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*Christopher*

Ar. Eu preciso de ar. Tudo em mim doía, minhas pernas estavam cansadas e meu corpo tremia devido a água gelada. Ao longe eu conseguia avistar o iate, Fernanda estava dançando ao som de uma música com uma garrafa de bebida da mão. Era incrível como ela era capaz de esquecer tudo o que eu dizia e continuar bebendo mesmo estando grávida.

Por sorte, a velocidade do iate era baixa e eu consegui acompanhá-lo. Subir não foi uma tarefa muito difícil, aproveitei que eu havia deixado uma pequena janela aberta e entrei. Peguei a primeira toalha que vi pela frente e enrolei meu corpo, aquela água gelada foi capaz de deixar meus pés e mãos quase roxos.

Fui até onde Fernanda estava, Eric estava ao seu lado encostado no corrimão. Os dois pareciam estar discutindo algo muito sério, eu nunca havia visto o rosto de Fernanda tão vermelho daquela forma.

— Posso saber o que está acontecendo aqui? — me aproximei fazendo os dois darem um sobressalto de susto.

Amor? Pensei que você estivesse nadando. — Fernanda me encarou, mas logo desviou o olhar.

— Não, Fernanda, você que me empurrou no mar e me deixou lá. — ela me encarou com a testa franzida.

— Que audácia! Isso é mentira, eu nunca fiz isso! — ela se irritou. — Você só está com raiva por eu estar conversando com o Eric.

— Não, minha querida. Você sabe que eu não sinto ciúmes de você com ele, o Eric é gay. — ri. — Mas agora você vai parar de beber e nós vamos para casa, lá você me explica direitinho o seu motivo para me jogar no mar.

Assumi o controle do barco e retornamos para casa. Aquela era uma comemoração entre amigos, Eric iria viajar para a Europa no dia seguinte e queríamos nos despedir dele da melhor forma.

— Agora você pode me explicar o que foi aquilo? — perguntei ao fechar a porta da nossa casa atrás de mim.

— Você sabe que o Eric é gay, não precisa se preocupar com ele. — se jogou em cima do safá.

— Não falo em relação a isso.

— Christopher, meu amor. Se você vai voltar a afirmar que eu te joguei no mar e te deixei para morrer, eu te levo agora mesmo em um psiquiatra. Acho que você está ficando louco. — gargalhou. — Eu te amo, bebê. Eu nunca faria isso com você. — se levantou, veio até mim e me beijou. — Esquece isso, tá?

— Tá.

[...]

— Não consegue dormir? — Dulce veio até mim. Seu camisola branco se balançava com o vento que vinha da varanda.

— Não. — puxei sua cintura e a fiz sentar no meu colo. — É possível você sentir raiva, saudade e amor pela mesma pessoa?

— Sim, meu bem. — ela acariciou meu queixo. — Você e Fernanda viveram algo lindo, uma relação que durou anos. E Vitória é o fruto mais belo que vocês dois poderiam gerar. Você não precisar ter vergonha de estar com saudade dela, amor. — me deu um selinho. — Você a amava muito e sofreu bastante quando a perdeu. Você não está com raiva, só está chateado por ela ter escondido um segredo tão grande.

— As vezes eu me pergunto como pode você me entender tanto. — sorri. — Obrigada, Dulce.

— Tem uma forma de você agradecer. Sai dessa varanda e volta pra cama comigo. — assenti e voltamos para o quarto.

[...]

Mais um dia no hospital. Eu assumi novamente o meu lugar na presidência e voltei para a minha rotina normal. Eu quase não via Dulce durante o dia, afinal, Maite quase a obrigou ficar em sua equipe. Mas de vez enquando nós dávamos uma escapada de leve, se é que me entendem.

Eu estava sentado sobre a minha mesa, olhando fixamente a tela do meu celular. Minha galeria se dividia entre fotos de Vitória, Dulce e até mesmo de Heloísa. Aquela garotinha de sorriso sapeca estava linda sem os dois dentinhos da frente. Eu ficava emocionado todas as vezes que lembrava do que ela falou no outro dia, que ela nos amava. Eu também a amo, eu me identifico com ela. Assim como ela, eu também me senti perdido quando perdi meus pais em um acidente. Helô não precisava se sentir sozinha, ela tinha eu e Dulce para cuidar dela e ajudá-la em tudo. Mas será que isso já era o bastante?

Sai da minha sala rapidamente, avisei a minha secretária para cancelar tudo o que eu iria fazer naquele dia. Eu precisava falar com Dulce urgentemente. Quando eu colocava uma coisa na cabeça, ou eu fazia, ou passava o resto da vida se lastimando.

— Dul? — a peguei pela cintura de surpresa. — Preciso falar com você.

— Percebi que o assunto é sério, mas você poderia ter mandado mensagem ao invés de quase me matar do coração. — ela colocou a mão sobre o peito.

— Se você passar mal nós estamos em um hospital. — dei de ombros. — Eu pensei seriamente numa coisa. — segurei sua mão e guiei ela até um corredor vazio. — Sei que isso é um grande passo, mas eu preciso fazer isso.

— O que, Chris? — ela parecia nervosa.

— Eu amo você e estou muito feliz por você estar morando comigo. Eu pensei, pensei e pensei, e acabei chegando a conclusão de que eu amo Heloísa da mesma forma que amo você e minha filha. — ela arregalou os olhos e colocou a mão sobre a boca.

— Não me diga que.. — a interrompi.

— Espera, eu não terminei. — sorri. — Aquela criança precisa de alguém para cuidar dela, alguém para protegê-la e amá-la como se fossem seus pais. — ela já estava com o rosto molhado de lágrimas. — Você quer adotar a Helô comigo?

— Eu também ía ter essa conversa com você e perguntar a mesma coisa. Eu amo aquela menina desde a primeira vez que vi ela. Esse é o maior presente que você poderia me dar, amor. — ela me abraçou. — Eu te amo, te amo, te amo.

— Eu também te amo, pequena. Eu sei que faz pouquíssimo tempo que nós estamos juntos, mas você já me ensinou tantas coisas, me fez sentir tantas emoções diferentes. Eu quero construir uma vida com você, a partir de agora, meu amor. — uma equipe de enfermeiros estagiários ia passando por nós. — EU SOU COMPLETAMENTE APAIXONADO POR ESSA MULHER! — gritei e eles começaram a bater palmas. — Eu sou apaixonado por você. — a beijei.

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Notas do autor:

Eu sei que demorou, mas enfim chegou o dia em que eles irão adotar a Helô.

(Obs: Se eu não atualizar mais os capítulos aqui, é pq eu devo ter morrido com a possível live com os seis hoje. Brinks rsrs)

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