Ao sair do prego vou direto para a casa de Hazelle.- Katniss! - ela larga a enorme bacia de roupas sujas e me abraça, mesmo sabendo que não sou muito de abraços.
- Estive na floresta hoje de manhã, trouxe o jantar.
- Oh - se emociona.
- Onde estão as crianças?
- Na sala - toca o meu braço.
Encontro Rory, Vicky e Posy brincando com botões.
- Você chegou - Posy pula em meu colo e a envolvo com meus braços.
- Estão brindando de botões? - sorriem animados.
- Quer brincar com a gente? - pergunta o pequeno Rory.
- Adoraria - nesse exato momento a porta é aberta e o moreno entra na pequena casa.
- Gale - sussurro.- Olá Catnip - curvo meus lábios.
Ele está cheio de fuligem das minas, anda trabalhando em tempo integral desde que completou 18 anos e passou a administrar minérios de carvão.
- Olá filho, já aqueci a água para o seu banho.
- E eu comprei uma escova nova - digo lhe entregando.
- Parece que hoje o carvão vai se dar mal - damos uma risadinha.
Cuido das crianças enquanto Hazelle prepara o coelho. Sentamos à mesa e comemos ele junto de queijo de cabra que Gale negociou com o vendedor das cabritas.
- Essa nova presidenta não está ajudando em nada - Gale rosna - seguimos nos acabando em nossos trabalhos para receber uma lata de óleo e trigo, como se isso fosse alimentar uma família.
- Não se preocupe querido, sabemos que você faz o bastante.
Apenas observo os dois sem dar uma palavra. As crianças contam sobre o dia na escola e como aprenderam sobre as utilidades do carvão. O assunto estava leve, até Hazelle tocar em uma ferida, sem querer.
- Seu aniversário está chegando Katniss - fala animada - tenho certeza que vai ficar contente com o presente deste ano.
- Que presente? - fico confusa.
- Uma casa! Após completar 18 anos você poderá se casar com Gale, logo irão juntos até o edifício da justiça, assinarão alguns papéis e ganharão uma casa novinha! - bate palmas - claro que, tentaremos fazer uma pequena comemoração, mas o importante é o novo lar.
Gale percebe que fico desconfortável com esse assunto.
- Mãe, não precisa falar sobre essas coisas, Katniss e eu sabemos conversar.
- Foi apenas um lembrete.
- Já está na hora de eu ir - levanto da mesa - Como sempre, obrigada pelo jantar.
Eles tentam insistir para que eu fique, mas a última coisa que eu quero é ficar ouvindo sobre casamento. Sou grata a Hazelle por ela ter se tornado minha guardiã e ter cuidado de mim nestes anos, porém não gosto quando esses assuntos vem a tona.
Não tenho ideia dos sentimentos que tenho por Gale, o conheço ha tanto tempo que nem sei dizer. Porém, a ideia de nos casarmos e possivelmente ter uma família juntos, é algo assustador.
Passo por mais uma noite sozinha em minha casa, enrolada no ralo cobertor o qual me sinto protegida. Estava dormindo bem, até sonhar novamente. O mesmo sonho.
Vi tudo da mesma forma de sempre. Meus pais, Primrose, as cabras, a padaria, o fogo e por fim, o garoto. Acordo sobressalta, entretanto, dessa vez não é por medo. No sonho dessa noite, o portador dos olhos azuis e cabelo loiro estava usando um uniforme, revestido por vestes com o símbolo do distrito 2.
- Você é do distrito 2 - sussurro para mim mesma.
Passo a noite em claro pensando, todos esses anos tentei tirar esse garoto de minhas lembranças mas não consegui. E agora, pela primeira vez, tenho uma pista de onde ele está.
Vou encontrar você.
Agora mais do que nunca vou usar isso para fugir do distrito. Não posso me casar com Gale desse jeito, preciso passar um tempo fora. Mas como irei até o 2? Até onde sei, a localização é bem próxima da Capital, que fica bem longe daqui. Com essa grande massa de pacificadores chegando é impossível pegar uma simples carroça e sair por aí, além disso, vou demorar muito tempo para chegar dessa forma, e provavelmente morra por alguma doença no caminho. Não, não vou desistir de encontrá-lo, nunca havia chegado tão perto. Coloco minhas botas e saio em direção ao prego.
Quando chego, vejo que ainda há pacificadores que viraram a noite e se embebedaram com aguardente aqui.
- Bom dia Katniss - debocha Darius, um dos pacificadores.
Pelo cheiro vindo de sua boca, que emite um sorriso traiçoeiro, tenho certeza de que está bebado.
- Uma última rodada para ele, Greasy - finjo sorrir, mas na verdade só tenho desgosto.
- Não, não...já passei dos meus limites.
- Vai me deixar aqui conversando sozinha? - ele me encara, olha para o copo de aguardente em sua frente e da uma risadinha.
- Tudo bem, vamos conversar.
- Ótimo - curvo os lábios - sabe, eu estava me perguntando, de onde você veio mesmo?
- Do distrito 2.
Perfeito.
- Mesmo? E como é lá? Trabalham com o que?
- Bem, no princípio você é pacificador ou trabalha com alvenaria, sendo pedreiro, ferreiro, entre outros. Claro, há trabalhos informais como artesãos, confeiteiros e costureiros, mas nada que de muito dinheiro para sobreviver.
- E é muito longe daqui?
- Sim, em média dois dias de viagem de trem. Em outros meios, nem sei quanto demoraria - rimos juntos. Estou fingindo bem, pelo menos pareço engana-lo e ele está sendo um idiota respondendo.
- Fica perto da Capital? Você já foi lá? - Greasy me encara perdida, tentando entender o porquê de eu estar perguntando essas coisas.
- É perto da Capital sim, mas nunca estive lá, só vi fotos.
- Sobre as nossas cargas de minérios de carvão, elas vão direto para a Capital?
- Ah sim, mas o sistema mudou agora com a Coin.
- Você faz um ótimo trabalho Darius - debocho da cara dele, que se sente orgulhoso.
- Obrigada Katniss. Sabe, você pode visitar o meu dormitório sempre que quiser...
Fico enojada e saio imediatamente daquele lugar, decidida de que essa noite irei escondida em um vagão de trem de carga até a Capital e seguirei andando pela floresta até o distrito 2.
Chegando na pequena casa da minha família, arrumo uma mochila com água, algumas ervas medicinais, o livro de receitas e plantas da minha mãe e a única foto que tenho que todos nós quando Prim nasceu. Vou até a floresta e encontro minhas arapucas cheias de esquilos e doninhas. Pego o meu arco e retorno para casa. O deixo junto da mochila e então vou limpar os animais, tirando os pelos e a pele. Antes de ir à casa de Hazelle, passo na residência do pacificador chefe Cray.
- O que você quer em troca dos esquilos?
- Dinheiro - ele estranha, pois sempre os troco por algum material.
- Não está precisando de nada?
- Não - respondo seca, encarando seus olhos curvados e exaustos.
- Muito bem - tira moedas do bolso - aqui está.
- É muito pouco - observo a quantia que ele colocou em minha mão.
- Pegue ou devolva - rosno antes de me afastar e guardo-as em minha jaqueta.
Odeio ser feita de idiota, mas é melhor ter alguma coisa antes do que nada.
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Soulmates- Katniss e Peeta.
RomanceDurante todas as noites, Katniss Everdeen sonha com o mesmo garoto. O estranho, é que ele é um completo desconhecido ao seus olhos. Ela tenta seguir com sua vida e procura esquece-lo, mas a lembrança que possui dele não some. Então, decide achar ess...