoeiro pedaço da minha mente que culpa Elena por seu ato.

Ela roubou de mim uma oportunidade, decidiu por conta própria dar fim na nossa narrativa juntos e não pediu a minha opinião a respeito. Mal esperou que eu refletisse sobre o que havia acontecido e as possibilidades do nosso futuro. Elena havia usado uma porção enorme de egoísmo, quando escolheu abortar o nosso filho. Este pensamento cruel rodava minhas mentes às vezes e eu o afastava sempre. Porque, estava ciente sobre a minha reação pouco favorável aquele bebê e que Elena é dona do próprio corpo – jamais caberia a mim obriga-la a continuar com uma gravidez indesejada.

Também não apontaria o dedo para sua atitude, no sentido de a julgar, pois convenhamos, a sociedade já possuía o seu papel de advogada de acusação. Proferindo péssimas frases de efeito, utilizando de crenças e religiões para culpar mulheres, afim de tornar ainda mais doloroso um ato que por si só traz sofrimento o suficiente.

Lembrar daquele dia me causa um arrepio na nuca.

Mas, eu ainda mantive a lembrança fresca do meu filho ou filha tomado de mim. Às vezes sonhava com ele, em um campo florido, num dia ensolarado e feliz. O bebê estava sempre em um berço debaixo de uma árvore, e eu caminho até ele e o pego nos braços. Nunca consigo ver seu rosto, mas sei que é o meu filho, pois sinto uma paz tremenda.

Love Under RubbleOnde histórias criam vida. Descubra agora