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Dulce

Eu e Christopher estávamos deitados no chão de frente à lareira acesa. Tínhamos acabado de transar pela terceira vez naquela noite e ficamos abraçados debaixo do cobertor. Ele dormiu rapidamente e eu fiquei dedilhando seu braço que estava sobre mim. Apesar do clima frio, eu me sentia confortável.

Comecei a pensar em como ele havia desabafado sobre o seu pai comigo mais cedo. Sempre achei que ele fosse um livro aberto para mim, mas eu estava errada. Assim como eu, Christopher também tinha os seus pesos. Creio que todo mundo tenha algo ruim para carregar, por mais diferentes que suas dores sejam. Errei em pensar que estava sozinha, eu nunca estive sozinha.

Devagar, eu me desvencilhei de seu abraço e levantei, começando a ir até o quarto. Peguei meu celular e abri a agenda no número da minha mãe, que salvei assim que cheguei na fazenda. Depois que Christopher me contou sobre seus problemas, eu pensei se meu primo Christian também não teria os dele. Certamente ficar desempregado seria uma grande dor de cabeça.

Apertei no verde e coloquei o celular contra a minha orelha, sentindo minhas mãos começarem a suar e meu coração bater mais rápido do que estava há um minuto atrás. Vai ser rápido e eu iria deixar claro que aquilo não era por ela.

Alô? — sua voz estava sonolenta.

— É a Dulce.

Você não dorme? Que horas são?

Não vou me desculpar por ter te acordado. Apenas escute, ok? — ela ficou quieta, me dando espaço para continuar. — Primeiro quero deixar bem claro que isso não é por você. Eu quero dar uma chance ao Christian porque sei que posso fazer algo e ficar de braços cruzados não é uma opção. Não vou prometer nada, eu quero conhecê-lo primeiro, saber se ele é uma boa pessoa.

Apenas boas pessoas merecem uma renda mensal? — eu podia ouvir a ironia na sua voz.

— O emprego que tenho em mente para ele o manteria perto de mim durante grande parte do tempo e eu definitivamente não quero ter alguém tóxico na minha vida. Já tive experiências demais.

Hum... ok. Eu vou dar o seu número para o Christian e ele te liga amanhã.

Diga para ele me ligar daqui a uma semana, eu não estou na cidade.

Tudo bem... uh... obrigada. — talvez sua primeira palavra gentil para mim e mesmo assim, isso me irritou. Eu a conhecia e isso era totalmente forçado.

Não me agradeça. Já disse que isso não é por você. — desliguei sem esperar nenhuma resposta da parte dela.

Retornei para a sala e observei Christopher dormir. Ele parecia calmo, tinha um sorriso de canto quase imperceptível. Talvez ele estivesse sonhando. Sentei ao seu lado e acariciei seu rosto com as pontas dos meus dedos, dedilhei cada centímetro de sua pele até chegar em seus lábios. Sentia como se borboletas voassem em meu estômago apenas por observá-lo e por um momento, eu senti medo.

Me senti sozinha todos os dias desde que saí da casa da minha mãe e nunca esperei que alguém ficasse comigo, que fizesse parte de forma significativa e que me despertasse o medo em perder alguém. Eu sei que tinha milhares de defeitos, um desvio de caráter que nunca fiz questão de esconder e que a maioria das pessoas que me conhecia me via com maus olhos. Seria fácil que ele parasse de confiar em mim, qualquer deslize meu causaria isso.

Meus olhos marejaram e eu chorei em silêncio enquanto o observava. A insegurança pesava em mim da forma mais dolorosa possível.

Ele começou a abrir os olhos e eu enxuguei meu rosto o mais rápido que pude para que ele não me visse abalada assim. Christopher esfregou seu rosto e me olhou com a testa franzida.

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