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Dulce

Nós chegamos até um restaurante bem aconchegante, com uma banda de música clássica tocando ao vivo e uma vista de toda a cidade. A mesa que Christian reservou ficava bem de frente para a paisagem.

— Isso vai sair caro. — falei.

— Pior que não. Eu sei ser bom e econômico. — piscou.

Começamos a folhear os cardápios e Christian fez uma piada ou outra sobre os estranhos nomes dos pratos. A gente estava tendo uma conversa descontraída, nada que envolvesse nós e a nossa conturbada família. Falamos apenas sobre a cidade e os lugares que ele estava visitando desde que se hospedou no hotel há dois dias.

— Por que se interessou pela fotografia? — fiquei curiosa.

— Hum, agora a entrevista de emprego começou. — fez graça, ajeitou sua jaqueta e sentou ereto na cadeira. — Eu tiro fotos desde o colégio. Tirei as fotos do anuário e sempre era chamado pra qualquer evento referente ao ensino médio. Sempre fui apaixonado por fotografia, eu acho. Não tem um momento exato em que eu acordei um dia e pensei "nossa eu quero ser fotógrafo". Isso é uma coisa que eu sempre quis.

— Fascinante! — sorri em aprovação.

— E você? Por que é modelo?

— Talvez a minha resposta seja um pouco mais complexa.

— Não é por causa da sua mãe? Confesso que achei que você queria seguir os passos dela.

— Não. — arqueei a sobrancelha. Parece que ele era leigo à real essência dos Saviñon's. Mas o quanto ele não sabia? — Como é sua relação com a minha mãe e a minha avó?

— É legal. Elas são maravilhosas. — sorriu. Senti meu sangue ferver um pouco. — Minha mãe não esteve muito de acordo em eu procurar o meu pai, mas no fim ela deixou nas minhas mãos. Foi lamentável descobrir que meu pai já faleceu, mas adorei ganhar uma tia e uma avó.

— Ok. — eu fiquei claramente desconfortável e ele percebeu.

— Qual o problema?

— Nenhum.

— Dulce, eu sei que há algo de errado. Tia Blanca me disse que você saiu de casa sem nem dizer adeus.

— Ela te disse o porquê?

— Algo sobre você ser "desencaixada". — fez aspas com os dedos.

— Claro. — soltei uma risada nasal e voltei a olhar o meu cardápio.

— Eu estive atrás da minha família porque quero conhecer vocês. Dulce... — segurou minha mão que estava sobre a mesa. — Me fale sobre você, sobre a nossa família.

— Christian, você não nos conhece nada bem se acha que minha mãe e nossa avó são uns amores. Pelo menos não foi assim comigo.

— O que aconteceu?

— Por enquanto, você apenas precisa saber que crescer na mesma casa que elas foi terrível e me despertou traumas que talvez eu nunca consiga superar. — ele ficou sério e assentiu devagar.

— E como era o meu pai? Ele também era terrível com você?

— Hum... — tossi algumas vezes.

— Não precisa responder. — olhou para baixo e agora seu rosto estava bem menos animado do que esteve em toda a noite. — Eu sinto muito por isso.

— Não precisa dizer isso, você não tem culpa. — sorri de leve. — Está tudo bem agora. Eu estou ótima! — ele sorriu fraco e nós voltamos a falar sobre seus interesses em fotografia.

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