Na realeza

Trinta e nove

Ondreaz me ajuda a encher uma mochila com uma calça jeans,um par de sapatos e um exemplar antigo de O prisioneiro de Azkaban,visto uma camisa limpa e sai aos tropeços do quarto.

Zahra está esperando no corredor com uma mala para ela e um terno recém-passado meu,um azul-marinho discreto que ela parece ter julgado apropriado para conhecer a rainha.

Ela falou muito pouco para ele,exceto que o Palácio de Buckingham fechou todos os canais de comunicação,e que eles vão simplesmente aparecer e exigir uma reunião.

Ela parece confiante de que Shaan vai concordar e disposta a derrubá-lo fisicamente se ele disser não.

O sentimento que está apertando minha barriga é bizarro.

Minha mãe aceitou que fossemos a
público com a verdade,o que é incrível,mas não há razões para esperar que a coroa faça o mesmo.

Posso receber ordens explícitas de negar tudo.Penso que pode pegar Nick e fugir se isso acontecer.

Eu tenho quase certeza absoluta que Nick não aceitaria fingir que é tudo mentira.

Eu confio em Nick e confio em mim mesmo.Mas era para termos mais tempo.

Há uma entrada lateral isolada da Residência pela qual eu posso sair sem ser visto, e Ondreaz e meus pais o encontram lá.

— Eu sei que isso é assustador — Minha mãe diz —,mas você dá conta.

— Acaba com a raça deles — meu pai acrescenta.

Ondreaz me abraça, e eu ponho os óculos de sol e um boné e saio correndo pela porta em direção a qualquer que seja o caminho aonde tudo isso vai dar.

Cash e Amy estão esperando no avião. 

Me pergunto brevemente se eles se ofereceram para a missão, mas estou tentando recuperar o controle de minhas emoções,e isso não vai ajudar.

Dou um toque no punho de Cash ao passar, e Amy tira o olhar da jaqueta de couro em que está bordando flores amarelas e me cumprimenta com a cabeça.

Tudo aconteceu tão rápido que, agora, com os joelhos dobrados junto ao queixo enquanto saem do chão, essa é a primeira vez que consigo realmente pensar em tudo.

Percebo que não estou incomodado que as pessoas saibam.Nunca fui de esconder as
pessoas que namorava e o que curtia, embora nada nunca tenha sido parecido com isso.

Mesmo assim,a minha parte mais boba e arrogante está um tanto feliz de finalmente poder assumir que Nick é meu.

Sabe o príncipe? O solteiro mais desejado do mundo? Sotaque britânico,rosto de um deus grego, pernas enormes? Meu.

Mas essa é apenas uma fração muito minúscula de tudo. O resto é um nó de medo, raiva,violação, humilhação, insegurança,pânico.

Há uma diferença entre as falhas que todos podem ver — sua boca grande,seu temperamento imprevisível, seus impulsos ardorosos — e isso.

É por isso que ele só usa os óculos de grau quando não tem ninguém por perto: ninguém deveria saber o quanto ele precisa deles.

Não ligo para o que as pessoas pensam sobre meu corpo e escrevem sobre sua vida sexual,real ou imaginada.

Me importo que elas saibam,com suas palavras particulares, o que bate em
Meu coração.

E Nick.Deus,Nick.

Aqueles e-mails — aquelas cartas — eram o único lugar em que Nick podia dizer o que pensava de verdade.

Não havia nada que não estivesse expresso ali: Nick ser gay,a reabilitação de Dixie, o fato de a rainha manter Nick no armário de maneira tácita.