Anatomia do Amor

Família

Os dias e semanas correram, assim como alguns meses que voaram. Tudo estava em perfeita sintonia, até agora.

- Santana... finalmente atendeu minha ligação. Esqueceu de sua mãe? - a voz grave de Maria Lopez soou do outro lado da linha.

- Olá mãe, não me esqueci. - Santana se jogava na cama quase caindo em cima de Snixx, que saiu resmungando para o chão. Sabia que aquela ligação não terminaria bem.

- Você não responde minhas mensagens, meus e-mails, minhas ligações, nem seus irmãos você responde. Qual é o teu problema Santana ?

- Nenhum, só tenho estudado demais.

- Estudado? Você está jogando fora seu tempo.

- Foi para isso que me ligou ? Para ofender minhas escolhas mais uma vez, Maria.

- Sou sua mãe, Santana, sou eu e seu pai que pagamos suas despesas, enquanto você o desperdiça.

- Você ajudou meus irmãos até depois de se formarem e nunca jogou na cara deles nenhum centavo que gastou. - a voz de Santana começava a soar embargada, seus olhos se enchiam d'água.

- Eles se formaram em Direito. DIREITO - Maria alterou-se - e não Medicina. Nada contra os médicos, mas é uma sem vergonhice sem fim dentro dos hospitais. Foi por isso que escolheu esse curso ?

- Como é que é ? - questionou incrédula

- Você é uma sem vergonha, Santana, uma sem vergonha. Está desperdiçando tempo e meu dinheiro.

- Quer saber ? Eu não preciso ficar ouvindo isso, sinceramente, chega. Algo mais para me dizer antes de eu desligar ?

- Só mais uma coisa: irei custear apenas os gastos da faculdade, devido a promessa que fiz a todos vocês, independente de você estar jogando meu dinheiro fora. Porém, seus gastos pessoais, não conte mais comigo. Ouviu Santana?

- Adios

A cabeça de Santana rodava com as palavras ditas a pouco por sua mãe, foi bombardeada de uma só vez e se encontrou perdida em meio aquele caos. Precisava arrumar um emprego o mais rápido possível, porém não tinha nenhuma experiência, nunca se quer fez um currículo na vida. Puta merda, estava encrencada, perdida a tantos devaneios que quase não escutou o toque de seu celular, soando pela segunda vez naquele dia.

- Oi, Britt - tentou inutilmente se recompor, para continuar o diálogo com sua Britt.

- Sant, está tudo bem ? Aconteceu algo ? - Britt conhecia exatamente todos os tons de Santana e sabia que aquele tom usado por ela, estava um tanto triste.

- Está sim, tudo bem, corazón. - fungou, segurando o choro preso na garganta.

- Estou indo até sua casa. - desligando a ligação, sem dar tempo a outra de responder qualquer coisa. Sabia que sua paixão estava triste, e isso doeu seu coração, precisava saber o que tinha acontecido.

Santana continuou jogada na cama, ainda de pijama e o cabelo em um coque frouxo, os olhos fechados e as lágrimas escorrendo pela lateral de sua face. Nunca pensou que seus pais fossem ser tão duros com ela, coisa que nunca foram com os irmãos e olha que eles passaram com notas medianas, nem se comparava as delas, todas muito acima da média. O interfone do apartamento tocou, fazendo-a abrir os olhos e escorregar o corpo para fora da cama, se arrastando para abrir a porta.
Quando Brittany apareceu pela fresta da porta e fitou uma Santana encolhida no sofá, sentiu o coração apertado, nunca quis tanto proteger uma pessoa como queria proteger Santana. Sentou ao seu lado e esticou seus braços, a embalando em um abraço apertado, sentindo o cheiro do cabelo da outra e a aninhando ali em seu colo.
Ficaram por longos minutos assim, até Santana decidir contar tudo o que havia acontecido. Família, dinheiro, emprego, tudo uma droga só.