Porque te condenas a ti mesmo naquilo em que julgas a outro.

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Tiffany sabia muito bem como funcionavam as coisas quando Irene e Yeri passavam um tempo na sala do seu apartamento. Era sempre do mesmo jeito. Gastavam metade do tempo implicando uma com a outra por coisas fúteis e a outra metade era composta por risadas histéricas ou pedidos de socorro de Yeri durante os surtos afetivos da Bae. A Kim sempre gritava algo como "estou com medo" quando era esmagada por abraços ou por apertos em suas bochechas. Não só porque era cringe, mas porque Irene também não sabia medir força.

Quando Jennie estava junto, a dinâmica não era muito diferente. Irene e Yeri continuavam se matando, se mijando de rir e Yeri seguia sendo atacada, mas a Kim mais velha parecia trazer um pouquinho mais de ordem e mediação às vizinhas. Era, de fato, mais pacífico quando Jennie estava junto. As visitas da colega de sala só eram menos frequentes, então, na maioria das vezes, Tiffany tinha que assumir o papel da amiga das garotas quando as coisas começavam a sair de controle.

Agora, com Seulgi, era a primeira vez que Tiffany presenciava. Acabara de descobrir que a situação conseguia ficar ainda mais caótica quando era a Kang quem se juntava a Irene e Yeri. Isso porque estava na área de serviço, tirando da máquina as roupas para pendurá-las, em pleno dia de folga, e dali ouvia perfeitamente os gritos que vinham da sala enquanto as três mais jovens jogavam. O barulho só não a irritava porque era bom ver a filha agir como uma adolescente normal – podia continuar a chamando de adolescente até que idade? –de vez em quando. Um pouco reclamona, mas uma adolescente normal, no fim das contas. Na verdade, era engraçado, e Tiffany se matava de rir sozinha ao ouvir a revolta de sua cria.

- Mas que coisa, toda hora eu tenho que explicar alguma coisa pra vocês!

E enquanto a Bae passava a mão pela cabeça, irritada, Seulgi se encolhia no lugar. Desejava mentalmente não ter aberto a boca para fazer pergunta nenhuma. Yeri, bem, Yeri cagava e andava para as possessões demoníacas de Irene. Estavam as três sentadas ao redor da mesa de centro, onde um tabuleiro evidenciava a jogatina que ali ocorria. Tinha música tocando na TV, mas não que alguém prestasse muita atenção no que quer que fosse, àquela altura.

- Vocês uma ova, a Seulgi. – Yeri apontou para a garota ao seu lado direito, que logo abriu a boca para se defender.

- É que, sei lá, podiam fazer uma versão cem porcento brasileira do Banco Imobiliário. Com financiamento da caixa e tal, eu sempre esqueço o que é esses lances de hipoteca. – A Kang argumentou, coçando a cabeça ao olhar para a carta em sua mão.

- Eu expliquei o que era assim que a gente começou. – Foi a forma de Irene chamá-la de burra. Foi a sensação que Seulgi teve ao encarar a Bae, à sua direita, pelo menos. – Se quiser a gente pode jogar, sei lá, jogo da velha, jokenpô...

- E ela ia perder do mesmo jeito! – E, por algum motivo, aquilo foi engraçado demais para Yeri. O suficiente para a Kim abraçar a própria barriga e se jogar para trás, quase dando com a cabeça no rack atrás de si.

- Ela tem mais dinheiro que você, porém. – Irene falou e, se Yeri parou de rir na mesma hora, foi a vez da Kang dar risada e apontar para a cara da caçula, que não parecia nada feliz. Só que a felicidade de Seulgi também não durou muito, já que Irene cutucou sua perna por baixo da mesa, antes de estender a mesma mão em sua direção. – Agora passa o dinheiro.

- Quanto eu tenho que pagar? – Seulgi perguntou, piscando, totalmente perdida. Exausta, Irene respirou fundo e se levantou o suficiente para pegar o dinheiro da Kang, sem nem pedir permissão, mas Seulgi também não protestou. E se Irene pedia paciência à Deus, para terminar aquele jogo sem cometer um assassinato, Yeri, outra vez, viu muita graça no jeito que Seulgi tinha o seu patrimônio confiscado.

- Isso aí, conta pra ela, a Seulgi é café com leite. – A Kim completou, ainda rindo da cara da Kang, que ainda não via a mesma graça que a caçula via naquilo. – Se pá joga por ela, também!

Livrai-nos do mal, amém!Onde histórias criam vida. Descubra agora