XXXVI - Suspeitas

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VITÓRIA NARRANDO:

Acordei sonolenta e cansada. A noite passada, diferente do resto do dia, tinha sido um desastre. Não era para Rafael ter descoberto o meu passado daquela maneira, mas eu acabei explodindo e revelando o que não devia. Fazia dias que eu queria contar a verdade para ele, mas eu nunca sabia como e quando. E naquele curto momento de raiva e descontrole, eu acabei perdendo o controle. Rafael ficou furioso, como eu já imagina que ele ficaria. Porém, eu não esperava que ele fosse atrás de Carlos, eu não imaginava que ele podia querer me vingar daquela maneira. E no fundo, eu estava feliz pela atitude dele, pois eu achava que pelo menos naquilo ele  se parecia comigo. Todos nós temos um lado sombrio dentro do nosso ser, e naquele momento eu pude ver o lado obscuro de Rafael -- pude ver sua raiva, seu ciúmes e seu descontrole --, vi que assim como eu, ele podia odiar e buscar vingança.

Coloquei a chaleira no fogo, e enquanto a água não fervia, liguei a televisão. Não importava quantos canais de TV eu pulasse, em todos eles haviam telejornais falando sobre os crimes que haviam acontecido na noite anterior. Comecei a improvisar um sanduíche, mas de repente algo chamou minha atenção.
-- O empresário Carlos Alves foi encontrado hoje morto em sua casa -- falou um dos jornalistas.  A notícia ecoou pela minha cabeça.
Eu larguei a faca e os pães sobre a pia, e me aproximei da TV, tentando entender melhor a notícia.
-- Ainda não se sabe quem o matou. Os detetives responsáveis pelo caso afirma que tem alguns suspeitos, mas nada conquetro. Ele morreu com três tiros, um no peito e dois no Basso. Porém antes de ser assassinado ele foi espacando -- continuou o outro.
Senti uma culpa crescer em meu peito. Eu pensava que, talvez eu tivesse uma parcela de culpa em sua morte. Eu fiz com que seus últimos meses fossem um verdadeiro inferno, e depois de descobrir como ele morreu, me senti culpada. Eu queria  que ele pagasse pelo que me fez, mas não daquela maneira.

Surpresa e sem reação, eu retirei a chaleira do fogo, e fui tomar banho. A água quente caía sobre o meu corpo, levando toda a tensão e culpa.  Durante o banho, um pensamento amedrotonso soou em minha mente, trazendo todos aqueles sentimentos de culpa e arrependimento  de volta: Será que Rafael tem algo a ver com a morte de Carlos? pensei, e esse simples pensamento deixou meu corpo tenso. Algo dentro de mim fazia com que eu sentisse medo de que aquilo fosse verdade. Porém, algo também dizia que não, que Rafael jamais seria capaz de fazer aquilo. Saí do banho enrolada em uma toalha, fui até o closet no canto do quarto, peguei um vestido vermelho-vinho que se estendia até os meus joelhos, com uma fenda nas costas que ia até o córtex e o vesti. Fiz um coque no alto da cabeça, calcei um salto-alto e fui para empresa.

A porta da empresa estava infestada de repórteres e jornalistas. Eles eram como um bando de abutres que desesperadamente procuravam uma carcaça. De dentro do veículo, eu ouvia as batidas nas janelas do carro, as vozes curiosas e interrogativas, as perguntas extremamentes desconfortaveis e pessoais, e,  as súplicas por uma resposta. Entrando no estacionamento, ignorei completamente todos. Eu não queria e nem iria dar uma entrevista ou fazer algum declaramento. Saí furtivamente de dentro do meu carro, e entrei no elevador. Enquanto estava dentro daquela caixa de metal, por um breve segundo de tempo, eu pensei que talvez fosse bom Carlos ter  morrido. Eu não sabia o porquê, mas eu sentia que Carlos tinha sido o causador de toda a dor e sofrimento presente  na minha vida e na de muitas outras pessoas. E ele morrer, talvez significasse o fim de todo aquele ciclo de ódio e dor.  Porém, aquilo não era eu falando, e sim o ódio e a vingança.   

