Piquenique

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O dia havia amanhecido sem muitas nuvens no céu, apesar do vento um tanto gelado, o sol teimava em expor alguns raios solares deixando o céu mais brilhoso. Olhar o céu me lembrava os olhos azuis de Brittany, em como eu voava dentro deles e também mergulhava em toda sua profundidade, o conforto que isso me causava, me fazia ter uma sensação que nunca havia sentido, a sensação de sentir paz, como se aquele par de olhos pudessem silenciar qualquer caos que existisse dentro de mim.
Peguei o violão de seu suporte e me sentei na cadeira, jogando as pernas em cima da mesa aonde estava o computador, afastando tudo para me acomodar melhor, posicionando o mesmo em meu colo, dedilhando suas cordas e afinando quando se fez necessário.
Minha mente ainda vagava nos olhos de Brittany e em como aquilo me entorpecia de saudades. Fechei os olhos e lembrei de cada parte de seu corpo no meu, em como meu sorriso era largo quando ela sorria para mim e piscava um dos olhos divertida, tinha também seus dedos nos meus, aquele carinho silencioso mas com tanto calor e sentimento, sentimento de estar gravando minhas digitais em sua pele e seus gestos em mim. A paixão tem desses devaneios, te deixa sufocada de tanta felicidade, sorrindo como uma criança quando ganha um presente e tudo parece feliz, o mundo sequer importa, nenhuma maldade pode invadir a bolha da paixão que te cerca.
O conto de fadas perfeito, os defeitos das princesas não são vistos nem de longe, por mais que habitem em cada uma, ninguém os enxerga que estão ali.
Continuei dedilhando as cordas do violão, cantando em quase um sussurro.

 
🎶 Loving can hurt
Loving can hurt sometimes
But it's the only thing that I know
When it gets hard
You know, it can get hard sometimes
It is the only thing that makes us feel alive
We keep this love in a photograph
We made these memories for ourselves
Where our eyes are never closing
Our hearts were never broken
And time's forever frozen still
So, you can keep me
Inside the pocket of your ripped jeans
Holding me close until our eyes meet
And you won't ever be alone
Wait for me to come home. 🎶
 

Aquela melodia foi interrompida bruscamente com o som do toque de meu celular, mas o nome que brilhava nele ao invés de me deixar mal humorada, me fez sorrir. BRITTANY.

- Oi

- Oi, princesa - ela sabia exatamente como me deixar tímida, eu amava quando me chamava assim, tudo em mim amolecia e eu me sentia escorregando da cadeira -bom dia! Tem planos para algo agora ? Tenho uma proposta para te fazer.

 
Eu amava a maneira como Brittany era direta e não tinha rodeios para falar, mesmo que isso me deixasse na maioria das vezes sem palavras. Pensei por alguns segundos, realmente não havia planejado nada, apenas terminar uma lição ou outra, coisa que eu poderia empurrar para o domingo tranquilamente.

 
- Não, não tenho nada. Qual proposta, Britt? - arqueei uma das sobrancelhas tentando imaginar no que ela poderia propor, já que durante a semana, nenhum sinal sobre qualquer proposta para o final de semana foi dita, nem que fosse por entrelinhas. Ouvi sua risada no fundo, ela com certeza sabia como minha feição facial estava e se divertia com isso.

- Ótimo princesa. Então, daqui a uma hora eu estarei passando aí na sua casa para te buscar, iremos fazer um passeio bem tranquilo. Aceita ?
 

Meus olhos arregalaram quase saindo de órbita, e meu corpo estremeceu como se tivesse recebido uma descarga elétrica. Como assim só uma hora para eu me arrumar e sair com ela ?!, eu demoro bem mais do que isso, precisa ser planejado.
Minha voz falhava sempre que eu tentava abrir a boca inutilmente para concordar, engoli seco as últimas palavras daquela ligação.

 
- Seu silêncio me diz que você concorda, daqui a pouco estarei aí. Beijos Sant.

 
Voltei a realidade pulando da cadeira quase deixando o violão cair no chão, que lástima seria se isso acontecesse, meu apego por ele é imenso. Voei até meu guarda roupa, pensamentos a mil invadiam meu cérebro fazendo tudo girar - droga, não tenho nenhuma roupa que preste - nenhuma combinação parecia servir e ficar bonito o suficiente para encarar aqueles olhos azuis. Droga, droga, droga, por que me surpreendeu assim Brittany? - a frustração de não achar nada interessante começou a invadir aquele pequeno espaço, e eu provavelmente já havia perdido longos minutos só passando cabide por cabide sem gostar de nada. A garota loira deveria achar divertido me ver perdida assim, era tão simples pra ela se arrumar, estava sempre linda, cheirosa, simples e estonteante, as vezes, nem maquiagem tinha sobre a pele branca, apenas máscara para os cílios e seu gloss de cereja, com um gosto muito bom por sinal, deixando os lábios um pouco mais avermelhado. Já eu, era o oposto, demorava horas para me arrumar, principalmente por se tratar de ser um encontro com ela.

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