Capítulo 51

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maratona #4/1

Saio do treino e vou direto pra casa, Marcos disse que ia passar aqui pra me buscar aproximadamente 19 horas.

Coloco um jeans e uma regata e fico esperando ele do lado de fora de casa.

5 minutos depois ele estaciona seu carro em frente à minha casa e eu entro.

Estico pra dar um beijo em sua bochecha e ele rouba um selinho. O gesto é meio estranho mas prefiro não fazer nada, só recuo e prendo o cinto de segurança.

Ficamos o caminho inteiro em um silêncio constrangedor, diferente de quando estou com Caio que sempre temos algo pra conversar e quando estamos quietos é um silêncio confortante.

"Chegamos", ele diz estacionando em frente à um restaurante que nunca ouvi falar.

Ele fala seu nome para a recepcionista e logo estamos nos sentando em uma mesa, só então percebo que é um restaurante bem chique e fico me sentindo deslocada por ser a única vestindo jeans e tênis.

"Nossa, aqui é bem chique", falo pela primeira vez na noite, "Eu achei que a gente fosse sentar em uma calçada pra conversar, ou sei lá", rio.

"Que tipo de encontro é em uma calçada?", ele diz rindo e pega o cardápio.

Meu Deus, ele acha que isso é um encontro??? Tento relembrar minhas mensagens pra ver se dá a entender que era um encontro mas a única coisa que eu disse foi que precisávamos conversar.

Eu nunca nem fui à um encontro, não oficial pelo menos. Eu e Caio saíamos o tempo todo mas não que tenham sido ENCONTROS mesmo.

"Então, você disse que queria conversar", ele abaixa o cardápio.

"É... sim. Bem, eu achei que você merecia uma explicação já que eu saí correndo do nada"

"É, foi bem estranho", ele ri.

Será que ele não está percebendo o clima da conversa?

"Sim, então...", dou um gole na minha água, "A verdade é que...", começo mas somos interrompidos pelo garçom que pergunta se já escolhemos o pedido, peço para ele voltar mais tarde porque ainda não tinhamos escolhido mas Marcos fala que já escolheu e faz o pedido para nós dois.

"Você dizia...", ele me encara com um olhar sereno.

"Eu ia dizer que... Bem, eu ainda amo o Caio", digo logo e ele abre a boca surpreso, "Eu sei que fui eu que dei o primeiro beijo e tals mas foi porquê eu achei que estava preparada para conhecer pessoas novas mas acontece que eu não estava."

"Ah...", ele olha para seu prato vazio.

"Me desculpa, eu não queria perder seu tempo, muito menos te enrolar", digo e ele balança a cabeça positivamente.

"Eu só não entendo... Por que o Caio?", ele diz. Não parece estar me julgando, apenas confuso. "Tipo, de tanta gente no mundo, por que ele?"

"Bem, por que não ele?", devolvo a pergunta, igualmente confusa.

Ele se aproxima por cima da mesa.

"Qual é, Cat, nós dois sabemos que ele não é boa pessoa", ele fala baixo.

Sinto uma vontade enorme de defender o Caio mas não sei exatamente o que dizer, e até onde sei ele está certo. Além do mais, essa situação já está desconfortável o bastante para eu defender meu ex.

"Eu não escolho por quem eu me apaixono", digo.

"Desculpa, é só que... Ele não é bom o suficiente pra você. Fora que ele é um moleque, você não gostaria de estar com um homem de verdade?", ele diz confiante.

Não consigo segurar minha língua.

"E esse homem seria você?", ironizo sem querer.

"Ahn... Sim!", ele diz como se estivesse claríssimo.

Suspiro.

"Olha realmente me desculpa por tudo mas isso já está estranho demais", me levanto, "Tchau Marcos", digo em direção a saída do restaurante.

Ouço ele me chamar mas continuo caminhando sem exitar. Pergunto se Alice pode me buscar e ela não me responde, acabo pegando um Uber.

'Nós dois sabemos que ele não é uma boa pessoa.', o que ele quis dizer com isso? Será que eles TAMBÉM já tiveram briga? Será que tem mais alguma coisa que o Caio não tenha me contado?

Se nós vamos voltar, ele vai ter que me contar tudo porque não vou aguentar descobrir mais um segredo por outra pessoa. Porque eu estou considerando essa possibilidade, eu também não sei.

Quando chego em casa vou para o quarto da minha mãe pra me certificar que ela não precisa de nada, já que o hospital liberou ela pra ficar em casa desde que ficasse em total repouso.

Dou dois toques na porta e ela me manda entrar.

"Está precisando de alguma coisa?", pergunto me sentando na beira da cama.

"Pode me trazer o controle da TV? Já cansei dessas revistas", ela joga a revista no outro lado da cama.

Me levanto indo até a mesinha de canto e entrego o controle pra ela. Me sento novamente passando as mãos por minhas têmporas.

"Cansada?", ela pergunta.

"Algo do tipo..."

"Quer conversar?"

Normalmente, eu nunca contaria o caos que está acontecendo na minha vida para minha mãe, mas lembro que ela está totalmente dopada por causa dos remédios pós-cirurgia e amanhã não vai lembrar nada do que eu falar, então por que não?

"O Caio disse que me ama e que quer outra chance", digo olhando para minhas mãos em meu colo.

"Hm...", ela murmura, "E você também ama ele?"

"Sim... Mais do que eu gostaria de admitir", digo.

"Então por que vocês não estão juntos?"

"Sei lá... Eu não sei, tenho medo dele me magoar de novo..."

"Hun", ela faz um barulho com desdém, "É claro que ele vai te magoar de novo. E você também vai magoar ele, relacionamentos são assim, Catarina!", ela diz como se fosse óbvio.

"Mas e se ele mentir pra mim de novo?"

"Cat...", ela começa e dá um longo suspiro, "Quando eu conheci seu pai ele mentiu também, não foi nada parecido com o que aconteceu com vocês, mas ele mentiu e eu fiquei muito chateada. Até ele prometer nunca mais esconder nada de mim e foi difícil, mas eu confiei nele. E não tem como saber se ele vai mentir de novo, mas você não pode ficar com o peso na consciência de que o amava e deixou ele ir por falta de confiança", ela me conta de um jeito conselheiro como nunca vi antes, "Bem, eu confiei no seu pai e olha o que gerou. Você e o Samuel. E hoje não me restam dúvidas de que dar uma chance pra ele foi a melhor escolha da minha vida", ela diz com um sorriso e seus olhos brilhando.

Sorrio também mas me recordo de um detalhe.

"Mas... Vocês estão separados hoje em dia"

"Isso foi uma consequência do que aconteceu ao longo dos anos, mas não quer dizer que eu não ame seu pai. Eu sempre vou ter um carinho enorme por ele e ele por mim. Não é atoa que ele é meu contato de emergência", minha mãe diz de um jeito brincalhão como nunca tinha visto antes.

Dou um sorriso saindo do quarto e paro no meio da porta.

"Se eu soubesse que pra ativar o modo 'Mãe Compreensiva' era só você sofrer um acidente, eu já teria te batido com um bastão de beisebol há muito tempo", digo rindo e ela também ri mas tenho a impressão de que ela não realmente entendeu o que eu quis dizer.

1° dia da maratona
acabou, amanhã
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