As portas do elevador se abriram, revelando uma áurea de tristeza e hipocresia que pairava sobre os funcionários. Por que eles estavam tristes? Carlos nem conhecia todos eles. Carlos não se importava com o que acontecia com eles, ele não dava a mínima para a lutas e obstáculos que eles enfrentavam todos os dias. Ele só se importava com o dinheiro e as coisas que eles poderiam lhe oferecer. Carlos não merecia toda aquela dor e sofrimento, ele merecia o esquecimento, somente isso e mais nada. Sinceramente, eu não entendia como aquelas pessoas conseguiam ser tão hipócritas. Quando Carlos estava vivo, elas o julgava, o chamava de pior chefe do mundo, diziam que o odiava, e odiava trabalhar para ele. Mas depois que ele morreu, elas afirmavam com lágrimas falsas: "Ele era tão jovem." "Ele não merecia isso." " Foi tão bom trabalhar para ele." Naquele ambiente continha tanta falsidade que, era impossível de se estar ali.

Antes de entrar na minha sala, eu passei por Sarah que enchugava os olhos com um lenço. Pensei que talvez seu luto fosse verdadeiro, afinal, ela era secretária dele,  o que fazia com que eles fossem próximos. Mas na verdade, suas lágrimas eram tão falsas como a de qualquer um outro funcionário. Mais tarde eu descobri que ela o odiava, que ela não suportava trabalhar para ele, e que ela permaneceu na empresa todos esses anos apenas porque não conseguiu um emprego melhor.
-- Sarah, assim que Rafael chegar peça a ele para que venha à minha sala, por favor -- disse, e ela apenas fez que sim com a cabeça.

***

-- Bom dia! -- exclamou Rafael, enquanto entrava em minha sala. --  Sarah me disse que você me chamou em sua sala, há algo de errado?
-- Sim, eu te chamei porque eu preciso conversar com você. Você ficou sabendo sobre a morte de Carlos?
-- Sim, eu fiquei sabendo hoje pela manhã. Por quê? -- indagou ele, sentando-se na cadeira em minha frente.
-- Eu sei que você foi na casa de Carlos ontem à  noite. Você mesmo me disse que iria até lá. -- Rafael ficou calado, e eu enterpretei o seu silêncio como um sim. -- Eu preciso perguntar: foi você quem o matou?
-- Não! Eu jamais faria isso. Vitória você me conhece, sabe que eu não sou assim. Você precisa acreditar em mim. Eu não matei o Carlos!
-- Eu acredito em você! Eu sei que você jamais faria algo assim, mas eu precisava ter certeza. -- peguei  sua mão que estava sobre a mesa e olhei em seus olhos. -- Você não pode contar isso à  ninguém. Ninguém pode saber que você estava na casa de Carlos na noite em que ele morreu, nem mesmo Daniel pode saber. Você  me entendeu?
-- Sim. Ninguém irá saber -- disse ele, exibindo um sorriso sem dentes.
-- Ótimo. Eu irei dar um jeito de te tirar dessa situação. Eu não irei deixar que nada de ruim te aconteça.
-- Obrigado, eu não sei como te agradecer.
-- Não deixe que te acusem por algo que você não cometeu e já será suficiente. -- Os olhos de Rafael brilharam. -- Agora você precisa ir. Não podemos deixar que suspeite de nada.
-- Ok. -- Ele se levantou, e saiu da minha sala.
Eu por outro lado continuei sentada em minha cadeira, onde eu tentei durante horas prestar atenção em alguns do relatórios que eu devia ler. Porém,  uma única pergunta martelava em minha cabeça: Quem matou Carlos?

Vingança SangrentaOnde histórias criam vida. Descubra agora