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Acordo cedo, meu arco ainda está bem posto em minhas mãos, me remexo sob o sofá e pego minha mochila. Abro a porta lentamente, sem fazer barulho, e vou me esquivando até a saída.

- Acordou cedo - Twill bebe algo de sua xícara.

- Sim, ficou bem claro que eu ficaria apenas essa noite.

- Competente - arqueia as sobrancelhas - gosto de você.

Não sei bem o que responder.

- Obrigada, pela comida e o sofá - Twill sorri.

- Boa sorte com a sua jornada.

Aceno com a cabeça e saio do estabelecimento. O dia está nublado, as nuvens se juntam em perfeita harmonia e o vento leva minha trança. Os únicos cidadãos que estão na rua a essa hora são os trabalhadores, meus passos apressados se juntam com os deles e meus olhos correm pelo distrito. As lojas e estabelecimentos começam a abrir e meus olhos correm por todas, se não possuem vidros ou vitrines e não enxergo o interior, adentro o local e procuro pelo loiro.

                                        ***

E assim passei uma semana inteira, intensa e cheia de procura. Dormi na rua, em encostos, atrás de locais desconhecidos, embaixo de árvores e em bancos. O pouco dinheiro que trouxe não está dando conta da minha alimentação, estou a cada dia me sentindo fraca e o guardando para uma grande emergência.

Já estou no arredores do distrito, as lojas estão acabando e os estabelecimentos estão fechando conforme o sol se vai. A chuva que cai reflete um lindo arco-íris, porém minha visão vai ficando turva, borrada e opaca. Meu arco ameaça resbalar de minhas mãos, a mochila só segue em minhas costas pelos meus braços e as botas parecem não segurar mais o peso de meus pés. Cambaleio até uma árvore grande, as poças em que piso sujam minha calça e capa, agarro o tronco e os cascalhos arranham a palma de minha mão. Deslizo até o chão e fico encharcada de água, meu arco já não está tão fixo como antes e sinto meu corpo desnutrido implorar por uma fonte de energia, um mísero pedaço de comida, que não tenho. Meus olhos estão fechando, estou me entregando totalmente, não consigo mais me manter erguida, estou sem forças para levantar e minha mente começa a girar e girar.

Passos pesados se aproximam de mim e pisam nas diversas poças de água que me rodeiam.

- Você está bem? - a voz sai como um sussurro em meus ouvidos, mas aposto que está sendo reproduzida normalmente, meu tímpano que já deve ter se esgotado.

- Deixa eu ajudar você - uma mão me toca e esse contato se torna mínimo para abrir meus olhos e encontrar os azuis

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- Deixa eu ajudar você - uma mão me toca e esse contato se torna mínimo para abrir meus olhos e encontrar os azuis.

- É você - sussurro - encontrei.

Tiro os cabelos loiros molhados de seu rosto para observá-lo melhor

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Tiro os cabelos loiros molhados de seu rosto para observá-lo melhor.

- Venha, vai ficar resfriada se ficar aqui - se oferece como apoio e me ajuda a levantar

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- Venha, vai ficar resfriada se ficar aqui - se oferece como apoio e me ajuda a levantar.

- Quer que eu segure o seu arco?

- Não precisa - resbalo e ele me encara - Tudo bem.

Atravessamos a rua juntos, me deparo com uma padaria com a placa "fechado" e ele me leva até a rua de trás do estabelecimento.

De relance vejo um pequeno chalé, com uma entradinha de pedras e porta de madeira. O loiro abre a porta e revela um lar aconchegante, com uma parede de madeira dividindo a cozinha e sala do quarto. O cheiro de pão e aroma de perfumes de flores invade meu nariz e me fazem inalar.

- Acho que aqui você vai ficar bem - se refere ao sofá - espere só um pouco - corre pelo chalé e volta com um cobertor quente.

Enrola o cobertor sob meu corpo e oferece uma toalha para secar meu cabelo.

- Vou acender o fogo - a lareira solta faíscas e chamas, o calor irradia e entra em contato com meu corpo. Agradeço por isso.

O garoto vai até o fogão, coloca uma água para aquecer e logo surge com pão, bolinhos e chá.

Ao colocar o pão em minha boca, ele derrete lentamente e aprecio o gosto delicioso. Sinto minhas energias voltarem com esse pequeno pedaço, termino de come-lo e bebo um pouco do chá.

- Gostaria de oferecer mais, mas não fiz muita coisa para mim na padaria hoje - sorri.

Agora o observo melhor, a blusa branca suja de farinha, a calça cinza amarrotada, os sapatos sujos de lama e o avental pendurado no ombro.

- Qual o seu nome? - se senta ao meu lado, ainda distante.

- Katniss - minha voz sai fraca, porém melhor.

- Katniss...Katniss Everdeen? - pergunta, desacreditado.

- Sim - fico confusa - como sabe?

- Eu...ham... - passa a mão entre seus fios loiros e os penteia - isso pode soar estranho, mas todas as noites eu sonho com você, na verdade com o seu nome.

Não é possível.

- o sonho retrata o dia em que a padaria da minha família pegou fogo, nos morávamos no distrito 12 e eu tinha ido comprar as ameixas secas para colocar no topo de um bolo, quando voltei... - baixa a cabeça e aperta suas mãos - quando voltei estava tudo em chamas. A última coisa que me lembro é de gritar por um nome, gritar pelo seu nome, Katniss Everdeen. No sonho, eu vou correndo até o escuro, procurando por algo, procurando por você, mas no final sempre acordo e não a vejo.

Fico alguns segundos observando suas mãos ligeiras, o rosto tenso e o cabelo bagunçado.

- Eu também tenho o mesmo sonho todas as noites - me olha, se sentindo compreendido - acontece no dia do meu aniversário, meus pais e minha irmã estavam comigo, fomos até a padaria para comprar o bolo que meu pai prometeu que me daria, pois eu sempre ficava o observando pela vitrine. Eles entram na padaria e eu fico na frente brincando com pequenas cabritinhas...quando percebo, eles já haviam se ido - suspiro - Por fim, você aparece. Vejo o seu rosto e seus olhos azuis...é assim que o sonho sempre acaba.

- Então você também perdeu sua família naquele mesmo dia, no mesmo instante? - concordo com a cabeça - eu sinto muito.

- E eu sinto por você - encaro seu rosto chateado - e como é o seu nome? Nunca apareceu no meu sonho.

- Eu me chamo Peeta Mellark.

Soulmates- Katniss e Peeta.Onde histórias criam vida. Descubra agora