23

283 42 12
                                    

*Christopher*

Ouvir Dulce dizer que também estava apaixonada por mim fez o meu coração acelerar. Se eu não estivesse preso a uma cama, com certeza eu teria pegado ela em meu colo e beijado seus doces lábios com muita vontade.

Era incrível a forma como aquela mulher me trazia paz e felicidade, quer dizer, Dulce era a minha felicidade e o meu ponto de paz. O meu único desejo era que aquele lindo sentimento nunca acabasse. Confesso que depois que ela saiu de dentro do quarto, tive que me beliscar algumas vezes para comprovar que aquilo não era um sonho, e para a minha alegria tudo aquilo era real.

Eu mal via a hora de voltar para a minha casa e retirar esses malditos gessos de meu corpo. Aquele acidente foi culpa minha, eu não devia estar dirigindo estando bêbado e a morte daquele pobre cidadão percorria meu pensamento a todo momento. Pedi que meu advogado entrasse com uma medida para mim, assim eu ficaria livre de qualquer acusação. Eu paguei uma indenização para a família e arquei com todos os custos do velório e do enterro. Gracas ao meu bom advogado eles não entraram com um processo contra mim.

Por fim o grande dia de voltar para casa havia chegado. Passar dois dias inteiros no hospital não é para qualquer um. Meu lugar era como médico e não como paciente, e a partir daqueles dias eu descobri o motivo de meus pacientes ficarem tão estressados. Ficar naquele quarto foi uma situação horrível.

Implorei para que Dulce aceitasse ser minha enfermeira particular. De início ela odiou a ideia, mas quando eu afirmei que ela receberia o dobro de seu salário no hospital, aceitou sem  pensar outra vez. Seria incrível passar um tempo sendo cuidado por Dulce.

— Você tem certeza que está bem, cara? — Christian perguntou assim que me colocou sobre a minha cama.

— Tenho sim. Só estou com um pouco de desconforto na minha perna, mas um travesseiro debaixo dela já ajuda. — informei.

— Ok. — caminhou até meu guarda roupa e pegou um travesseiro em uma das gavetas. — Você tem certeza que essa história vai dar certo? Quer dizer... a família da Dulce não gostou nada quando ela confessou estar gostando de você. Dona Blanca até disse que iria desconsiderá-la como filha caso vocês dois ficassem juntos. — eu não conseguia acreditar no que meus ouvidos estavam escutando naquele momento. Que tipo de mãe dona Blanca era?

— Eu sei que a família Saviñón é um pouco complicada. Eu fui obrigado a ouvir essa ladainha durante muito tempo até eles aceitarem eu namorar com Fernanda, e quer saber? Valeu muito a pena. — sorri. — Se for preciso passar por todo esse processo novamente para eu conseguir ficar com Dulce, eu vou passar com toda certeza.

— É tão bom te ver feliz assim novamente. — colocou o travesseiro debaixo da minha perna fraturada. — Eu realmente torço pra vocês dois darem certo. Vocês já passaram por tantas coisas, tantas perdas e mesmo assim estão aí firmes e fortes. — deu um tapinha na minha perna.

— Ai! Isso doeu! — fiz uma careta de dor e ele riu.

— Eu sei. — sentou-se ao meu lado na cama. — Já escolheu os padrinhos para a Vitória?

— Ainda não pensei nisso. — e eu realmente não tinha pensado nesse assunto.

— Hum. — assentiu. — Qualquer coisa eu estou aqui. — insinuou.

— Talvez eu escolha o meu melhor amigo pra isso. — toquei seu braço. — Christian, quer ser o padrinho da minha filha?

— Nem precisa perguntar novamente. É claro que eu quero. — deu um pula da cama.

Eu não poderia pensar em outra pessoa para ser o padrinho de Vitória além de Christian. Aquele louco e um pouco atrapalhado era uma das únicas pessoas que eu confiava inteiramente. Nós dois poderíamos até ter nossas diferenças, mas ele era o meu irmão de outra mãe, o meu conselheiro e principalmente, Christian era o meu melhor e único amigo.

