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Como todo fim da tarde, vou até a casa de Hazelle com o jantar. Chegando no local vejo Gale em frente, sentado em um pedaço de madeira caído, ele parece estar tenso, com as mãos trêmulas e a intensa repetição de ajeitar o cabelo.

- Gale - me aproximo - você está bem?

- Podemos conversar?

- Claro, só vou deixar o jantar com a sua mãe.

- Não se preocupe, eu entrego para ela - pega a caça de minhas mãos e adentra a pequena residência.

Por que ele está agindo dessa forma?

- Vamos - Fecha a porta e se posiciona ao meu lado.

- Vamos aonde?

- Para a floresta - Apenas concordo, sem questionamentos.

O caminho até a floresta foi silencioso, tirando o barulho das botas de Gale se arrastando na neve que derrete a todo momento.

- Pare - fico imóvel.

- O que foi? - pergunta atônito.

- Já estamos caminhando faz tempo, está escurecendo e não sei aonde você quer chegar.

Ele suspira e baixa o olhar.

- Queria te levar até a casa no lago do seu pai - observa a paisagem - mas você tem razão, vai ficar tarde demais para voltarmos.

- Gale, você está estranho...o que há?

Ele fita o meu olhar e ajeita a postura.

- Eu vi como você ficou ontem - fico sem entender - quando minha mãe falou sobre o casamento.

Fecho os olhos e contraio os lábios, já sabendo que esse assunto vai me desgastar.

- Nós conversamos tanto e conhecemos tão bem um ao outro, mas não tenho ideia dos sentimentos que há em você.

- Gale, não... - soa como um pedido para ele parar.

- Katniss, você não pode fugir das coisas para sempre! Por favor, me diga o que sente.

- Não sei o que dizer - sinto uma pressão.

- Ao menos alguma coisa, preciso saber...Eu amo você.

Essas três palavras me impactam e demoro para responder

- Sei disso - me esquivo - mas sabe que não posso ter essa conversa, não quero.

- Então se eu pedi-la em casamento, o que acontece?

Não respondo. Ele percebe a minha confusão, se aproxima, segura meu rosto com precisão e sela nossos lábios. Aconteceu tudo tão rápido.

É estranho beija-lo, já tinha imaginado coisas assim, mas não tinha noção de como seria no mundo real. Retribuo o máximo que consigo. Ao mesmo tempo que não quero me casar, não vejo a minha vida sem ele por perto.

Suas pontas dos dedos geladas roçam a minha bochecha, os lábios quentes nunca estiveram tão próximos e consigo sentir sua respiração abafada

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Suas pontas dos dedos geladas roçam a minha bochecha, os lábios quentes nunca estiveram tão próximos e consigo sentir sua respiração abafada. Nossos rostos se afastam e aos poucos abrimos os olhos. Demora para nos encararmos, mas finalmente conseguimos.

- Diga alguma coisa, qualquer coisa - sussurra em um tom de socorro.

Aperto a mão que ainda segura o meu rosto e suspiro.

- Me deixe pensar. 

- Certo - se afasta - tudo bem...

A volta foi ainda mais sufocante. Durante o jantar, mal trocamos olhares, era mais fácil interagir com qualquer um que estava na mesa. Passo a maior parte da refeição com a cabeça apoiada sobre um braço pensando no que aconteceu. Colocamos as crianças para dormir e fomos ajudar Hazelle com a louça. Gale lavou os pratos e eu fiquei com a função de secar.

Enquanto termino a tarefa, ele fica me aguardando na frente de casa, no mesmo toco de madeira. O observo pela janela, vendo-o manusear um pequeno objeto em suas mãos. Uma aliança. Com certeza é uma daquelas que são passadas pelas pessoas da família. Finjo não nota-ló e vou para a rua.

- Posso deixar você em casa? - guarda a aliança no bolso antes que eu possa vê-la.

- Claro.

Há poucas pessoas na estrada a essa hora, as ruas estão apagadas e as casas prestes a perder a iluminação também. Dou passos lentos para não ficar cansada e demoramos um pouco mais que o habitual para chegar.

- Boa noite Gale - abro a porta de casa.

- Me desculpe por mais cedo, não quis te assustar.

Fico o encarando por um tempo até decidir correr até seus braços e os contrair sob os meus. O abraço acaba significando um breve adeus à ele, querendo ou não, há a possibilidade de eu não voltar.

- Tome cuidado na volta - viro sem lhe dar a chance de dizer algo e fecho a porta

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- Tome cuidado na volta - viro sem lhe dar a chance de dizer algo e fecho a porta.

Respiro fundo e vou preparar meu banho. A água demora para aquecer e enquanto isso leio o livro de receitas, tentando manter minha cabeça ocupada. Não quero pensar em Gale e nem na possibilidade de falhar e não encontrar o garoto que todas as noites penetra em meu sonho. Ao que a água fica pronta, me limpo por inteira, pensando que esse vai ser um último bom banho nos próximos dias.

Visto a melhor roupa que encontro, e pego uma que tenha uma boa proteção. Guardo as moedas na mochila e pego um pacote de frutas secas que colhi dias atras. Espero a costura apagar por completo e saio de casa, deixando um único bilhete em cima da mesa endereçado à Gale e Hazelle.

O frio já não me incomoda mais, está desaparecendo aos poucos e não encontro mais gelo nas encostas. Escolho o caminho atrás das casas e distante das ruas, com anos de caçada aprendi a me mover sem fazer barulho, uma dádiva para tal situação que estou.
No que vou me distanciando da costura e aproximando do centro do distrito, perto da praça do edifício da justiça, começo a ter mais cuidado e me manter em alerta total. Ando pelas sombras, onde ninguém parece me notar. Através de uma carroça, os pacificadores se direcionam a estação de trem com caixas cheias de carvões, agora transformados. Apresso meus passos para os acompanhar e fico bem cansada, ainda mais por estar carregando essa mochila e ter o arco em minhas mãos. Tomo ainda mais cuidado ao me aproximar da estação de trem.
Os vagões estão sendo abastecidos e aguardo a primeira oportunidade que eu possa ter para me infiltrar. Através da pouca iluminação do local, consigo ver o pacificador chefe Cray conferindo as quantias.

- Soldado Darius, pode me ajudar a conferir os outros vagões?

- É claro.

Eles partem para os vagões da frente, acompanhados dos outros pacificadores. É agora.
Com passos minuciosos, me movo pelas sombras até alcançar a claridade da estação. Corro da forma mais ágil e sem fazer barulho que consigo. Estou a pouquíssimos metros de alcançá-lo, quando sinto alguém puxando meu corpo para trás.

Soulmates- Katniss e Peeta.Onde histórias criam vida. Descubra agora