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*Christopher*

Eu fiquei no hospital durante toda a manhã. Anahi veio visitar a Fuzz e saiu aos prantos depois de conversar com o médico. Como eu queria que tudo isso fosse um pesadelo no qual eu pudesse me acordar a qualquer momento. Mas quando eu vejo ela, quando eu toco nela, eu percebo que não, isso não é um pesadelo. Isso é real!

Minha vida mudou da noite para o dia. Ontem mesmo eu a beijei, abracei e disse o quanto eu amava ela. E hoje? Hoje ela está no leito de um hospital com todo o seu sistema nervoso morto.

Saí do hospital durante a tarde, necessitava esfriar um pouco a cabeça. Ou pelo menos tentar digerir toda a desgraça que está acontecendo na minha vida. Comecei a caminhar pelas ruas de Nova York até ver a ponte onde aconteceu o primeiro beijo entre Fuzz e eu. Fui até lá e comecei a observar os carros passando em alta velocidade por baixo da ponte.

— Que vida miserável a minha! — falei pra mim mesmo. — De que adianta ser um dos melhores médicos dessa cidade e não poder salvar a vida da minha mulher? — comecei a chorar. — É destino, mais uma vez você quebrou as minhas pernas e me deixou impossibilitado de andar! O que você quer agora? Tirar a minha vida?

Quando eu falei isso uma ideia surgiu na minha cabeça. Eu não tenho mais nenhum motivo pra continuar vivendo, minha vida já morreu. Minha filha tem seus avós, eles irão cuidar dela melhor que eu. Subi em cima do corrimão da ponte e abri os braços, sentindo o vento tocar o meu rosto e a enorme vontade de me jogar.

— Moço? — uma mulher gritou chamando a minha atenção. Me virei e encarei a ruiva que me observava atentamente. — Você está bem?

— Sim. — falei e voltei para a mesma posição que eu estava. — Poderia me deixar sozinho, por favor?

— Não. Eu não sei o que aconteceu com você, mas isso não é motivo pra você dar um basta na sua vida.

— Você nem me conhece! — dei de ombros. — Vai embora!

— Não! — ela subiu em cima do corrimão e ficou ao meu lado. — Eu acabei de perder a minha irmã.

— Sinto muito. — falei sem olhar em seu rosto.

— Tudo bem. Nós duas nunca nos damos muito bem, sempre fazíamos de briguinhas pequenas enormes guerras. — sorriu de lado. — Faz cerca de oito anos que nós deixamos de nos falar. E durante todos esses anos eu nunca tive coragem de dizer o quanto eu a amo. — uma lágrima escorreu pelo seu rosto, mas logo ela enxugou. — Eu também tenho todos os motivos para me jogar daqui de cima, e mesmo assim eu não vou fazer isso.

— Minha esposa teve morte cerebral. — vi seus olhos se arregalarem em surpresa. — Não, não precisa ficar impressionada com isso. Ela é o amor da minha vida, a mulher dos meus sonhos. — falei lembrando dos nossos momentos mais felizes. — Ela sempre me abraçava quando eu chegava do trabalho, conversava comigo sobre todos os assuntos e demonstrava o quanto ela me amava.

— Sinto muito por sua perda. — me olhou com tristeza em seus olhos. — Daqui pra frente você deve lembrar dos momentos bons que teve com ela. Do seu sorriso, do seu abraço, lembrar de quando ela entrou na igreja vestida de noiva. — sorriu encarando o horizonte. — Eu tenho certeza que ela amava muito você, e isso é o que importa.

— Sim... — suspirei passando as mãos no rosto. — Eu tenho uma filha, uma garotinha que precisa ser cuidada.

— Mais um motivo pra você descer daqui. Ela é só uma criança e não tem culpa de nada. — ela tocou meu braço. — Eu não sei você, mas esse vento está me deixando com um pouco de frio.

— Está mesmo. — dei um sorriso fraco. — Por que você decidiu parar pra conversar comigo?

— O mundo está precisando de mais amor e empatia. Muitas pessoas morrem diariamente por não terem ninguém pra conversar, ninguém para lhes aconselhar. E eu resolvi fazer a diferença, e é isso o que as pessoas deviam fazer. — me encarou. — Se você se jogar daqui, será só mais um entre milhares que se foram. Mas se você descer e voltar para casa, poderá ajudar outras pessoas a não se jogarem de pontes como essa. — olhei para ela e depois para os carros abaixo de nós cerca de quatro ou cinco vezes.

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