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Christopher

Dulce ficou em silêncio durante todo o caminho. Olhava pela janela com uma expressão vazia, respirando fundo vez ou outra e esfregando seus dedos uns nos outros. Parecia abalada e nervosa, então achei melhor não fazer nenhuma pergunta, pelo menos até ela estar se sentindo melhor. Não podia negar que a curiosidade me consumia, mas esperaria até ela estar pronta.

Chegamos até o nosso prédio e enquanto ela tomava banho, eu esquentei o jantar que havia preparado mais cedo, que seria para nós dois, mas acabei guardando na geladeira. Como o encontro dela foi mais rápido que o normal, nós pudemos jantar juntos.

A observei girar o macarrão em seu garfo, olhando para a comida como se ela própria não estivesse ali. Desde que chegamos, falou tudo no automático, sem me olhar muito e sem falar sobre o porquê de estar sozinha e desesperada num bairro tão longe e tão chique.

— Você tem que comer. — falei quebrando o silêncio.

— Hum? — ergueu seus olhos na minha direção, como se estivesse distraída demais para ter me ouvido.

— Eu disse que você tem que comer.

— Eu sei. — pegou um punhado de macarrão e levou em direção à boca, mas parou antes de comer e voltou a baixar o garfo, fazendo uma careta. — Não sinto fome.

— Dulce...

— Eu sei o que está pensando. — suspirou e apoiou seu queixo em uma das mãos. — Não é medo de ficar gorda é que... eu vi muita coisa de embrulhar o estômago esta noite e toda vez que eu penso em comer, me vem aquelas imagens. — sacudiu o corpo como se tivesse um arrepio.

— O que você viu? — perguntei finalmente. — Deve ter sido muito sério, você estava bem abalada quando a encontrei.

— Ok... — engoliu em seco e recostou-se contra a cadeira. — Eu tive um encontro hoje, você deve imaginar. — ela disse sem olhar para mim.

— Sei... — tentei parecer neutro diante daquilo, mesmo sentindo tudo em mim ferver de irritação.

— Ele me levou a um clube de sadomasoquismo.

— O que? — a encarei sério. — Você...

— Não, eu não transei naquele lugar! Saí correndo de lá depois de assistir um dominador jogando com sua submissa. Foi...
o tipo de experiência que a gente não esquece. Depois eu te conto com detalhes, você vai ficar chocado.

— E onde conheceu o cara que te levou lá? Não percebeu que ele era esquisito?

— Não esquisito... — brincou com a comida em seu prato, sem olhar para o meu rosto. — Ele é rico, sabe? Essas pessoas sempre tem fetiches estranhos. Só tinha gente rica naquele lugar. — notei que ela fugiu da minha primeira pergunta sobre como se conheceram.

— E você pretende sair com ele de novo? — minha pergunta quase não saiu, devido ao tom baixo e a minha incapacidade de encara-la.

— O cara me leva a um clube de sadomasoquismo no primeiro encontro e você me pergunta se vou sair com ele de novo? — riu. Eu arquei a minha sobrancelha. — O que? Acha que eu gosto dessas coisas?

— Você adora apanhar.

— Christopher, você sabe o que é sadomasoquismo de verdade? Aquilo é violência de verdade.

— Eu estou brincando, bobinha. — sorri de lado.

— Eu gosto de ser meio submissa, gosto de ter você no controle, de levar umas palmadas, mas só isso. Nada muito sério, nada que me fira de verdade ou que me faça sentir humilhada. Aliás, eu não deixaria homem nenhum me humilhar, nem por fetiche. Isso não seria um prazer, seria o inferno. — falou convicta.

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