Três

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Enquanto estávamos nos três sentados em uma mesa,de frente para o salão de dança reclamando dos engomadinhos que não sabem dançar
Chega um homem todo de branco

- Srta.Rae - diz o homem, que tem uma cara de quem se chama Reginald Bartolomeu ou algo nessa ideia

Ele faz uma reverência e, por milagre, sua peruca não cai no prato de Addi,eu troco um olhar incrédulo com ela enquanto ele não está olhando.

- Sua alteza real, o príncipe Nick,gostaria de saber se a senhorita lhe daria a honra de uma dança.

Addi fica boquiaberta, emitindo um som vocálico baixo, e Ondreaz abre um sorriso sarcástico.

- Ah,ela adoraria - Ondreaz diz. - Passou a noite torcendo por esse pedido.

- Eu... - Addi começa a dizer e para, sorrindo mesmo enquanto lança um olhar cortante para Ondreaz - É claro.Seria um prazer.

- Excexente - Reginald-Bartolomeu diz, se vira e aponta por trás do ombro.

Lá está Nick,em carne e osso, com a beleza clássica de sempre: o terno sob medida, o cabelo claro bagunçado, as maçãs do rosto salientes e a boca depicada e simpática.

Ele tem uma postura impecável inata, como se um dia tivesse saído completamente formado e adulto de algum belo jardim de buquês.

Ele me encara e algo parecido com irritação ou adrenalina enche seu peito.

Deve fazer um ano que eu não converso com Nick O rosto dele ainda é insuportavelmente simétrico.

Nick me cumprimenta com a cabeça, como se eu fosse apenas mais um convidado qualquer, não a pessoa que ele venceu ao sair primeiro na Vogue quando éramos adolescentes.Eu pestanejo,me encho de fúria e observo Nick virar seu maldito queixo esculpido na direção de Addi

- Olá,Addison-Nick diz, e estende a mão educadamente para ela,que está corada. - Você sabe dançar valsa?

- Eu... tenho certeza que consigo acompanhar - ela diz, e pega a mão dele com cautela,como se ele estivesse pregando uma peça, o que eu pens ser muito generoso com o senso de humor de Nick

O príncipe a leva em direção ao grupo de nobres girando.

-O que foi isso? - Eu digo, olhando fixamente para o pássaro de guardanapo que meu irmão estava fazendo- Ele decidiu me fazer ficar quieto de uma vez por todas seduzindo a minha melhor amiga?

- Ah,irmãozinho - Ondreaz diz. Ele estende o braço e dá um tapinha na minha mão - É fofo você achar que tudo gira em torno de você.

- Pois deveria.

- Esse é o espírito.

Eu erguo os olhos para a multidão onde Nick está girando Addi pelo salão. Ela está com um sorriso neutro e educado no rosto, enquanto ele fica olhando pelo ombro dela, o que é ainda mais irritante.
Addi é incrível. O mínimo que Nick pode fazer é prestar atenção nela.

- Mas você acha que ele realmente gosta dela-Ondre encolhe os ombros

- Vai saber. A família reaa é esquisita. Pode ser uma cortesia ou... Ah, ali está.

Um fotógrafo real apareceu para tirar uma foto deles dançando,que eu sei que vai ser vendida para a People da próxima semana.

- Ele até que é bom nisso - Ondreaz comenta.

Eu chamo o garçom e decido passar o resto da festa ficando sistematicamente bêbado.

Eu nunca contei - nem nunca vou contar - para ninguém, mas vi Nick pela primeira vez quando eu tinha doze anos.

Eu só penso nisso quando está bêbado.

E eu tenho certeza que vi o rosto dele no noticiário antes, mas essa foi a primeira vez em que o vi de verdade.

Addi tinha acabado de fazer quatorze anos e gastou parte do dinheiro que ganhou com a edição de uma revista adolescente de cores ofuscantes.

O amor dela por tabioides cafonas começou cedo.

No centro da revista havia minipôsteres que dava para tirar e colar dentro do armário.
Se você tomasse cuidado e erguesse os grampos com a unha, era possível tirá-los sem rasgar.

Um deles, bem no meio, era a foto de um menino.

Ele tinha o cabelo cheio e dourado, grandes oljos verdes,um sorriso de tirar o fôlego,e um bastão de críquete apoiado no ombro.

Devia ser uma foto espontânea, porque não tinha como alquela confiança alegre e ensolarada ser posada.

No canto inferior da página, em letras azuis e rosa:
PRÍNCIPE HENRY.

Eu ainda não sabia dizer o que exatamente o fazia voltar,mas eu entrava escondido no quarto de Addi, encontrava a página e passava a ponta dos dedos no cabelo do garoto, como se pudesse sentir sua textura.

Vergonha,eu diria

Quanto mais meus pais subiam na carreira política, mais eu começava a se conformar com o fato de que o mundo logo saberia quem eu era.

Nessa época eu às vezes pensava no retrato e tentava canalizar um pouco da confiança tranquila do principe Nick

(Eu também tinha considerado erguer os grampos com os dedos para tirar a foto e guardá-la no meu quarto,mas nunca chegou a fazer isso.Minhas unhas eram curtas demais; os grampos eram feitos para unhas grandes como as de Addi.)

Mas então chegou o dia em que eu conhece Nick - ou chegaram as primeiras palavras frias e distantes que Nick disse a ele - e eu constastei que tinha entendido tudo errado,que o menino lindo e sincero da foto não era de verdade.

O verdadeiro Nick era bonito,distante,sem graça e fechado. Essa pessoa a quem os tabiloides o comparavam sem parar, com quem ele mesmo se comparava, se achava melhor do que eu e do que todos os outros.

Eu não conseguia acreditar que algum dia quis ser como ele.

Continuei bebendo e alternando entre pensar nisso e se forçar a não pensar nisso, desaparecendo na multidão e dançando com herdeiras europeias para esquecer.

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Hello minha gente

Espero que tenham gostado desse capítulo
Me desculpem pelos erros

Até o próximo

Att: A autora

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