Depois que Christian saiu de dentro do quarto eu me vi completamente sozinho encarando fixamente aquele teto branco. Não consegui afastar da minha mente as lembranças de Fernanda, e não deixei de pensar que talvez fosse cedo demais para assumir um relacionamento com outra pessoa, a final faziam apenas três meses que seu corpo foi cremado. Sim, talvez eu estivesse indo rápido demais, mas é que aquele sentimento estava me consumindo em alta velocidade e era mais forte que eu.

— Boa noite. — Dulce me comprimentou ao atravessar a porta.

— Boa noite, Maria. — sorri.

— Vou logo avisar que as pessoas do hospital estranharam muito o fato de você me convidar para ser sua enfermeira particular. — passou a mão sobre a testa. — Até mesmo o Dr. Sebastian que é um grande amigo nosso.

— Não precisa dar bola para tudo o que eles dizem, Dulce. — falei. — Senta aqui. — bati levemente com a mão na cama. — Como você está trabalhando exclusivamente para mim agora, eu queria te pedir algumas coisinhas.

— Meu Deus, Chris. O que você vai pedir? — vi seu rosto ficar completamente vermelho.

— Ei, calma. — tentei deixá-la calma e afastar qualquer pensamento que ela estivesse tendo naquele momento. — Eu só quero uma massagem, só isso.

— Ok. — sorriu de lado. — Me dar a mão para eu te levantar.

Assenti e ela me ajudou a ficar sentado sob a cama. Eu estava de costas para ela, enquanto ela subiu na cama e ficou atrás de mim. Dulce encostou a ponta de seus dedos lentamente em meus braços e começou a tirar a camisa que eu estava vestindo naquele momento. Suas pequenas mãozinhas passeavam sob as minhas costas nuas, eu até senti suas unhas arranharem minha pele vez ou outra.

Quando ela colocou suas mãos em meus ombros senti todo o meu corpo arrepiar, ela deve ter percebido pois apertou aquela parte com mais força. Suas mãos trabalhavam como uma verdadeira profissional. Quando eu menos esperava senti seu rosto chegar mais perto de mim, fazendo eu senti sua respiração na minha orelha. Ela continuou movimentando suas mãos enquanto depositou um beijo de boca aberta no meu pescoço, fazendo o meu corpo se arrepiar novamente.

— Lembra que eu estou todo quebrado? — sorri e ela se afastou. — Se você continuar, eu não vou me segurar e com certeza irei me quebrar todinho novamente.

— Desculpa, acabei esquecendo esse detalhe. — se aproximou e beijou meus lábios. — Vou preparar o leite da Vitória, daqui a pouco eu venho com o seu jantar.

— Ok, gatinha.

Antes de sair do quarto, Dulce pegou o controle remoto da televisão e deixou ao meu lado na cama. Liguei a TV em The Originals e comecei a assistir os episódios finais da última temporada. Não demorou muito para minha Maria voltar para onde eu estava, e trouxe com ela uma bandeja com um prato de estrogonofe.

— Você que fez? — perguntei.

— Não, não. Cheguei na cozinha e a cozinheira já tinha feito. — sorriu. — O que você está assistindo?

The Originals. — informei.

— Já concluí todas as temporadas. O Klaus e o Elijah vão mor... — fui obrigado a interrompê-la.

— Não conta, por favor. — pedi e ela abaixou a cabeça.

— Desculpa. Quer que eu coloque a comida na sua boca para eu me redimir por ter dado esse spolier?

— Sim, por favor.

Dulce colocou a comida na minha boca, mas em nenhum momento olhou em meus olhos ou demonstrou estar interessada em fazer aquilo. Suspirou algumas vezes, o que me fez estranhar bastante pois aquele não era o comportamento de Dulce María Saviñón.

— Aconteceu alguma coisa, Maria? — toquei seu braço, mas ela não respondeu nada. — Dulce?

— Não foi nada. — forçou um sorriso.

— Eu sei que aconteceu alguma coisa. O que foi? — insisti.

PressentimentoOnde histórias criam vida. Descubra agora