●❯──────── ✦ ────────❮●DANIEL NARRANDO:
Aquilo não podia ser verdade. Eu não conseguia acreditar em nada do que aquele policial dizia. Eu supunha que aquilo era um trote, uma brincadeira de mau gosto. E Pela primeira vez em minha vida, eu desejava que aquilo fosse somente algum adolescente desocupado que decidiu me ligar e inventar algo doloroso. Porém, algo dentro de mim me dizia que não. Não era um trote ou muito menos uma mentira na qual eu desejava desesperadamente acreditar. Aquilo era verdade.
Sem nem me importar com o que vestia, peguei a chave do carro em cima da mesa, e despreocupado com as leis de trânsito comecei a dirigir desesperadamente. Minhas mãos tremiam ao volante, ma fina camada de suor umidecia minha testa, e meu coração saltava dentro do peito. Eu estava desesperado. E eu não acreditaria naquilo em quanto não visse com os meus próprios olhos.
Parei o meu carro à beira da estrada. Eu não me importei se ali fosse um lugar onde se podia estacionar. Aquilo era uma emergencia que não podia esperar. As pressas, eu desci do meu carro, e em passos largos caminhei em direção casa no final da rua. A casa estava isolada por faixa amarelas usadas no isolamento de cenas de crime. Sirenes polícias iluminavam as ruas, uma maca medica era carregada para dentro da casa por peritos.
Então é verdade, pensei em voz alta.
Apressei os meus passos, me aproximando cada vez mais daquela zona de caos. Examinei as palavras escritas na faixa amarela: " Não ultrapasse". E então levantei as faichas e ultrapassei o perímetro. Quando entrei na casa, me deparei com um cena traumatizante. O corpo de Carlos estava estirado no chão. Seus olhos foscos e arregalados, seus lábios roxos e entre abertos, sua pele fria e pálida exalavam a morte. Mesmo não estando próximo, eu percebia que, o rosto dele estava desfigurado e ensanguentado. Cautelosamente, eu me aproximei daquele corpo sem vida, mas antes que estivesse perto o suficiente para melhor examinar a cena, uma mão forte tocou meu ombro e disse:
-- Senhor, você não pode ficar aqui. Isto é uma cena de crime, pedimos educadamente que saía.
O policial me encarou por um tempo na espera de uma resposta. Ele colocou a mão no coldre de couro onde estava a sua arma, e novamente disse:
-- Senhor?
-- Eu sei. É só que eu era muito próximo à vítima. Éramos melhores amigos. Eu gostaria de saber como ele morreu -- disse, a voz fraca e trêmula. Eu estava me controlando, segurando todas as lágrimas que queriam escorregar pelo meu rosto.
-- Eu sinto muito -- disse ele, um pouco constrangido, e então acrescentou: -- Olha, eu não devia te contar isso, mas se eu estivesse no seu lugar gostaria que alguém fizesse isso por mim. -- Ele olhou em volta, se certificando de que ninguém nos ouvia. -- A causa da morte foram três tiros. Um no peito e dois no Basso. Entretanto, está claro que ele foi espancado antes. Quem encontrou o corpo foi a empregada, ela chegou logo cedo para limpar e o encontrou assim. Ainda não temos nenhum suspeito. O corpo será enviado para familia assim que sair do necrotério.
-- Muito obrigado! Eu realmente não sei como agradecer por tudo que você fez -- agradeci, olhando para o corpo mais uma vez.
-- Agora o senhor precisa ir. Eu realmente sinto muito.
Acenei com a cabeça, e depois de agradecer mais uma vez, fui para casa.***
O luto era uma planta venenosa e espinhenta que crescia dentro do meu peito. Um câncer que me adoecia de dentro para fora, e me fazia questionar o sentido da vida. Quando uma pessoa nasce e cresce, ela entende uma coisa; ela descobre algo que é inevitável: um dia todos nós morreremos e deixaremos de existir. Viraremos pó e de nós não restarão nada, a não ser lembranças. Ter essa certeza era assustador.
