Consigo sentir o olhar de todos em mim quando passo pelos corredores e não era de se esperar menos, afinal, todos que estavam no estádio ouviram o Caio falar sobre quão irritante eu sou.
Débora me arrasta para o vestiário feminino.
"E aí", ouço a voz de Alice atrás de mim.
"E aí?", a encaro.
"Que foi?", ela se aproxima, "Por que você tá com o rosto inchado? Você tava chorando?", ela pergunta preocupada.
"Não, primeiro eu quero saber onde você estava", cruzo meus braços na altura do meu peito.
Ela desvia o olhar, "Eu tava... com o Samuel... Sua corrida é só daqui há meia hora.".
Nego com a cabeça, "Sua camisa tá amassada e você pulou um botão", digo séria, "É sério que em um dos dias mais importantes da minha vida você estava TRANSANDO com o meu irmão ao em vez de passar o dia comigo?"
"Qual é, Cat. Eu cheguei antes de começar a sua corrida", ela dá de ombros rindo.
"Sabe, pra alguém tão fofoqueira, as notícias estão demorando pra chegar em você", me sento em um banco para amarrar meus tênis, na intenção de ignorá-la.
"Eu... Vou deixar vocês sozinhas", Débora diz saindo do vestiário.
"Cat, o que rolou contigo?", Alice se senta ao meu lado.
"Tenho certeza que você consegue descobrir sozinha, Alice", levanto e saio do vestiário.
Quando estou me preparando para começar a corrida, tento focar toda minha raiva, mágoa e estresse nos meus pés.
•
Já se passou uma semana desde a estadual e já acumularam mais de 126 ligações perdidas do Caio. Tive que me segurar muito para não atender e xingá-lo ou perguntar 'De tantas garotas, por que eu?', mas eu já sei a resposta. Eu tinha que ser irmã do Samuel, né? A Alice nem tentou falar comigo, o que me faz pensar que se fosse para escolher entre mim e o Samuel, ela sempre escolheria ele.
Não tenho conseguido comer nem dormir muito bem, mas sinto que hoje vai ser um bom dia.
Hoje é o meu aniversário de 18 anos, finalmente a maioridade chegou, não que vá fazer muita diferença.
"Filha?", minha mãe entreabre a porta, colocando apenas seu pescoço para dentro, "Vamos levantar?"
"Acho que ninguém consegue me tirar daqui, mãe", murmuro ainda enrolada nas cobertas mesmo sendo 11 da manhã.
"Nem mesmo ele?", ela corre até minha cama e deposita um filhotinho ali em cima.
"Mãe?", quase grito espantada e tento pegar o cachorro, que morde a minha mão, "Porra!"
"Feliz aniversário!", ela diz empolgada.
"Mentira! Ele é meu?", pergunto ainda na luta para pegá-lo.
"Sim! Você tinha me pedido um a algum tempo, lembra?", ela se senta na beirada da minha cama.
"Se com 'Algum tempo' você quer dizer 7 anos atrás, então lembro"
"Convenhamos Catarina, eu tenho medo de você matar esse cachorro com 18 anos, imagina aos 10", coloco minha mão no peito como se estivesse ofendida e ao mesmo tempo, por ironia do destino, eu quase deixo o cachorro cair do meu colo.
Começamos a rir.
"Ele pode demorar um tempo para se acostumar com você, o nome dele é Peralta", a olho no mesmo instante e ela revira os olhos, "Sim, igual ao de Brooklyn 99, a antiga dona também gostava"
"Ô meu Deus, você é a coisa mais linda ou não é, Peralta?", falo com voz de bebê.
Minha mãe se levanta, "Você precisa sair desse quarto abafado, vai passear com ele", ela sugere saindo do quarto.
•
Não me dei o trabalho de trocar de roupa e saí de moletom, até porque estou animada demais por causa do Peralta. Ele com certeza foi o ponto alto da minha semana. Fora a estadual.
Já estou à umas 4 quadras da minha casa e um carro para do meu lado. Por instinto, dou um pulo para trás, mas era só o Samuel.
"Meu Deus, é assim que você chega em uma mulher na rua? Tá querendo que eu tenha um infarto?"
"A gente precisa conversar. Entra no carro", ele diz em um tom autoritário.
"Não", digo e continuo a andar com o Peralta.
"Entra logo no carro, Catarina", ele anda devagar com o carro do meu lado.
"Se você não percebeu, eu estou ocupada", aponto para o meu cachorrinho na coleira.
"Catarina, é sério. Eu vou começar a buzinar"
Reviro os olhos, "Não vai, não"
Ele começa a buzinar várias vezes em um barulho ensurdecedor e olho para os lados pra ter certeza que ninguém está saindo de sua casa para ver o que está acontecendo.
"Tá bom, tá bom", abro a porta do carro rapidamente, "Vamos para onde?".
"Minha mãe pediu para eu te levar ao mercado pra gente comprar algumas coisas pro Peralta", ele acelera o carro, "E a gente precisa conversar sobre a Alice".
"Nãaaaaao", levo as mãos na minha orelha, "Eu não vou cair na sua armadilha, pode parar o carro ou eu me jogo".
"É sério que você tá fazendo 18 anos?", ele pergunta com deboche.
"Você não é um exemplo de maturidade", falo fazendo carinho no Peralta.
"Cat, você não sai de casa desde as estaduais", ele muda de assunto e eu engulo em seco.
"Eu saí com vocês uma vez", digo baixinho.
Ele para no semáforo, "Você ganhou as estaduais batendo recorde da escola e só saiu para comemorar com a gente quando minha mãe fez chantagem emocional contigo", dou de ombros.
Ele respira fundo.
"Eu sei que você gosta muito dele...", Samuel diz baixinho.
Meu coração se aperta.
"A gente pode não falar sobre ele, por favor?", digo grossa.
"Não, Cat. A gente não pode!", franzo os cenhos olhando pra ele, "Ele é a razão de você estar mal ultimamente, nós dois sabemos disso. Eu não gosto dele, isso não é novidade, mas que ele te amava eu não tenho dúvidas e você deveria dar uma chance pra ele se explicar".
Engulo a bile subindo pela minha garganta.
"Alguma coisa está errada nessa história. Ele te amava muito para de repente falar aquelas coisas sobre você"
Ele te amava, ele te amava, ele te amava, ele te amava, ele te amava.
Vejo o mundo girar, "Para o carro."
"Não, Catarina, você não vai se jogar", ele diz.
"Para o carro!", repito gritando. Samuel me olha assustado e no momento que encosta o carro eu abro a porta e vomito tudo o que não tinha em meu estômago.
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GENTE!
100k de views em Someone
To You e eu só posso agrade-
cer a vocês! amo vcs piticos
e...como especial de 100k eu vou
fazer uma maratona depois
de amanhã! não vai ser tão
grande que nem a outra mas
vai ser especial igual!obrigada por tudo!
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Someone To You
Fiksi RemajaCatarina é uma adolescente de 17 anos que odeia adolescentes de 17 anos, e no 2° ano do ensino médio a única coisa que ela realmente quer é se formar e acabar com esse inferno. 01 de maio de 2020 - 16 de novembro de 2020. Revisada em 15 de maio de 2...