Pressentimento

12

*Dulce Maria*

Talvez Christopher tivesse falado tudo aquilo para fazer com que eu me sentisse melhor, mas confesso que senti algo diferente ao ouvi-lo falar todas aquelas coisas lindas para mim. Eu consegui ver sinceridade em seu olhar, e aquilo me deixou muito feliz. Será que depois de tanto tempo eu estava prestes a voltar a confiar em alguém?

Continuei meu trabalho depois que Christopher me levou de volta para o hospital. Tomei um banho rápido no banheiro de funcionários e vesti outra roupa que sempre ficava dentro do meu armário. Meu coração ainda estava quebrado e a tristeza ainda estava estampada na minha face, até porque não é todos os dias que você leva chifre, mas eu estava conseguindo disfarçar, até agora o único que havia percebido o meu estado deprimente era Christopher, o que me deixou bastante impressionada.

— Maite, posso te fazer uma pergunta? — encarei Maite que arrumava suas coisas sobra a mesa. Ela me permitiu chamá-la pelo primeiro nome, e agora nós duas estávamos mais próximas.

— Claro, Dulce. — sorriu.

— Você gosta do Christian? — ela franziu a testa e encarou o chão. — Ok, isso foi estranho.

— O que eu sinto por ele é diferente, é como se nós dois estivéssemos conectados ou algo do tipo. Mas nós não podemos ficar juntos, Dulce. — se entristeceu.

— Por que? — me sentei em uma cadeira de frente para ela. — Por que vocês não podem ficarem juntos?

— É complicado... — começou a chorar. — Eu... Dulce, eu não. — gaguejou.

— Maite, eu sou sua amiga e nunca irei te julgar por nada. Se você se sentir segura para se abrir comigo pode fazer isso, mas se isso não te deixa confortável eu irei entender. — acariciei sua bochecha.

— Ok, eu vou falar. Mas Dulce... — me encarou como se o que ela iria falar fosse extremamente importante. — Não conte isso para o Christian em hipótese alguma, certo?

— Prometo que nada irá sair da minha boca sem a sua permissão. — ela assentiu e encostou suas costas na cadeira.

— Antes do Christian dizer que estava gostando de mim eu já sabia que estava completamente apaixonada por ele. Nós sempre fomos amigos e ele sempre me contou tudo, inclusive que o maior sonho dele é se casar e ter vários filhos. — senti meus olhos lacrimejarem já imaginando o que ela estava prestes a dizer. — Eu sofri com depressão durante muito tempo, mas hoje eu tomo remédios para controlar meus pensamentos e faço terapia três vezes por semana com um psicológico. — mirou o chão como se estivesse lembrando de algo.

— Não me diga que... — ela abaixou a cabeça e lágrimas começaram a sair de seus olhos. — Meu Deus! — também comecei a chorar.

— Eu já tentei acabar com a minha vida várias vezes e das mais variadas formas, Dulce. Mas a última vez foi a pior... — suspirou. — Eu dei várias facadas em minha barriga na tentativa de acabar com a dor que eu sentia dentro de mim, mas eu não consegui. Na terceira vez que enfiei a faça ela atingiu o meu útero. — começou a soluçar. — Minha mãe me levou para o hospital, mas já era tarde demais. Essa maldita doença me fez acabar com o meu maior sonho... ser mãe.

— Eu... Eu sinto muito, Maite. — fui até ela e a abracei. — Isso nunca passou por minha cabeça. Eu sempre pensei que eu fosse a mulher forte, mas não. A mulher forte dessa história é você, que mesmo tendo passado por tudo isso continua com a cabeça erguida.

— Eu não sou forte, Dulce. Eu só queria ser feliz. — apertei o abraço. — Eu o amo tanto, mas tenho que fingir que esse sentimento não existe para que assim ele não vá embora como todos os outros. — me encarou. — Eu já tive diversos relacionamentos durante toda a minha vida, e todos os caras sempre me disseram que eu era um lixo e que isso aconteceu por culpa minha.