Christopher
Meus próximos passos pareciam robóticos, como se eu estivesse agindo de acordo com um piloto automático que foi acionado em mim assim que recebi a pior notícia de toda a minha vida. Talvez a ficha não tivesse caído, por isso eu ainda me sentia tão aéreo.
O corpo da minha avó seria transferido para uma funerária na cidade. Toda a minha família parecia surgir de todos os cantos do país. Meu apartamento parecia cheio com a presença de minha mãe, meus tios e Katy. O clima não estava pesado, na verdade passamos a primeira noite relembrando todas as coisas boas vividas com a vovó Helen. Aquela conversa terminou com lágrimas de saudade.
O velório seria à noite. Receberíamos os conhecidos, amigos e demais parentes que estavam hospedados em um hotel e vieram apenas para uma última despedida.
Entrei no salão principal e observei minha família ir até o caixão aberto um a um. Eu não conseguia fazer aquilo. Travei no meio do caminho, dei meia volta e sentei em uma das cadeiras da recepção, tomando todo o ar que meus pulmões poderiam suportar.
— Christopher? — ouvi a voz de Katy, que parou ao meu lado e colocou sua mão sobre a minha. — Quer que eu te acompanhe? Ela parece estar dormindo, como um sono sereno e profundo. — era incrível que a minha priminha parecia lidar com a morte muito melhor do que eu.
— Eu só preciso de um tempo. — tentei sorrir. — Daqui a pouco eu irei vê-la. — ela assentiu, beijou minha bochecha e se afastou.
As pessoas iam e vinham, me cumprimentavam e diziam sentir muito, me olhavam com toda a pena possível e eu os agradecia, mesmo cansado de ouvir sempre a mesma coisa. Ninguém entendia o quanto eu estava sentindo com aquela perda. Minha avó era como uma mãe para mim.
Eu estava com a cabeça baixa quando vi alguém sentar ao meu lado. Quando notei cabelos vermelhos, eu levantei o olhar rapidamente e me desanimei ao notar que não era a Dulce e sim a Carla.
— Oi. — ela sorriu fraco.
— Oi.
— Eu soube o que aconteceu e quis vir te dar os pêsames. Sei como está se sentindo, mas essa dor logo se transformará em gratidão por ter tido na sua vida alguém tão especial. — era a primeira pessoa a falar algo diferente e que parecia mesmo vir do coração.
— Obrigado, Carla.
— Eu sei que esse não é o momento para isso, mas ainda acho que você me culpa pelo seu recente problema com a Dulce. Eu não fiz aquilo, Christopher. E eu jamais mentiria para você num momento tão delicado.
— Acredito em você. — fui sincero.
— Estou disposta a falar com a Dulce sobre isso, dizer que a Amanda forçou tudo. — olhou em volta. — Onde ela está?
— Ela não veio. — soltei um longo suspiro.
— Por causa do projeto?
— É... sim... — na verdade, eu não sabia se era mesmo isso. Ela nem ao menos ligou para mim, mesmo depois de Christian contar o que aconteceu. — Você não precisa explicar nada, mas eu agradeço mesmo assim.
— Ok. — ela assentiu. — Vou te deixar em paz agora. — Carla me abraçou de leve, depois levantou e foi até a mesa com os comes e bebes.
Meus amigos estavam afastados, já que eu lhes pedi para me deixarem sozinho aquela noite. Eles respeitaram isso e só se aproximavam para saber se eu havia mudado de ideia. Não, eu não iria mudar de ideia.
Continuei sentado naquela cadeira por horas, olhando o caixão de longe e tentando convencer a mim mesmo de que eu precisava levantar e ir olhá-la uma última vez.
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Fanfictionㅤㅤ❛ 𝐏𝐋𝐀𝐘 𝐃𝐀𝐓𝐄 ❪ 🌶 ❫ + 𝟭𝟴 ₊ sejam bem vindos / 2020! 📍Los Angeles, Califórnia ー Tentação era o sobrenome de Dulce Maria. Se tratando de uma mulher cheia de fogo, ela sabia bem onde procurar calor humano quando precisava satisfazer seus d...