Eu estava em casa, sentado em frente ao balcão da cozinha. Eu tinha uma xícara quente de café amargo nas mãos. Desde o momento que eu vi o corpo, e nos instantes seguintes, eu tentava me acalmar. Mesmo sabendo de todos os seus erros e de todo mal que ele poderia ter feito, eu ainda o amava como um irmão. Ele sempre me ajudava quando eu precisava, ele sempre me apoiava, e agora ele estava morto. E não existia nada que eu podesse fazer, a não ser, aceitar sua morte. Aceitar que eu jamais o veria de novo, e que, ali acabava sua jornada.
Rafael entrou na cozinha vestido apenas uma calça de moletom cinza. Ele colocou um copo sobre o balcão, abriu a geladeira e pegou uma garrafa de água. Enquanto Rafael enchia o copo com água, notei que os nós do seus dedos estavam vermelhos e ralados. Mas não eram qualquer ralado, eram ematomas de uma briga. No início achei estranho Rafael ter se envolvido em uma briga com alguém. Ele não era assim, talvez eu fosse, mas não ele. Rafael era totalmente contra a violência, e se ele precisou usá-la, algo realmente preocupante aconteceu.
-- O que aconteceu com suas mãos? Você brigou com alguém? -- perguntei, largando a xícara vazia sobre o balcão.
-- Ham? Ah, não foi nada -- disse ele, tentando parecer sincero. -- Vitória e eu saímos ontem para um piquinique, na volta o pneu furou e acabou que quando fui colocar o estepe eu machuquei meus dedos. Mas não se preocupe, não foi nada.
-- Você estava com Vitória ontem?
-- Sim. Nós fomos ao Healdsburg Plaza e fizemos um piquinique. Passamos a tarde toda juntos.
-- Vocês... estão juntos?
-- Digamos que sim. Nós estamos nos conhecendo. -- Seus lábios se arquearam em um pequeno sorriso de lado, enquanto meu coração se quebrava em centenas de pedaços. -- Você está estranho, o que aconteceu? Eu te conheço Daniel. Nós estamos juntos desde criança, e eu sei quando você não está bem.
-- Carlos está morto. Seu corpo foi encontrado hoje em sua casa, a empregada que achou.
Rafael engoliu em seco, seu corpo ficou tenso. Nenhum músculo do seu rosto se mechia, e eu não conseguia decifrar sua expressão. Ele parecia perdido em seus pensamentos, como se aquilo complicava de alguma forma sua vida.
-- Como ele morreu? -- indagou ele.
-- Ele foi assasinado. O assasino deu um tiro no peito e dois no Basso, mas antes ele foi espancado.
-- Entendi. E Eles já tem algum suspeito? Alguma pista ou algo relacionado? -- perguntou ele, se concentrando nos meus lábios e no que eu responderia. A preocupação em sua voz era notável.
-- Não, eles ainda não encontraram nenhuma pista -- respondi, decepcionado.
-- Ei! -- exclamou ele, saindo de trás do balcão e caminhando em minha direção. -- Não fica assim, eles logo descobrirão alguma coisa -- completou ele, me passando segurança e consolo com um abraço. Depois de alguns segundos, Rafael afastou nossos corpos e disse:
-- Daniel, eu sei o que aconteceu com Vitória. Eu sei o que vocês fizeram com ela. Eu sei que talvez não seja o momento certo para te dizer isso, mas achei que você devia saber. Eu me recusava a acreditar nisso, até ter certeza. Eu realmente não esperava isso de você Daniel. Vitória é uma pessoa tão boa, ela definitivamente não merecia isso. Eu estou muito triste, não só por ela, mas também por saber que o meu irmão, a pessoa que eu defendia com unhas e garras, fez isso à uma pessoa. Eu não quero discutir ou brigar com você agora, não quando você perdeu um dos seus melhores amigos. Porém, eu estou decepcionado, e se nossos pais estivessem vivos, eles também estariam. -- Dito isso, Rafael saiu da cozinha, subiu as escadas e foi para o seu quarto.
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Vingança Sangrenta
Mystery / ThrillerA corretora Vitória Gomes vivia sendo atormentada por lembranças de um passado terrível, e não importava o que fazia ou para onde ia, ela sempre voltava para aquela casa, naquela noite. Mudar de identidade e cidade não foi suficiente para fazer co...