Trinta e Cinco

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Narrado em terceira pessoa
Capitulo meio grandinho hehe

Tony acorda sozinho.

Leva um momento para tudo se reorientar em volta do ponto fixo em seu peito onde a noite de ontem acabou.

A cabeceira elaborada cor de ouro, o edredom bordado e pesado, o lençol de sarja por baixo, que é a única coisa no quarto que Nick realmente escolheu.

Ele passa a mão no lençol, sobre o lado de Nick da cama. É frio ao toque.

O Palácio de Kensington é cinza e sombrio pela manhã.

O relógio sobre a cornija da lareira mostra que não são nem sete horas ainda, e uma chuva forte bate contra a enorme janela,revelada pelas cortinas entreabertas.

O quarto de Nick nunca teve muito a cara dele, mas, no silêncio matinal, se revela em
pedaços.

Uma pilha de cadernos em cima da mesa,o de cima com uma mancha de tinta de uma
caneta que estourou em sua bolsa num avião.

Um cardigã largo,gasto e remendado nos
cotovelos, pendurado sobre uma poltrona antiga perto da janela.

A coleira de David pendurada na maçaneta.

Ao lado, tem um exemplar do Le Monde na mesa de cabeceira, embaixo de um volume
gigante com encadernação de couro das obras completas de Wilde.

Ele reconhece a data: Paris. A

primeira vez em que eles acordaram um ao lado do outro.

Ele fecha bem os olhos,sentindo pela primeira vez na vida que deveria parar de ser tão
enxerido.

Está na hora, ele percebe,de aceitar apenas o que Nick pode lhe dar.

Os lençóis têm o cheiro de Nick.

Coisas que Tony sabe:

Um. Nick não está aqui.

Dois. Nick nunca disse sim para nenhum tipo de última noite futura.

Três. Esta pode muito bem ser a última noite em que ele vai conseguir sentir o cheiro de Nick em alguma coisa.

Mas: quatro. Perto do relógio sobre a cornija, ainda repousa o anel de Nick

A maçaneta gira, e Tony abre os olhos e encontra Nick, segurando duas canecas com um sorriso fraco e indecifrável.

Ele está de moletom de novo, umedecido pela névoa da manhã.

— Seu cabelo pela manhã é realmente uma maravilha a ser contemplada — é como ele quebra o silêncio.

Ele se aproxima e se ajoelha na ponta do colchão, oferecendo uma caneca a Tony.

É café com canela e um cubo de açúcar.

Ele não quer sentir nada sobre Nick saber como ele gosta de seu café, não quando está prestes a levar um pé na bunda, mas sente.

No entanto,quando Nick olha para ele de novo,o observa tomar o primeiro bendito gole de café,o sorriso volta com tudo.

Ele abaixa a mão e segura um dos pés de Tony por cima do edredom.

— Oi — Tony diz com cautela, estreitando os olhos por sobre o café. — Você parece… menos irritado.

Nick dá um riso bufado.

— Olha quem fala. Não fui eu quem invadiu o palácio num acesso de fúria para me chamar de “cuzão idiota filho da puta”.

— Em minha defesa — Tony  diz —,você foi um cuzão idiota filho da puta.

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