Quarenta e seis

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Os gritos de comemoração começam como um burburinho,um estrondo e então uma
tempestade,vindos do outro lado da divisória,das colinas que cercam a arena e da cidade que cerca as ruas,do país inteiro.
Talvez até de alguns aliados sonolentos em Londres.

Ao seu lado,Nick,cujos olhos estão cheios de lágrimas,pega o meu rosto com as duas
mãos e me beija como se fosse o final do filme,grita e me empurra para junto de sua família.

As redes são cortadas no teto, os balões caem e eu vou cambaleando até uma multidão e o peito do pai, um abraço delirante,Ondreaz que está chorando desastrosamente, e Leo,que consegue
estar chorando ainda mais.

Addi está espremida entre seus dois pais orgulhosos e sorridentes,gritando do alto dos pulmões,e Thomas está jogando panfletos da campanha de Lopez no ar
feito um mafioso com notas de cem.

Ele vê Cash,testando os limites de peso das cadeiras aodançar em cima de uma delas, e Amy, que ergue o celular para que sua mulher possa ver tudo pelo FaceTime, e Zahra e Shaan,se beijando agressivamente contra uma pilha gigante de placas
de LOPEZ/ HOLLERAN 2020.

O Hunter de Boston está erguendo outro membro da campanha nos ombros,Tayler e Nate levantam as cervejas em um brinde, uns cem funcionários e voluntários da campanha estão chorando e gritando, incrédulos e contentes.

Conseguimos.Conseguimos.

A Cometa de Lometa e um tão esperado Texas democrata.

A multidão me empurra de volta para o peito de Nick e,depois de absolutamente tudo,todos os e-mails, mensagens, meses na estrada,encontros secretos e noites de desejo,toda a história de se-apaixonar-sem-querer-pelo-seu-pior-inimigo-no-pior-momento-possível,conseguimos.
Eu disse que conseguiríamos — eu prometi.

Nick está com um sorriso tão largo e
brilhante que penso que meu coração vai rachar tentando abarcar toda a magnitude desse momento,a plenitude daquilo tudo, mil anos de história crescendo dentro de sua caixa torácica.

— Preciso te contar uma coisa — Nick diz, esbaforido, quando recuo. — Comprei uma
casa. No Brooklyn.

Meu queixo cai

— Não!

— Sim.

E, por uma fração de segundo, toda uma vida cristalina passa diante de meus olhos, um próximo mandato e mais nenhuma eleição para ganhar,um cronograma cheio de aulas e Nick sorrindo no travesseiro junto a mim sob a luz cinza de uma manhã do Brooklyn.

Isso cai dentro da lagoa em meu peito e se espalha me enchendo de esperança.
É bom que todos os outros já estejam
chorando.

— Certo, pessoal — diz a voz de Zahra mais alto que o pulsar do sangue, do amor, da
adrenalina e do barulho em seus ouvidos.

O rímel dela está escorrendo, seu batom manchado até o queixo. Ao meu lado, consigo ouvir minha mãe no celular com um dedo enfiado no ouvido,
recebendo a ligação de concessão de Richards.

— Discurso de vitória em quinze minutos. Em seus lugares, vamos!

Me pego sendo arrastado de lado através da multidão para um cantinho perto do palco,
atrás das cortinas,e então minha mãe está no palco,e Leo,e Mike e a esposa,e Addison e seus pais e Ondreaz e nossos pais.

Avanço atrás deles,acenando para o brilho branco do holofote,gritando uma confusão de línguas para o barulho.

Estou tão absorto pelo momento que demoro para perceber que Nick não está ao meu lado,e eu me vira e o vejo parado nas coxias, logo atrás das cortinas.

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