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Christopher

Depois de me prenderem por todo o resto do dia, me deixaram sair quando o sol já estava se pondo, já que Thomas, por algum motivo, resolveu que não iria prestar queixa contra mim. O que ele pretendia com aquilo? Qual era o seu joguinho? Eu ficaria atento.

Tudo o que eu queria era chegar em casa, tirar os meus sapatos e tomar um banho longo e frio. Estava com as mesmas roupas desde de manhã e me sentia bem desconfortável com o suor que acumulei durante o dia.

Quando abri a porta do meu apartamento, vi que meus planos de relaxar em paz não seriam concretizados. Senti um cheiro de ensopado bem temperado, provavelmente ainda cozinhando. Fui até a cozinha e vi Dulce de costas, mexendo a panela, descalça, o cabelo preso num coque desalinhado e usando uma de minhas camisas que caía sobre seu short curto.

— Alfonso me disse que você ia sair e eu resolvi preparar o jantar. Deve estar muito cansado para isso. — falou sorrindo. Eu queria mandá-la embora, mas aquele maldito sorriso somado à essa gentileza me amoleceram.

— Eu vou tomar banho. — falei mantendo o rosto sério. Não queria dar o braço a torcer com ela.

Só para me certificar de que ela não me tentaria, deixei a porta do banheiro trancada. Enquanto a água caía sobre mim, pensei em tudo o que vinha acontecendo e principalmente no sermão que Alfonso me deu quando eu liguei para ele e avisei que estava preso.

"Ela não ama você. Pare de se arriscar por ela!"

Eu deveria mesmo parar. Deveria parar com tudo aquilo. Essa noite, eu trataria a Dulce com o máximo de neutralidade possível. Ainda não teria coragem de dizer que não quero mais transar com ela, mas acho que a minha indiferença vai ser o suficiente para fazê-la não avançar em mim. E mesmo se ela usasse o sexo para me persuadir, eu seria forte. Me sentia mais forte do que jamais fui.

Vesti uma calça de moletom e uma camiseta preta. Penteei meus cabelos para trás e retornei à cozinha, onde ela já estava servindo o ensopado em dois pratos à mesa. Sentei em uma das cadeiras e comecei a comer sem esperar que ela se sentasse também. Eu vi como ela me olhou séria quando eu fiz isso.

— Se sente bem? — perguntou, sentando na cadeira ao meu lado.

— Sim. — respondi sem olhá-la.

— Eu sei que ainda está bravo comigo, mas eu não quero que as coisas continuem assim. Não sei mais o que dizer ou fazer para que me perdoe. — pousou sua mão sobre minha perna e eu arfei involuntariamente. — Eu sinto muito.

— Não sinta. Eu já disse, você faz o que quiser. — dei de ombros.

— Então, tudo bem entre nós?

— Sim.

— Mesmo?

— Sim.

— E por que você não olha pra mim? — parei de comer por um instante e levantei meu olhar para o rosto dela.

— Estou olhando.

Ficamos nos encarando e eu notei algo nela que nunca havia visto antes. Seus olhos estavam marejados, a pele abaixo deles avermelhada como se ela tivesse esfregado demais. Ela me observava com um peso que eu nunca senti vir dela antes e sua expressão era quase dolorosa, não de uma dor física, mas uma dor sentimental. Dulce estava aparentemente preocupada e triste.

— Você comeu hoje? — perguntei.

— Sim.

— De verdade?

— Eu comi o café da manhã que fez para mim e almocei também. Comi um lanche à tarde, só uma salada de frutas. Eu te falei que tentaria melhorar.

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